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Jovens empreendedores lançam concorrência ao Clubhouse

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A proposta da startup suíça é ser uma plataforma social em áudio. angle.audio

Quando a rede social Clubhouse começou a operar na China no início do ano, outro aplicativo de uso de áudio em vez de texto desenvolvido na Suíça era lançado no concorrente mercado.

O início do funcionamento do Clubhouse na China surpreendeu os analistas. Em um país onde vigora um forte controle da internet, permitir que usuários conversassem livremente sobre qualquer assunto que escolhessem, pareceu uma nova experiência. O aplicativo para debates via áudio em comunidades já conquistou milhões de usuários desde o seu lançamento.

O sucesso não incomodou os jovens informáticos que desenvolveram AngleLink externo, um aplicativo lançado em 30 de março por Matthias Strodtkoetter, que afirma ter tido a ideia antes mesmo de conhecer Clubhouse.

Quando pesquisava computação quântica na Universidade de Tóquio em 2016, Strodtkoetter ficou frustrado por não ter na rede um espaço para debater e compartilhar ideias. As que estavam disponíveis para outros estudantes eram difíceis de utilizar e não eram gratuitas.

“Pensei em uma plataforma que ligasse pessoas com interesses semelhantes e que permitisse a troca de conversas em áudio. Seria algo de novo”, afirmou.

Strodtkoetter esperou quatro anos e, ao retornar à Suíça, se juntou a dois sócios para iniciar o projeto batizado de “Angle”, em 2020.

“As plataformas sociais costumam consumir muito o tempo das pessoas, pois sempre estão publicando algo de novo”, declara o suíço de 31 anos, que também estudou na Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH). “Já a ideia de Angle é ser algo como a Roma antiga, onde as pessoas se encontravam em jardins para filosofar sobre a vida e a sociedade. É uma necessidade humana básica, mas a humanidade perdeu essa forma de diálogo.” 

Momento de investir

Robert West, professor do Laboratório de Ciência de Dados da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), considera que o momento é ideal para o lançamento de plataformas como Clubhouse. A pandemia deixou pessoas ansiosas por formas mais tradicionais de contato social ou cansadas do uso de salas de vídeo como a Zoom. Debates através de áudio eliminam a distração causadas pela transmissão de imagens, pois se concentram exclusivamente na conversa oral.

“É um retorno à forma natural de conversação. Com isso as pessoas não precisam mais interromper o bate-papo para verificar as mensagens que chegaram no celular. Essas novas plataformas permitem uma maior concentração”, avalia West. “Há um forte componente social em nossas vidas. Sua eliminação cria um vazio. Algumas mídias sociais deveriam ser chamadas de antissociais, pois destroem as relações clássicas entre as pessoas.”

Forte concorrência

Os primeiros usuários de teste do Angle criaram grupos de discussão sobre temas diversos como viagens, artes marciais, empreendimentos, questões de saúde mental e até fotografia. O aplicativo necessita agora atrair novos usuários nos próximos meses se tornar um sucesso, diz confiante Strodtkoetter.

A competição no mercado já está acirrada. Além de Clubhouse, a plataforma de micro-mensagens Twitter também anunciou planos para criar uma oferta similar denominada “Twitter Spaces”. Inspirado pelas primeiras experiências do Clubhouse na China – que agora sofre de censura pelas autoridades chinesasLink externo – empreendedores locais desenvolvem novas soluções mais compatíveis com o sistema político. Outros aplicativos recém-lançados também oferecem soluções semelhantes como Sonar, School Night, Chalk e Discord.

Robert West diz que é muito cedo para dizer quais plataformas terão sucesso no mercado. “Imagine que o WhatsApp foi vendido ao Facebook por 19 bilhões de dólares em 2014. As funções de bate-papo existem desde os anos 1980, mas se popularizaram ainda mais com a chegada dos smartphones.”

Moderação e censura

Outro desafio para os aplicativos de debates via áudio é o de moderar as discussões sem censurá-las. As discussões em grupo sobre assuntos controversos podem se tornar problemática se há insultos, abusos ou transportam notícias falsas, um problema vivido por grandes plataformas como Twitter e Facebook.

“A moderação é um desafio enfrentado por qualquer plataforma que permita conteúdo gerado pelo usuário. Não há uma solução simples”, avalia Strodtkoetter. O jovem empreendedor suíço espera que os usuários ajudem a monitorar o debate e denunciar práticas danosas. Além disso, aposta na tecnologia. “Queremos desenvolver soluções para automatizar a detecção de problemas. Porém será sempre difícil lidar com essa linha tênue entre a necessidade de moderar e censurar.”

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Angle também precisa ganhar dinheiro para sobreviver. A startup explora duas maneiras de monetizar os serviços oferecidos. A primeira adota algumas práticas do Clubhouse: permitir que grupos vendam ingressos para discussões em grupo ou vendam seus serviços (cobrando então uma percentagem). A outra possibilidade lembra o aplicativo de música Spotify, que oferece assinaturas em troca de serviços exclusivos.

Como “trunfo” frente à forte concorrência, Strodtkoetter imagina que seu aplicativo poderia se tornar mais atraente se combinar o conforto de uma sala virtual de bate-papo com tecnologias como sistemas de aprendizado automático para permitir a escolha dos grupos.

“Obviamente Angle precisa superar os desafios de crescimento de qualquer plataforma”, diz. “A internet tem provado, repetidamente, que no final os melhores produtos vencem”.

Adaptação: Alexander Thoele

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