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Um brasileiro na política de Lucerna

Denis Kläfiger durante a entrevista com a swissinfo.ch em um parque de Lucerna. swissinfo.ch

A baixa participação dos jovens nos pleitos é um tema premente na Suíça. Denis Kläfiger quer contrapor essa tendência. Aos vinte e quatro anos, o suíço-brasileiro entrou em um partido e hoje já é seu co-presidente em nível cantonal e também ativista dos direitos dos homossexuais. Candidato a deputado-federal, sua principal bandeira é dar voz ativas aos jovens no sistema de democracia direta e nos parlamentos do país.

O verão transforma Lucerna, uma típica cidade suíça, às margens do lago dos Quatro Cantões e cercada por montanhas. Turistas de todas as partes do mundo e habitantes passeiam em roupas leves pela praça frente à estação de trem, poucos metros distantes do porto. Sentado na varanda de um bar local, Denis Kläfiger termina de tomar o seu café. Ao se apresentar, ele ressalta em bom português que o dia está muito bonito. A foto nos cartazes eleitorais não difere muito do rosto jovial e otimista.

O jovem suíço é co-presidente do Partido Burguês-Democrata Suíço (PBD, na sigla em francês) e candidato a deputado-federal nas eleições nacionais em 18 de outubro. Segundo as pesquisas, as chances do partido são reduzidas, especialmente em um cantão dominado pelo Partido Democrata-Cristão. Porém Denis considera que o importante é participar.

swissinfo.ch: Onde você nasceu e como começou o interesse pela política?

Denis Kläfiger: Eu nasci em Altdorf, a capital do cantão de Uri, e vivi quinze anos em Rapperswil-Jona, no cantão de St. Gallen, onde fui para a escola. Mais tarde, eu e minha família nos mudamos para Lucerna, onde fiz a formação profissional como técnico comercial. E foi mais ou menos nessa época que comecei a me interessar por política.

swissinfo.ch: E por que você fala português?

D.K.: Aprendi português com a minha mãe. Ela vem de Belém do Pará e veio para a Suíça aos dezoito anos quando conheceu meu pai. Até os quatro anos ela falava português com os filhos, mas depois parou ao perceber que eu estava tendo problemas com o alemão na escola.

swissinfo.ch: Qual a sua relação com o Brasil? Você costuma viajar para o país?

D.K.: Nós sempre viajamos para o Brasil. Além da família em Belém, tenho também uma tia em Recife. A nossa família é muito grande. Para mim era uma chance de ver um outro mundo. Além da família, gosto também muito do povo brasileiro, que é muito simpático, e também da natureza do país. Meus colegas na escola contavam que tinham passado as férias na França ou em outro cantão suíço. E eu me orgulhava de poder contar que tinha feito uma viagem ao Brasil.

swissinfo.ch: Por que você decidiu entrar para a política e qual o motivo de escolher o PBD?

D.K.: Eu penso que as novas gerações como eu devem lutar para ter uma representação na política. Se você vê hoje o nosso Parlamento em Berna, a maioria dos parlamentares tem mais do que quarenta anos. Eu acho triste, pois o povo também é formado pelos jovens. Eu entrei no PBD há três anos, quando estava no meu último ano da formação profissional e achava que havia chegado o momento de entrar em um partido. Politicamente me identifiquei com o PBD.

swissinfo.ch: Como se entra em um partido na Suíça?

D.K.: Primeiramente eu li o programa do PBD e fiquei satisfeito. Para mim é um partido moderno e aberto. Então fui na sede do partido e assinei a ficha de adesão. Então participei de uma reunião do partido em Lucerna, quando eles me perguntaram o que fazia da vida e qual o meu interesse de atuar no PBD.

swissinfo.ch: Você fundou com outros jovens políticos o Parlamento jovem de Lucerna. O que lhes motivou?

D.K.: Eu e mais cinco jovens do cantão de Lucerna fundamos o Parlamento jovem em março de 2013. Uma dessas pessoas foi a Lea Fuchs, que hoje preside comigo o PDB de Lucerna. O nosso sonho era dar um grêmio em nível cantonal para os jovens e mostrar-lhes como funciona a política, ou seja, o direito de votar, de ser candidato ou explicar na prática o nosso sistema de democracia direta. Eu acho que esse tipo de grêmio pode ter bastante importância no futuro, especialmente frente ao desinteresse crescente dos jovens pela política.

Durante uma conferência do Partido Burguês-Democrata Suíço, Denis Kläfiger (esq.) ao lado da conselheira federal (ministra) Eveline Widmer-Schlumpf, e outro jovem político. swissinfo.ch

swissinfo.ch: Como o Parlamento jovem tem funcionado?

D.K.: A primeira sessão ocorreu no ano passado. Mais de 80 jovens participaram, vindo de todas as partes do cantão de Lucerna. A imprensa cobriu o evento, inclusive até a televisão. O bom resultado nos mostrou que a ideia é boa. Agora estamos organizando uma segunda sessão em outubro de 2015. E o melhor é que já temos a confirmação da presença do ex-conselheiro federal (ministro) Samuel Schmid. Ele vai fazer uma das palestras. Isso mostra a importância do Parlamento jovem e nos dá uma chance de obter o que pleiteamos do Parlamento cantonal de Lucerna: mudar a lei e nos dar o direito de ser ouvido. 

swissinfo.ch: Como homossexual declarado, você defende essa postura?

D.K.: Para mim isso é um tema muito importante. Eu defendo o direito dos homossexuais como presidente do PDB de Lucerna. No ano que vem será votada em plebiscito popular uma iniciativa do Partido Democrata-Cristão (n.º.: a iniciativa “Pelo Casamento e Família” se tornou polêmica por definir o casamento como a união entre uma mulher e um homem). No nosso partido, sete dos nove membros da presidência nacional apoiam ela. Eu sou absolutamente contra, apesar da ideia inicial ter sido positiva: a de acabar com a penalização fiscal dos casais que vivem em concubinato. O errado é querer determinar o que é um casamento. Se essa lei for aprovada nas urnas, os homossexuais não terão o direito de se casar.

swissinfo.ch: Mas a Suíça não é um país onde hoje os homossexuais precisariam ter medo, não? O que existe ainda para melhorar?

D.K.: A situação melhorou nos últimos vinte anos, mas ainda existem muitas pessoas com medo. Eu também acho existem muitos partidos burgueses como o Partido Liberal, o Partido do Povo Suíço ou o Partido Cristão-Democrata não são tão liberais como falam e propagam. Eu também tive medo como as pessoas iriam reagir ao saber que sou homossexual. Depois pensei que elas teriam de me aceitar como eu sou. No final, acabou sendo tão fácil. Há um ano comecei a militar também pelos direitos dos homossexuais. Eu posso dizer que o PDB foi também o primeiro partido burguês a apoiar esses direitos.

swissinfo.ch: Quando você encontra hoje o eleitor nas ruas, fala abertamente sobre a sua orientação sexual?

D.K.: Sim, falo abertamente. E não há problemas. As pessoas também me olham com outros olhos quando descobrem que sou co-presidente do partido em Lucerna e que sou gay. Eu uso essa posição para lutar pelos nossos direitos. Como co-presidente do PDB, faço parte também do grêmio nacional. E com isso tenho a chance de defender os direitos dos homossexuais junto às lideranças do partido como a conselheira nacional (ministra) Eveline Widmer-Schlumpf e os nossos parlamentares. 

Pequena biografia

Denis Kläfiger nasceu em 27 de abril de 1991 de pai suíço e mãe brasileira.

É técnico comercial e trabalha em uma empresa de seguros em Lucerna.

Em março de 2014 fundou com cinco jovens o Parlamento jovem do cantão de Lucerna, uma associação cujo principal objetivo é aumentar a presença dos jovens na política local, especialmente através de uma presença institucionalizada no Parlamento cantonal.

Em outubro de 2014 foi eleito co-presidente do Partido Burguês-Democrata Suíço (PBD, na sigla em francês) em Lucerna.

Em março de 2015, Denis Kläfiger era candidato a vereador no Parlamento cantonal de Lucerna, mas não foi eleito.

Denis Kläfiger também é ativista pelo direito dos homossexuais.

Links:

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Partido Burguês-Democrata SuíçoLink externo – Lucerna

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