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Iniciativa polêmica vence na Suíça

cartaz de pessoa com niqab e óculos escuros
Das três questões levadas às urnas, a "iniciativa antiburca" foi a que mais chamou a atenção. Keystone / Laurent Gillieron

Os suíços acabaram decidindo seguir os passos dos poucos países da Europa que baniram o uso da burca. Mas não torceram o nariz para o dendê da Indonésia. Por sua vez, a identidade eletrônica não conseguiu convencer os eleitores.

Neste domingo, os suíços votaram 3 questões levadas a plebiscito em nível nacional. O país costuma organizar 4 votações ao ano, uma para cada estação, embora as questões nem sempre se encaixem no clima do momento.

Foi o caso da proposta para proibir o encobrimento do rosto, a chamada “iniciativa antiburca”, que em pleno período de pandemia – com todas as pessoas com o rosto coberto – acabou desvelando a verdadeira posição dos suíços em relação aos muçulmanos do país.

Mas se os suíços decidiram proibir de esconder a face, eles também acharam melhor não revelar seus dados pessoais para qualquer empresa privada que se meta a emitir identidades pessoais eletrônicas.

Já o acordo com a Indonésia mostrou que os suíços continuam abertos para o livre comércio e bem dispostos a continuar manifestando contra o aquecimento global e a globalização, desde que isso não atrapalhe os negócios.

Símbolos islâmicos

A Suíça, como outros países da Europa, tem debatido nas últimas décadas como integrar melhor sua comunidade muçulmana, que se estima que represente cerca de 5% da população total.

Em novembro de 2009, 57,5% dos eleitores aceitaram uma iniciativa – proposta pelo mesmo comitê por trás do voto antiburca – para proibir a construção de minaretes no país. O resultado foi contra as previsões das pesquisas de opinião e colocou o país em uma saia justa em relação ao mundo árabe.

Os debates sobre os vários símbolos do Islã, incluindo burcas e niqabs, que faziam parte da discussão na época, continuaram nos anos seguintes, e dois cantões introduziram proibições de se encobrir o rosto na última década – St Gallen e Ticino. Outros cantões rejeitaram tais propostas.

No Ticino, onde mais de 60% da população apoiou a proibição, nos primeiros três anos e meio após sua entrada em vigor, 60 pessoas foram multadas – 32 delas eram hooligans e 28 mulheres usando coberturas faciais.

Mais da metade de todos os cantões suíços já possuem regulamentações que proíbem o uso de coberturas faciais durante manifestações ou eventos esportivos.

Dendê indonésio

O óleo de palma banhou os debates sobre o acordo de livre comércio entre a Suíça e a Indonésia. O tratado visa facilitar o comércio com o país do sudeste asiático e eliminará os direitos alfandegários sobre as exportações suíças como queijo, produtos farmacêuticos e relógios.

A Indonésia, por sua vez, poderá vender seus produtos industriais no mercado suíço com isenção de impostos. Também estão previstas reduções tarifárias para certos produtos agrícolas, em particular o óleo de palma, do qual a Indonésia é o maior produtor e exportador do mundo.

Entre os apoiadores do plebiscito estavam oponentes à globalização, partidos de esquerda e algumas organizações não-governamentais (ONGs). Seus argumentos contra o acordo de livre comércio eram principalmente ambientais e ligavam o cultivo do óleo de palma à destruição da floresta tropical. Por outro lado, os defensores do acordo argumentaram que, de qualquer jeito, o óleo de palma importado terá que atender a certas normas ambientais para conseguir uma redução tarifária.

Identidade confusa

A relativa complexidade da questão da emissão de identidades eletrônicas foi um problema para os cidadãos formarem sua opinião, segundo Lukas Golder, codiretor do instituto de pesquisa gfs bern, que realizou duas pesquisas de opinião antes da votação do domingo.

As dúvidas sobre o uso prático da identidade eletrônica e as preocupações com um potencial abuso dos dados acabaram prevalecendo.

Veja os resultados por cantões no gráfico abaixo:

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