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Imigração suíça completa 150 anos no Espírito Santo

Inauguração da placa comemorativa dos 150 anos da imigração suíça. swissinfo.ch

No último sábado (02/12) o município de Rio Novo do Sul, no sul do Estado, foi palco das comemorações dos 150 anos dos suíços no Espírito Santo.

O evento foi organizado pela Associação Rio-novense de Imigração Suíça (ARIS), pela prefeitura do município e contou com a participação do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo que esteve presente na cidade com a unidade móvel do projeto Imigrantes Espírito Santo.

Logo pela manhã, as ruas da cidade foram movimentadas pelas crianças, que, vestidas em trajes típicos, lembravam os primeiros colonizadores suíços no Estado.

Às 10 horas centenas de descendentes, em meio à população local e ao som da Lira 23 de Dezembro, se concentraram na praça central, em frente à igreja matriz, onde foram hasteadas as bandeiras do Brasil e da Suíça, com a execução dos respectivos hinos nacionais, e inaugurada uma placa comemorativa em homenagem às primeiras famílias.

Rio-novenses de longe

O clima de confraternização contagiou os participantes. O evento também serviu de reencontro de parentes que há muito tempo não se viam. Além dos rio-novenses havia também a presença de descendentes dos primeiros suíços que hoje moram bem longe dali: no Rio de Janeiro e até mesmo em Rondônia.

A aposentada Maria Albertina Hammerly, 79 anos, presente no evento, neta de imigrantes, relembrou com emoção os seus antepassados: “os imigrantes suíços sempre valorizaram a união das famílias e deixaram este exemplo a todos nós”.

Ela afirma ainda que é de fundamental importância transmitir as origens e a história aos mais jovens, para valorizar as famílias. Seguindo o exemplo, a jovem Juliana Tessari Rohr, 22 anos, destaca a importância de se resgatar as origens e a cultura suíça:

“A população de Rio Novo está aprendendo a valorizar as tradições suíças e a preservar a sua memória. E a comemoração dos 150 anos da colonização é um exemplo disso”, afirma.

Interesse pela própria história

Esse interesse pela história dos antepassados logo foi verificado quando a equipe do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo iniciou o atendimento com o escritório móvel Arquivo Itinerante.

Dezenas de pessoas formaram uma fila ao lado do veículo para localizar o registro de entrada dos seus antepassados nas listas do Projeto Imigrantes Espírito Santo e receber o documento impresso contendo dados de seus familiares.

Eram os Scherrer, Scheidegger, Rohr, Wettler, Kobi, Hammerly, Dürr entre outras famílias suíças e descendentes de imigrantes de outras nacionalidades. Em cinco horas de atendimento ao público foram impressos 203 Registros de Entrada de Imigrante.

De acordo com um dos organizadores do evento, Sinésio Rohr, 52 anos, antigamente não havia orgulho em divulgar as origens da comunidade, mas hoje a população reverteu essa situação. “Houve uma mobilização e as pessoas começaram a se interessar pela colonização suíça no município, por prazer e curiosidade, e por isso hoje comemoramos os 150 anos”, destaca.

Às 18 horas tiveram início os festejos no ginásio de esportes Régis dos Santos Volpato, onde centenas de familiares, juntamente com a população local e diversas autoridades, assistiram as apresentações culturais com danças típicas, bandas de música e um coral formado pelos descendentes dos suíços de Rio Novo do Sul. Ao mesmo tempo eram servidos doces, queijos e pratos da culinária suíça. Um dia para ficar na recordação dos rio-novenses para muitas gerações.

Dos Alpes suíços à Colônia de Rio Novo

Atraídos por um farto material de propaganda, distribuído na Europa pelo fundador da Colônia de Rio Novo, Caetano Dias da Silva, um grupo de 12 famílias, no total de 91 pessoas, procedentes de diversos cantões da Confederação Helvética (Suíça),

Elas embarcaram em Hamburgo em 24 de outubro de 1856 e, a bordo do navio Franziska, cruzaram o Atlântico com destino às terras do Novo Mundo.

O sonho de melhores dias para seus filhos estava na generosa promessa em um país tropical, onde pudessem obter seu sustento de suas próprias plantações, criações, enfim, daquilo que pudessem produzir e vender, conforme descrevia o planfleto de Caetano.

O navio seguiu direto para o porto do Rio de Janeiro, a capital do Império, primeira escala dos imigrantes no Brasil antes de seguirem para o seu destino final.

Em 21 de dezembro, a bordo de uma embarcação costeira, os suíços finalmente chegam ao porto de Itapemirim, de onde subiriam o rio homônimo até alcançarem o ponto de acesso da sede da Associação Colonial do Rio Novo, onde seriam recebidos pelo major Caetano e destinados aos prometidos lotes coloniais.

A realidade era muito mais difícil

É certo que já nos primeiros contatos com o Novo Mundo e com o agravante de uma longa e fastidiosa viagem, os suíços já puderam se certificar sobre a dura realidade que enfrentariam em terras capixabas.

Não havia ordem na colônia e os serviços públicos eram inexistentes. Ali já trabalhavam cerca de 60 chineses, colonos alemães, portugueses e franceses além de uma centena de escravos.

Com a chegada dos suíços e, nos anos seguintes, dos holandeses e dos belgas, a colônia logo se transformaria em uma Torre de Babel e isso que fez com que alguns historiadores a classificassem como “a mais louca do Brasil Imperial”.

Todavia, um agravante ainda maior seria herdado pelos novos habitantes: grande parte dos lotes coloniais estavam demarcados em terrenos palustres, o que propiciava a proliferação de mosquitos que transmitiam a febre amarela, entre outras doenças típicas daquele ambiente úmido e quente. Famílias inteiras eram dizimadas por esse mal.

E foi diante desse novo e não prometido desafio que os novos colonizadores foram expostos, incluindo-se os primeiros suíços do Espírito Santo.

Apesar de todas as dificuldades eles prosperaram e hoje são milhares de descendentes entre os capixabas, principalmente nos municípios de Rio Novo do Sul, Iconha, Cachoeiro de Itapemirim, Guaçuí, Muniz Freire, Iuna, Alegre, Domingos Martins, Santa Leopoldina, Santa Teresa além da região metropolitana de Vitória, de onde se espalharam para vários estados do Brasil.

swissinfo, Cilmar Franceschetto e Stephenson Groberio, Rio Novo do Sul

Cantões suíços que mais contribuíram com imigrantes para o Espírito Santo: Aargau, Zurich, St-Gall, Glarus, Bern, Fribourg, Graubünden e Schaffausen.

Lista dos imigrantes suíços que chegaram ao Espírito Santo em 21 de dezembro de 1856. (Fonte: APEES – Projeto Imigrantes Espírito Santo)

FISCHER Carl 41 Chefe
FISCHER Agatha 33 Esposa
FISCHER Johanna 7 Filha
FISCHER Marie Louise 5 Filha
FISCHER Rud Bertrand 6 Filho
FISCHER Emma 3 Filha
BOENI Bonhi 46 Cunhada
BOENI Francisco Xavier 16 Sobrinho
BOENI Frederike 14 Sobrinha
BOENI Friedrich 13 Sobrinho
BOENI Rosa 11 Sobrinha
HOFFMANN Johann 44 Chefe
HOFFMANN Margaretha 43 Esposa
HOFFMANN Anne 18 Filha
HOFFMANN Jacob 17 Filho
HOFFMANN Johann 16 Filho
HOFFMANN Marie 14 Filha
HOFFMANN Bertha 11 Filha
HOFFMANN Heinrich 9 Filho
HOFFMANN Verena 7 Filha
JAPPERT Joseph 58 Chefe
JAPPERT Helene 57 Esposa
JAPPERT Etienne 29 Filho
JAPPERT Catterine 26 Filha
JAPPERT Joseph 24 Filho
JAPPERT Caroline 22 Filha
JAPPERT Ignace 31 Filho
JAPPERT Maddalene 35 Nora
OESGER Rimigius 58 Cunhado
KOBI Christian 58 Chefe
KOBI Marie 56 Esposa
KOBI Benedet 20 Filho
KOBI Jacob 17 Filho
KOBI Nicolau 14 Filho
LÄBER Joseph 51 Chefe
MULLER Johanna 39 Esposa
LÄBER Marie Verena 19 Filha
LÄBER Joseph 17 Filho
LÄBER Johann Baptiste 15 Filho
LÄBER Anton 13 Filho
LÄBER Johanna 9 Filha
LÄBER Elisabetha 6 Filha
LÄBER Caroline 3 Filha
OBRIST Georg 60 Chefe
OBRIST Anne Marie 60 Esposa
OBRIST Johann 30 Filho

O núcleo urbano que originou a sede de Rio Novo do Sul nasceu a partir da primeira colônia particular do Espírito Santo. Foi em 1854 que o major Caetano Dias da Silva fundou a Associação Colonial do Rio Novo, obtendo do governo concessão para explorar terras devolutas naquela região. Em 7 de outubro de 1861 o governo comprava da associação a colônia. Em 6 de março de 1880 Rio Novo passou a constituir um dos distritos de Paz do município de Itapemirim; em 14 de abril de 1883 foi elevado a freguesia de Santo Antônio de Rio Novo, e, finalmente, em 23 de novembro de 1893, pela Lei nº 30, tornou-se sede de município, com território desmembrado de Itapemirim. A instalação se deu em 6 de janeiro de 1894. (Fonte: governo do Espírito Santo)

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