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Inovação e criatividade na Suíça

Vista parcial do Salão Internacional das Invenções de Genebra, em 2007. Keystone

Cada dia a caixa de entrada de meu e-mail recebe anúncios de "réplicas perfeitas" de relógios suíços como Rolex, Omega e outras marcas famosas, a um preço até cem vezes inferior ao valor dos relógios autênticos.

A pirataria hoje é tão agressiva e tão global que a Suíça precisa criar desenhos industriais e inventar produtos cada vez mais atrativos e em menor espaço de tempo, para satisfazer seu mercado consumidor, pelo menos durante alguns meses, até os piratas conseguirem imitar o novo produto. Por Paul Ammann, Natal, Brasil

Os escassos recursos naturais e o clima forçam os suíços a serem constantemente criativos e inovativos. Os cidadãos, por exemplo, das cidades cercadas por montanhas de 3.000 metros, onde cada inverno há perigo de avalanches, tinham que optar: ou fugir da neve e das avalanches e mudar-se para uma região sem neve, ou inventar um sistema de estabilização da neve nas encostas mais íngremes das montanhas.

Conseguiram então criar um complexo sistema de cercas de madeira ou metálicas tão altas e tão robustas que podem reter toneladas de neve, evitando seu deslizamento em forma de avalanches. Com a neve estabilizada e permanentemente monitorada por um instituto especializado em pesquisa da neve e das avalanchas, os habitantes se sentem seguros.

Em seguida surgiu a pergunta: como aproveitar a neve, único recurso abundante na região? Inventaram, então, o trenó, o esqui e os patins e uma imensa variedade de esportes de inverno. Estes esportes e equipamentos, cada ano mais sofisticados, atraem milhões de turistas. A receita do turismo de inverno contribui muito para a renda do país, porque o esporte de inverno é caríssimo. Em Davos um mestre em marcenaria criou o “trenó de Davos” que se tornou mundialmente conhecido e com o qual ganhou inúmeros campeonatos.

Inovação acelerada nas indústrias de equipamento de precisão e de alimentação

Mais conhecidas são as inovações suíças no setor industrial. Para ser competitiva com os piratas que imitam os relógios suíços e os vendem a preços até cem vezes abaixo do preço do relógio autêntico, a indústria suíça investe maciçamente na pesquisa e inovação.

Para ser melhor e sempre diferente dos relógios imitados pelos piratas, as empresas suíças avançaram muito no desenho industrial. Somente a marca Swatch fabricou 2.500 diferentes modelos nos últimos 21 anos. Graças à inovação, a indústria relojoeira suíça exportou em 2006 25 milhões de relógios no valor de 14 bilhões de francos, 12% mais do que em 2005 e 20% mais do que em 2004.

Um setor onde a imitação não deu certo até hoje é o de alimentação. No século IXX, três suíços inventaram processos que possibilitaram a produção do chocolate de leite. Conforme a empresa brasileira CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) “o chocolate é o alimento melhor balanceado que existe”.

Com a produção do chocolate, a Suíça conseguiu melhorar e diversificar a alimentação da população. Ao lado dos produtos leiteiros clássicos como o queijo e a manteiga, alinhou-se o chocolate de leite, tão nutritivo que o governo suíço recomenda aos fabricantes de chocolate a manterem sempre um estoque de um ano da matéria prima para a produção do chocolate, para terem reservas em caso de graves crises.

Uma das mais antigas marcas de chocolate é a Toblerone, criado em 1867 por Jean Tobler e patenteada em 1909. Embora os piratas não respeitem patentes, não foi possível, em 140 anos, imitar a qualidade desta marca, nem das demais marcas famosas como Lindt, Cailler e Suchard.

O governo incentiva a criatividade e a inovação

Sabendo que a competitividade do país, num mercado cada vez mais globalizado e sujeito à pirataria, depende da criatividade de seu povo e da força de inovação de suas empresas, o governo incentiva as qualidades da criação e inovação.

O Instituto Federal da Propriedade Intelectual oferece um “Guia para pessoas inovadoras e criativas” pelo qual ajuda a “concretizar idéias inovadoras e assegurar seu sucesso comercial”. O Instituto recebe em torno de 1.600 pedidos de registro de invenções por ano e concede 800 patentes. A Suíça revela o maior número de inventores em relação à população total, a Suécia segue em 2º e a Alemanha em 3º lugar. Entre as invenções destacam-se o zíper criado em 1923 e o computer-mouse inventado em 1981.

Em Genebra é organizado cada ano um Congresso das Invenções, no qual são apresentadas em torno de mil invenções. Uma parte delas é negociada para testes e para posterior comercialização movimentando durante os cinco dias do congresso em torno de 30 milhões de dólares. Em 2007 participaram do Congresso 775 expositores, apresentando 1.000 invenções, 75.000 visitantes, 650 jornalistas bem como representantes dos governos federal, da cidade e do estado de Genebra.

Universidades inovativas

Os estabelecimentos de ensino de todos os níveis propiciam a criatividade e inovação dos alunos. Por isso há suíços campeões mundiais nas profissões que exigem muita criatividade, como por exemplo a profissão do cozinheiro.

Evidentemente as universidades são as principais incubadoras de inovação. O poder de inovação do ensino universitário se reflete, entre outros, no número de Prêmios Nobel recebidos pelos pesquisadores nas universidades. Somente na Escola Politécnica Federal de Zurich, um total de 21 cientistas (suíços e estrangeiros) que estudavam, lecionavam ou pesquisavam naquela Escola, receberam o Prêmio Nobel, a maioria na física, química e medicina.

Paul Ammann nasceu em Davos, onde freqüentava o Colégio Alpino Suíço.
Estudou em Munique, Paris e Boston e trabalhou em Surakarta (Java), Brasília, Manaus, Macapá, Berna e Natal, onde mora atualmente.

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