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Universidades orientam mulheres na vida acadêmica

Campus da Universidade de Lausanne unil

Costuma-se dizer nos meios acadêmicos que o melhor doutorado que se pode ter é aquele que se termina. Nem sempre é fácil conciliar a vida universitária com a profissional e pessoal para concluir a pós graduação. A região da Suíça francesa tem um programa que orienta doutorandas não só na organização da tese, mas também nas perspectivas de carreira. É o StartingDoc, parte do projeto federal que estimula a igualdade de sexos no mercado de trabalho e acadêmico.

Fazem parte dele a Escola Politécnica de Lausanne, e as universidades  de Friburgo, Genebra, Lausanne e Neuchâtel. Este mês, 48 doutorandas e 8 mentoras formam a sexta turma do projeto, iniciado em 2008. Durante um ano e meio, as participantes trabalharão em grupos de seis pessoas, coordenadas por uma mentora. Não se trata de discussões teóricas sobre a tese, assunto que fica a cargo do orientador de cada uma delas, mas de um trabalho mais técnico e operacional, capaz de ajudar a doutoranda a finalizar a tese com sucesso

Trabalho em grupo

Elaborar e desenvolver um projeto de pesquisa, as dificuldades mais comuns, os erros a serem evitados e muitos outros temas ligados ao processo de um doutorado são trabalhados e discutidos.

 “Esse tipo de trabalho em grupo é muito rico porque possibilita a troca de conhecimentos entre as estudantes, que passam mais ou menos por uma mesma fase de vida”, explica a coordenadora do programa, a brasileira Carine Carvalho. Há algum tempo, existia um trabalho de mentorato individual, mas era aberto apenas às mulheres que estavam terminando a tese ou às pós-doutorandas. Este programa é destinado às universitárias que estão no começo da tese.

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Igualdade dos sexos

O fato do StartingDoc existir apenas para mulheres não significa nem paternalismo por parte do governo e nem incapacidade feminina para a pesquisa científica. Trata-se de uma lei federal que entrou em vigor em 1996 com o objetivo de impedir qualquer discriminação entre os sexos. Atualmente, o conceito de igualdade de gêneros foi mais elaborado e o governo federal emite indicadores relativos à formação educacional, jornada de trabalho, atividade profissional entre outros.

Para a confederação, a formação educacional é peça-chave para esse processo de igualdade. Não só por garantir melhores condições econômicas, mas também sociais e culturais. “ Uma boa formação cultural fornece competências e ajuda a pessoa a se orientar na sociedade e a participar da vida cultural”, explica o site governamental.

Lourdes Sola

Jornada parcial

No mercado de trabalho, de acordo com os dados de 2012, somente 41,5% das mulheres trabalham tempo integral, contra 86,2% dos homens. A opção por uma jornada parcial é maior entre as mulheres: 32,8% – apenas 8,3% dos homens aderem a esse contrato de trabalho. Os horários escolares do ensino obrigatório explicam um pouco esses números. As crianças voltam para casa na hora do almoço e ficam livres nas tardes das quartas-feiras: é preciso ter alguém em casa para organizar a rotina doméstica. Isso interfere muito na vida profissional feminina.

A universidade não é uma instituição isolada e, como tal, reflete a sociedade suíça. Muitas mulheres deixam a universidade por absoluta falta de tempo. Desde o ano passado e até 2016, o Conselho de Reitores das Universidades Suíças- CRUS- conta com uma verba de 9,8 milhões de francos para esses projetos ligados à igualdade de chances nas universidades.

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Mulheres e a universidade

Há tempos o governo tenta corrigir uma disparidade que persiste na confederação. Entre as mulheres de 25 a 64 anos, 16,4% delas deixam as escolas depois do ensino obrigatório. Isso significa que não adquirem uma formação profissional ou universitária. No universo masculino, a taxa fica em 13%. Mas as políticas de incentivo têm surtido efeitos. Na geração de 55 a 64 anos, o índice é maior: 23,2%. Na mesma faixa etária masculina, o índice não mudou – manteve-se em 13%.

Outro indicador positivo de 2012 mostra que 30,6% das mulheres entre 25 e 34 anos estão nas universidades – e 29,3% dos homens. O acesso feminino à universidade tem aumentado, mas de acordo com uma pesquisa da  Universidade de Lausanne, as mulheres não figuram nos cargos de direção. Apenas 16,9% estão no topo da hierarquia acadêmica como professoras, segundo dados de 2010 –  em 2001, eram 8,9%. Programas como o StartingDoc podem ajudar a mudar esse quadro, mantendo as doutoras no ensino acadêmico e na pesquisa. A mão de obra feminina na universidade ainda restringe-se aos trabalhos administrativos (54,6%) ou aos cargos de  assistentes e colaboradoras (38,1%).

Até agora, 320 universitárias passaram pelo projeto. Este ano a coordenação vai começar a analisar os resultados do trabalho dos últimos seis anos. “É um programa de longo prazo e somente agora podemos avaliar os efeitos dele na vida das pessoas”, explica Carine. Terminado o programa, em geral as pesquisadoras dedicam mais três a quatro anos de estudos para concluírem seu doutorados. Depois disso, é possível avaliar os benefícios e resultados.

As estudantes são divididas em áreas de pesquisa – ciências exatas, biológicas ou humanas – , e podem seguir o programa em inglês ou em francês, dependendo das necessidades de cada grupo. De acordo com a coordenadora, há basicamente dois grupos de estudantes que procuram o StartingDoc. Um deles é composto por pessoas motivadas pela carreira acadêmica e que buscam mais informações. O Outro é formado por pesquisadoras com um percurso mais atípico, que não têm muito contato com a universidade e trabalham isoladas. Qualquer que seja a motivação delas, o programa é uma forma de auxiliar na integração dessas mulheres, que têm a estranha mania de ter fé na vida – acadêmica, pessoal, profissional, familiar…

StartingDoc

A próxima turma será formada a partir do outono de 2015, com abertura de inscrições no site da Universidade de Lausanne.

Para fazer parte do programa, a candidata tem de estar inscrita no doutorado de uma das universidades integrantes do programa. A coordenação seleciona as candidatas.

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