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Suíço quer pegar a vaca pelos chifres

Graças ao seu dono, Milena e Rachel ainda têm seus chifres. swissinfo.ch

Será que alguém consegue convencer 100 mil concidadãos a se preocupar se as vacas têm chifres ou não? Se for alguém acostumado a agarrar o touro pelos chifres como o pecuarista suíço Armin Capaul, a resposta parece ser sim.

Com suas bochechas rosadas, bigode loiro avermelhado e barba branca, o criador Armin Capaul é um personagem colorido. Do seu carro azul brilhante ouço uma música country-rock.

“Você já ouviu J.J. Cale? Ele é como minha alma gêmea”, diz Capaul, referindo-se ao cantor e compositor de música country americano. Admito que não, e já me preocupo se não é um mau começo para nossa visita. Mas ele apenas ri, e ri um pouco mais quando vê meus olhos se arregalarem ao ver a estrada estreita e sinuosa que leva a sua fazenda, situada no alto da região do Jura bernês. Ali encontram-se vacas, cabras, ovelhas, burros, cães, gatos e galinhas.

“Põe esses aí”, sugere Capaul, apontando para uns chinelos quando entramos na cozinha. Sua esposa, uma senhora bonita com uma longa trança grisalha, coloca o tricô de lado e me oferece um chá.

A mesa de jantar tem uma pilha impressionante de envelopes em cima dela. Ultimamente, chegam mais de 100 por dia. Os do dia anterior continham 1600 assinaturas para a campanha que Capaul lançou em prol das vacas.

“O recorde do dia foi de 2304 assinaturas!”, conta Capaul, enquanto controla o último lote com sua esposa.

Mostrando os carimbos postais com orgulho, Claudia Capaul diz: “São de toda a Suíça. E não há nenhuma organização ou partido por trás disso – é apenas o meu marido e as pessoas que o apoiam”. Os três filhos do casal também se engajaram. Um mantém o site Hornkuh, o outro ajuda na fazenda e a filha cuida da página no Facebook.

Armin Capaul Philipp Zinniker

Protetor dos cornos

Vacas descornadas não faziam parte do currículo quando Armin Capaul se formou como agropecuarista no cantão dos Grisões (sudeste), em 1976. Ele mora há 20 anos em Perrefitte, região de língua francesa do cantão de Berna, mas não fala a língua local. “É provavelmente melhor assim, eu me intrometo demais nas coisas”, brinca em suíço-alemão.

Capaul dá um boi para não entrar numa briga, mas quando a questão é o bem-estar dos animais portadores de chifre, ele é capaz de dar uma boiada para não sair dela. Foi por volta de 1980 que Armin Capaul viu pela primeira vez um rebanho de gado sem chifres, e ele não gostou nada da aparência dos bichos. “Eles estavam espumando pela boca e suando!”, diz, lembrando como os animais sofriam na subida para as pastagens alpinas no verão.

Atualmente, é comum descornar os animais novos para evitar que seus chifres cresçam – a ideia é proteger os animais e as pessoas de uma lesão.

“Essa é uma desculpa preguiçosa! As vacas sempre tiveram chifres. Nos velhos tempos, as pessoas tinham uma relação mais próxima delas – elas abraçavam, acariciavam e conversavam com as vacas”, diz, criticando os estábulos livres onde as vacas têm mais liberdade para se movimentar – e talvez também para brigar.

Capaul estima que apenas cerca de 10% das vacas suíças têm chifres, apesar das imagens de cartão postal e publicidades sugerirem o contrário. O processo de descorna é doloroso e requer anestesia. Além disso, o pecuarista está convencido de que os chifres servem a um propósito.

“Os chifres proporcionam uma forma de ventilação e ajudam a regular a temperatura do corpo do animal. Isso também pode significar um leite de melhor qualidade”. Se a iniciativa for aprovada pelos suíços, os criadores que deixarem crescer os chifres das vacas receberão subsídios do governo.

Cuidador

Quando Capaul não está cuidando das assinaturas necessárias para lançar sua iniciativa, ele cuida de seus animais. Fui com ele até o estábulo na hora de alimentar as vacas.

“Olhe para elas – parece que estão em transe”, diz. “Em um estábulo livre, elas estariam brigando por um lugar. Isso seria estressante para eles”, conta, observando que elas saem todos os dias – em períodos curtos no inverno e a maior parte dos dias no verão.

Ele não aprova a tendência empregada pelas explorações leiteiras automatizadas, onde as vacas são alimentadas e ordenhadas por robôs. “Esses criadores só olham se o leite está saindo, eles não têm nenhuma ligação com seus animais.”

Capaul põe os bezerros com suas mães para serem amamentados, enquanto isso acende um cigarro e se senta em um banco ao lado.

Conteúdo externo

“Esse é o lugar onde eu medito”, diz, fumando e olhando para sua fileira de vacas – cada uma com um conjunto impressionante de chifres brilhantes. Ele me encoraja a tocar nos chifres de uma delas para sentir o calor – especialmente perto da cabeça. É verdade, fico surpresa em agarrar uma vaca pelo chifre sem irritá-la. Em vez disso, ela só olha para mim com seus enormes olhos enquanto rumina.

Para as fotos, Capaul tem duas regras básicas. Uma delas é que ele tem que estar de chapéu – “para disfarçar a careca”, diz sua esposa rindo. A outra é mais séria: não usar o flash no estábulo, pois isso pode assustar as vacas – uma, aliás, acabou tendo um aborto espontâneo depois de uma sessão de fotos anterior.

O estábulo também abriga ovinos e caprinos, que têm uma área de diversão com várias estruturas para escalada. “Para as cabras é ainda pior, elas têm uns escalpos finos que são muito dolorosos”, comenta Capaul, que acha mais certo criar animais sem chifres, em vez de retirá-los.

Mesmo se iniciativa for aprovada, ele não sairá ganhando nada, já que vai se aposentar logo.

“Eu não estou fazendo isso para ganhar mais dinheiro. É para os animais”, diz o pecuarista, que investiu mais de 55 mil dólares nos últimos cinco anos para promover sua causa.

“Eu quero dar uma voz às vacas e levar as pessoas a pensar sobre o assunto”, diz o criador de gado.

Adaptação: Fernando Hirschy

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