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Impasse nas negociações em Cancún

Os altermondialistas festejaram o insucesso do encontro da OMC em Cancún. Keystone

A conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio em Cancún, México, terminou em fracasso.

Joseph Deiss, ministro suíço da Economia, duvida que o ciclo de negociações iniciado em Doha possa ser concluído, como previsto, até o final de 2004.

A 5a Conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) terminou no domingo sem nenhum resultado concreto. Países ricos e pobres foram incapazes de resolver suas diferenças e encontrar um ponto-comum acima dos interesses nacionais.

Essa é a segunda vez, em cinco anos, que os 160 países membros da OMC interrompem suas negociações.

Em 1999 em Seattle, nos Estados Unidos, o encontro foi acompanhado por violentos protestos de rua e também coroado pelo fracasso, ficando vários países divididos por profundas divergências.

Os assuntos do dia em Singapura

Contrariamente aos temores levantados no início da conferência, não foram as divergências nos setores da agricultura que originaram a ruptura no encontro, mas sim temas mais obscuros como os investimentos internacionais, a concorrência, a simplificação da burocracia nas fronteiras ou a transparência nos mercados públicos.

Se a Europa desejava a abertura de negociações sobre esses temas chamados de “Singapura”, assim como o Japão e numa menor escala também os Estados Unidos, países em desenvolvimento como o Brasil, Índia e Malásia firmaram sua posição contrária.

Joseph Deiss se mostra otimista

O ministro suíço da Economia, Joseph Deiss, lamentou que o ciclo de negociações comerciais multilaterais, lançada há dois anos em Doha (capital do Catar), não avance.

Deiss, que chefiava a delegação suíça, duvida que o ciclo de negociações possa ser concluído, como previsto, até o final de 2004. Ele relativizou sua decepção sublinhando a dimensão construtiva das discussões e os contatos positivos realizados em Cancún, durante os cinco dias que duraram o encontro da OMC.

“As negociações viveram um grande progresso”, ressaltou Deiss. Segundo o ministro da Economia, os resultados do encontro em Cancún constituem uma base sobre a qual a aproximação multilateral da OMC poderá ser prosseguida, sobretudo levando em conta a necessidade crescente dos países pobres de dispor de acordos bilaterais e regionais.

Os “altermondialistas se alegram

Logo que foi anunciado o fracasso do encontro no Centro de Conferências de Cancún, um grupo não escondeu sua alegria: os representantes das organizações não-governamentais (ONGs).

Elas não conseguiram mobilizar muitas pessoas para protestar contra o encontro: suas manifestações não reuniram mais do que cinco mil pessoas.

O grupo de trabalho de seis grandes organizações suíças de apoio ao desenvolvimento, assim como a ONG “Declaração de Berna” vêem o insucesso de Cancún como uma chance: – “É melhor não ter nenhum acordo, do que um que não presta”, declarou Michel Egger.

Os altermondialistas (grupos contrários à globalização) estão convencidos que o único meio de garantir uma divisão justa de bens e serviços é de abrir o mercado dos países industrializados aos países pobres.

Para as empresas: uma oportunidade perdida

Beat U. Moser, da Sociedade Suíça de Industrias Químicas (SSIC), estima que Cancún foi uma “oportunidade perdida” para as empresas suíças de ter acesso a novos mercados.

O programa de desenvolvimento de Doha, o novo ciclo de negociações comerciais multilaterais lançado no Qatar em 2001, seria “assunto morto”. Essa constatação é refutada por vários ministros, a não ser o comissário europeu do comércio Pascal Lamy, para quem Cancún “foi um fracasso”.

G22 passa a ser respeitado

Os países em desenvolvimento tiveram mais peso nas negociações, através da formação do grupo dos 22, liderado pelo Brasil, Índia e China. Esses países combateram, sobretudo, as subvenções às exportações agrícolas das nações mais ricas.

“Os países industrializados devem parar de proteger os interesses das grandes multinacionais. Eles devem levar em conta os interesses sociais e do meio-ambiente”, afirma Miriam Behrens, da Pro Natura, uma ONB suíça.

A derrota foi comum

No domingo, após a ruptura das negociações, os representantes do G22 ressaltaram que o fracasso do encontro em Cancún não pode ser considerado uma vitória para ninguém.

“Me considero muito decepcionado pela maneira como nós concluímos essa reunião”, conclui Supachai Panitchpakdi, diretor-geral da OMC.

Este está convencido que serão, sobretudo, os países pobres a sofrer as conseqüências de Cancún.

Quais serão os próximos passos?

Após o fracasso da reunião da OMC, as negociações serão retardadas sobre o conjunto de assuntos em pauta.

Uma sexta rodada de negociações está prevista para o ano que vem em Hongkong, mas datas ainda não foram acertadas. A questão será debatida no próximo encontro da OMC na sua sede em Genebra.

Joseph Deiss estima que o fracasso de Cancún irá realmente atrasar as discussões, mas não se deixa desencorajar. “A Suíça se mostra aberta a compromissos após Cancún”, declara o ministro da Economia sobre o dossiê agrícola, que ocupou grande parte dos debates.

A Suíça presidiu, inclusive, o grupo de dez países importadores. “O que nos permitiu participar de todas as reuniões e defender a posição do país”.

swissinfo, Erwin Dettling, Cancún
adaptação de Alexander Thoele

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