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Inquieto, o mundo da floresta discute em Buenos Aires

Os desafios são enormes, em particular o aquecimento climático e o desmatamento nos países em desenvolvimento, segundo Rolf Manser.

Os guardas florestais (no sentido amplo) do planeta estão reunidos na Argentina para seu grande congresso, organizado de seis em seis anos.

Os participantes estão “tensos”, constata o suíço Rolf Manser, chefe da Divisão de Florestas na Secretaria Federal do Meio Ambiente.

Organizado pela FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o Congresso Florestal Mundial ocorre em Buenos Aires, depois de Quebec, no Canadá, em 2003.

swissinfo.ch: Qual é a utilidades desse congresso?

Rolf Manser: É uma boa oportunidade para trocar informações e experiências. São apresentados resultados de pesquisas, há debates e discussões entre especialistas em florestas de todo o planeta. É realmente o lugar onde o mundo florestal se encontra de seis em seis anos.

Um dos principais temas abordados aqui é a floresta e as mudanças climáticas, evidentemente. Um outro tema é floresta e energia. Os ministérios das florestas da China e da Nova Zelândia, por exemplo, apresentaram as medidas adotadas em seus países contra as mudanças climáticas. Isso é de grande interesse para a Suíça.

Um outro tema que está surgindo é a relação entre floresta e água. Essas discussões vão se intensificar nos próximos anos, mas em Buenos Aires ainda não são objeto de soluções importantes.

Os Estados Unidos, em contrapartida, apresentaram sua visão de inventário florestal. A Suíça está justamente pensando em reformar seu inventário das florestas para torná-lo mais eficaz.

swissinfo.ch: Como está o estado de espírito dos profissionais da floresta em Buenos Aires?

R.M.: As discussões giram muito em torno dos grandes desafios. As pessoas parecem tensas. Os desafios são enormes, em particular as mudanças climáticas e o desmatamento nos países em desenvolvimento. As soluções são difíceis de encontrar. Os participantes estão tensos, mas são abertos e ambiciosos.

swissinfo.ch: A Suíça defende posições ou linhas particulares?

R.M.: Não, porque não se trata de um congresso político. Mas a Suíça tem muito interesse em poder apresentar sua experiência na gestão florestal sustentável. Ela tem uma experiência de mais de 150 anos e uma lei florestal relativamente estrita.

Não somos um grande país de floresta, mas somos muito ativos na política florestal internacional. Além de mostrar sua experiência, a Suíça tem um papel de mediador, particularmente nos processos políticos.

Depois da conferência do Rio de Janeiro, em 1992, as convenções sobre o clima, sobre a biodiversidade e sobre a desertificação foram elaboradas. Sobre a florestas ainda não (ela seria sobre a proteção e a gestão global e sustentável das florestas garantindo suas diferentes funções).

As negociações estão em curso, mas estão difíceis entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Nesse processo, a Suíça pode ter um papel de mediadora e acaba de apresentar uma iniciativa, juntamente com o Canadá.

O último fórum da ONU sobre florestas, em 2008, terminou com a intenção declarada de criar uma convenção não obrigatória mas de recomendação, insuficiente na opinião da Suíça. Então, junto com o Canadá, a Suíça tomou a iniciativa de apresentar as modalidades de uma convenção de tipo contratual, assinada pelos países. Procuramos agora soluções junto a outros países.

Outra ideia da Suíça que é bem vista é dar um primeiro passo, exemplar, através de uma convenção europeia sobre as florestas. Essa ideia também é defendida pela Áustria.

swissinfo.ch: Na conferência sobre o clima em Copenhague, qual será o papel das florestas?

R.M.: É difícil de dizer. A floresta é uma pequena peça. As discussões acerca dos meios para combater o desmatamento nos países em desenvolvimento estão relativamente avançadas. Um resultado é possível em Copenhague, mas esse é apenas um pequeno elemento do conjunto.

swissinfo.ch: Em matéria de florestas, existe globalmene uma diferença entre os ricos do norte e os pobres do sul?

R.M.: Eu não diria que estamos em conflito, mas que não estamos de acordo. Os países em desenvolvimento aceitam a ideia de uma convenção sobre as florestas, mas se opõem a toda restrição, ou então contra pagamento. Portanto, a negociação é difícil.

swissinfo.ch: Para voltar à Suíça, nos anos 1980 falava-se da morte das florestas. Qual é o estado de saúde delas?

R.M.: A floresta não está morta, felizmente. Mas ela continua sob pressão. Os últimos resultados sobre a qualidade do solo e seu teor de acidez, por exemplo, não são bons. A floresta foi atingida por tempestades violentas e outros fenômenos ligados à mudança climática são esperados.

swissinfo.ch: Mas a área florestal aumenta na Suíça. Pode-se pensar que tudo vai bem?

R.M.: De fato esse é um risco. A área aumenta, é verdade, mas principalmente nos Alpes e nas regiões de montanha. Na parte plana do país, a floresta está sob pressão e as áreas de construção não cessam de crescer.

Essa situação implica que será necessário ter uma política diferenciada por regiões. A lei atual sobre as florestas é relativamente restritiva. Quando você desmata, deve, em princípio, reflorestar. Poderíamos imaginar que cortar madeira na montanha não obrigue sistematicamente a um reflorestamento, mas a outras medidas de proteção da natureza, por exemplo.

Isso já é possível com a lei atual, mas a solução do reflorestamento é quase sistemática. Isso não tem mais sentido.

Pierre-François Besson, swissinfo.ch

O 13° Congresso Florestal Mundial ocorre entre 18 e 23 de outubro em Buenos Aires e reúne milhares de participantes de todo o planeta – representantes de governos, universidades, sociedade civil, setor privado.

Os temas tratam de perspectivassocias, ecológicas e econômicas da gestão florestal sustentável no contexto local, regional e mundial.

O primeiro congresso do gênero ocorreu em 1926, em Roma e desde então, ocorre de seis em seis anos, sob a égide da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

A área da floresta suíça aumenta constantemente desde os anos 1980 e cobre atualmente31% do território, segundo a Divisão Federal de Estatísticas.

Essa área aumentou de 4,9% entre 1995 e 2006. Um crescimento em grande parte natural (terras agrícolas abandonadas, regiões de montanha, etc).

O volume de madeira era de 420 milhões de m3 em 2005.As reservas de madeira aumentaram de 12 milhões de m3 durante a última década, apesar das extrações.

A floresta suíça é de fato explorada em 5 milhões de m3 de madeira por ano. 23% da madeira explorada é para
produzir energia.

Em 2007, 21% da bois abatida foi na região do Jura, 40% nas regiões planas, 24% nos pré-alpes, 12% nos Alpes e 2% au Sul dos Alpes.

Sob o ângulo climático, a floresta suíça capta
3,1% das emissões de CO2 suíças (números de 2007) através do crescimento da biomassa, tendo assim um papel de assimilação do carbono.

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