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Justiça internacional investiga presença das Farc na Suíça

Luis Moreno Ocampo, promotor-chefe do TPI, durante curta estadia em Genebra. Reuters

Em carta enviada às autoridades suíças, Luis Moreno Ocampo, promotor-chefe do TPI, interroga o governo helvético sobre as redes de apoio ao grupo guerrilheiro colombiano Farc no seu território. Duas pessoas estariam na mira da Justiça.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) investiga as redes internacionais de apoio às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Em carta enviada na semana passada, o procurador Luis Moreno Ocampo pergunta se o governo helvético também abriu um inquérito relativo às supostas atividades do grupo guerrilheiro na Suíça.

“Como promotor do TPI, faço análises preliminares relacionadas a crimes contra a humanidade e genocídios na Geórgia, Costa do Marfim, Afeganistão, Quênia e Colômbia. Queremos saber se os países envolvidos estão realizando investigações em nível nacional e se os inquéritos não servem de álibi para proteger os autores dos crimes”, explicou Ocampo à Tribuna dos Direitos Humanos.

Refugiado na mira

De passagem por Genebra, o promotor continua: “Se os governos não fazem nada, nós fazemos em seu lugar. Bogotá faz suas investigações na Colômbia. Porém, as Farc também têm redes internacionais. Por essa razão, procuramos saber se investigações estão sendo feitas na Suíça e em outros países. A Espanha já nos informou que uma mulher foi presa a pedido da Colômbia. Ela é acusada, entre outras coisas, de haver transferido fundos a uma pessoa na Suíça: Omar Arturo Zabala Padilla, também chamado de “Lucas Gualdron”, chefe das Farc na Europa, estabelecido em Lausanne. Pode se tratar de lavagem de dinheiro em favor de uma organização criminosa.”

Tendo chegado à Suíça como refugiado nos anos 90, “Lucas Gualdron” é acusado de tráfico de armas e financiamento do terrorismo. Em 1998, ele foi denunciado após ter conseguido uma credencial de cortesia no Palácio das Nações da ONU como membro da ONG Tupac Amaru, consagrada aos direitos dos povos autóctones.

Recentemente, ele fez uma declaração à imprensa helvética. “A Suíça aceita que um representante das Farc esteja em seu território. Meu papel aqui é diplomático. Não sou um dirigente militar”, disse. Pouco depois, em julho, a mediação suíça no conflito colombiano foi interrompida pelo presidente colombiano Álvaro Uribe, após a libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.

Acusações contra o mediador

Quanto à outra pessoa visada, o procurador Ocampo é preciso: “O Ministério Público colombiano investiga as atividades do ex-mediador suíço (n.r.: Jean-Pierre Gontard) no conflito interno da Colômbia. O governo de Álvaro Uribe o acusa de ter ultrapassado suas prerrogativas em relação às Farc.”

“Se a Suíça ainda não abriu um inquérito”, acrescenta o procurador, “nós iremos pedir que as pessoas sejam interrogadas e que as informações colhidas nos sejam transmitidas. Iremos decidir em seguida se há justificativa para abrir ou não uma investigação oficial e de baixar ordem de prisão, como o fizemos no mês passado com Omar El Bechir, o presidente do Sudão”.

De fato, Jean-Pierre Gontard foi escutado em audiência na segunda-feira (2 de setembro) pela Comissão de Assuntos Internacionais do Conselho Nacional (Câmara dos Deputados) sobre seus contatos com as Farc. O mediador já havia comparecido na semana passada frente a uma comissão semelhante no Conselho dos Estados (Senado Federal).

Desmentido de Jean-Pierre Gontard

Bogotá acusa Gontard de ter levado à Colômbia somas consideráveis, dinheiro que teria servido para libertar dois empregados de uma multinacional farmacêutica seqüestrados pela guerrilha. Ele também foi acusado de ter transferido uma parte do resgate ao representante europeu das Farc em Lausanne.

As acusações são desmentidas por Jean-Pierre Gontard. “Não apenas não levei esse dinheiro, mas estava na Suíça durante as negociações. As autoridades do meu país estavam a par de cada detalhe desse negócio. Elas sabem quem entregou o dinheiro da Novartis.”

Gesto de apoio ou coincidência? Convidado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na segunda-feira para participar de uma cerimônia em memória do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello (morto há cinco anos durante um atentado contra a ONU no Iraque), Jean-Pierre Gontard sentou-se na tribuna de honra ao lado do procurador Ocampo.

Dick Marty em auxílio

Por sua vez, o presidente da comissão senatorial suíça, Dick Marty (que investigou as prisões secretas da CIA no Conselho da Europa) declarou que considera “correto” o trabalho feito por Gontard.

Em uma recente entrevista dada ao jornal Neue Luzerner Zeitung, ele explica que “os mediadores não são obrigatoriamente diplomatas. Eles têm competências absolutamente diferentes e outros contatos”. Ele disse ainda que os colombianos “querem esconder que a libertação de Ingrid Betancourt não ocorreu exatamente como eles declaram”.

Quanto ao caso Novartis, Dick Marty precisa: “O professor Gontard nos expôs de forma convincente que ele não tinha nada a ver com o pagamento do resgate. Ele sempre agiu de acordo com as instruções do Ministério suíço das Relações Exteriores.”

swissinfo, Juan Gasparini e Carole Vann

A Suíça mantém programas humanitários na Colômbia. O orçamento anual é de mais de 4 milhões de francos.

Desde 2002, ela se esforça em criar um mecanismo de diálogo entre as Farc e o governo colombiano para firmar um acordo humanitário visando libertar os reféns. Esse processo foi interrompido em julho por Bogotá, logo depois da libertação de Ingrid Betancourt e outros 14 reféns.

Desde o fim de 2005, a Suíça acompanha, junto com a Noruega e a Espanha, os diálogos de paz entre o governo colombiano e a segunda guerrilha do país, Exército de Libertação Nacional(ELN).

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