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Juiz decreta falência de grande clube suíço

Tristeza e consternação para os torcedores do tradicional time de Genebra. Keystone

Nem mesmo uma região rica como Genebra conseguiu salvar seu clube de futebol. O tribunal de comércio declarou a falência do FC Servette, um clube da elite do futebo com 115 anos de tradição.

Com a falência, o FC Servette cai da primeira divisão profissional para a a primeira divisão amadora.

A agonia de um dos mais antigos e prestigiosos clubes do futebol suíços durou meses mas a declaração de falência não pode ser evitada. O milagre de última hora, como afirmava o presidente do clube, o francês Marc Roger, não aconteceu.

Apesar de ter um estádio novinho em folha para jogar, o clube deve 10 milhões de francos suíços. Nas últimas semanas, o Tribunal de Comércio havia adiado a decisão, à espera das promessas de investidores que retomariam o clube.

Brigas internas à parte, o fato que o Servette – fundado a 115 anos, 17 vezes campeão suíço, detentor de 7 Copas suíças e com participação em 27 Copas européias – está falido.

Recurso possível

A diretoria do FC Servette ainda tem dez dias para recorrer do julgamento do Tribunal de Comércio, caso algum mecenas decida pagar as dívidas e dar garantias financeiras para a existência do clube. Parece improvável.

Do contrário, o Servette, após ter ficado 115 anos ininterruptos na elite do futebol suíço, cairá da Primeira Divisão profissional (Superliga) para a Primeira Divisão amadora.

Em 2002, houve duas relegações similares na elite do futebol suíço, quando o Lausanne-Esportes (região oeste) e o FC Lugano (região sul) cairam para as divisões inferiores e ainda não voltaram. Em 2003, o FC Sion caiu para a Segunda Divisão profissional, também por razões financeiras.

Problemas começaram em 2001

Os problemas do Servette de Genebra começaram em 2001, quando o canal francês de televisão Canal + reduziu sua participação no capital do clube.

Secederam-se então dois empresários franceses (Michel Coencas, em 2001, e Marc Roger, em 2004) ambos com promessas mirabolantes para o futuro do clube.

“É um desperdício mas era o cenário previsível”, lamenta o jornalista Jacques Ducret, autor de vários livros sobre o FC Servette.

“Mas é preciso ver que todo o futebol suíço está no caminho errado. Quisemos um profissionalismo como o da França, Inglaterra, Itália ou Alemanha, quando nosso modelo deveria seguir o semi-profissinalismo dos países escandinavos”, afirma Ducret.

Na opinião do especialista inglês Robert Taylor, chefe da unidade de pesquisas sobre o futebol na Universidade de Liverpool, a Suíça é provavelmente um país muito pequeno para sustentar dez clubes na primeira divisão (Superliga).

Ele explica sua posição, em entrevista ao nosso colega Ramsey Zarifeh:

A falência do tradicional Servette Football Club lhe surpreendeu?

Eu não estou de forma nenhum surpreso. O fato é provavelmente apenas a ponta do iceberg, mas vale também para toda a Europa. Aqui na Inglaterra temos casos de clubes de futebol, e não apenas os pequenos, que também estão indo para o paredão depois de combater durante anos contra a insolvência. Muitos deles viveram por muito tempo da própria substância, sempre contando no final com benfeitores privados ou públicos.

O Servette tinha esperanças de que o investidor libanês Jeseph Ferrayé iria vir e salvar o clube oferecendo 147 milhões de francos, porém isso não aconteceu. Agora eles estão com a corda no pescoço.

O quer o Servette deveria ter feito para manter sua saúde financeira?

Isso é difícil de dizer, especialmente sabendo que o time provavelmente o nunca deu lucro nos seus 115 anos de história.

O segredo é cobrir os custos através de um orçamento sólido, baseado em avaliações realistas da renda e pagando os jogadores dentro desse quadro. Se você não é capaz de cobrir os custos, é necessário então persuadir um empresário local a cobrir essa lacuna.

Na Inglaterra, a maior parte dos 93 clubes profissionais sobreviveu graças a esse tipo de doações. O problema é que o futebol na Europa parece estar funcionando fora desse princípio.

Outros clubes suíços como, por exemplo, o Grasshoppers de Zurique também estão passando por uma grave crise financeira. Qual seria o seu conselho para eles?

Uma solução seria dar aos torcedores a possibilidade de comprar uma parte do próprio clube e a chance de influenciar nas tomadas de decisões. Isso aconteceu em mais de 40 clubes ingleses. Atualmente descobre-se que os torcedores têm a tendência de conduzir de maneira mais sólida esse barco, pois eles gastam apenas aquilo que têm e não querem extrapolar o orçamento.

No caso do Servette, a possibilidade seria o renascimento do clube a partir de uma espécie de contrato de confiança dos torcedores, onde eles comprariam partes do clube e faria com que as coisas funcionassem de maneira mais correta.

A Suíça não seria um país muito pequeno para sustentar uma primeira divisão tendo apenas dez clubes de futebol?

Essa não é a questão principal. O problema hoje em dia é que os direitos de transmissão são responsáveis por 30 a 40% dos orçamentos de muitos clubes europeus. Se não é possível gerar dinheiro suficiente através desse meio, pois o mercado interno de televisão é reduzido, então não há muito que possa se fazer.

Alguns países tentaram, muitas vezes sem sucesso, reduzir os riscos do negócio através da fusão de campeonatos. Não seria uma vantagem considerável para as equipes suíças se eles competisse num campeonato com, por exemplo, clubes da Áustria vizinha?

Sem dúvida! Mas o problema é que a UEFA (União Européia de Futebol, com sede em Nyon na Suíça) aparentemente não aprova esse tipo de reorganização. No passado foram feitas algumas tentativas, mas sempre a UEFA as rejeitou. Nas condições atuais é difícil de ver como isso pode dar certo.

swissinfo

O FC Servette tem:
115 anos de história
17 títulos de campeão suíço
7 Copas da Suíça
27 participações em Copas européias
10 milhões de francos suíços de dívidas.

– O FC Servette foi declarado falido sexta-feira (04.02) pelo juiz do Tribunal de Comércio de Genebra, Patrick Chenaux.

– O clube genebrino será automaticamente relegado da Primeira Divisão profissional (Superliga) para a Primeira Divisão amadora.

– O mesmo ocorreu, pelas mesmas razões, em 2002, com outros dois clubes da elite do futebol suíço: Lausanne-Esportes e FC Lugano.

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