Lasso reconhece derrota em referendo para aprovar extradição no Equador
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, reconheceu na segunda-feira (6) a derrota do ‘Sim’ no referendo com o qual pretendia aprovar a extradição, depois das eleições de domingo nas quais o governo também perdeu a disputa nas prefeituras e governos com o avanço da esquerda.
“Aceito que a maioria não esteja de acordo que estes temas sejam resolvidos com as ferramentas colocadas em consideração no referendo”, afirmou Lasso em um discurso.
O chefe de Estado impopular, ex-banqueiro de direita, pediu “um debate amplo e sério, sem dogmas ou ideologias, sobre como enfrentar a ameaça que o narcotráfico e suas ligações com setores da política representam hoje”.
Com a consulta, Lasso propôs sem sucesso algumas reformas políticas, para o meio ambiente e a área de segurança, em um momento de violência sem precedentes no país.
E a derrota no referendo não foi o único fracasso do presidente. As prefeituras de Quito e Guayaquil, as principais cidades do país, foram conquistadas por partidários do ex-presidente esquerdista Rafael Correa (2007-2017).
O ex-chefe de Estado mantém grande influência apesar de morar há seis anos na Bélgica, onde recebeu asilo, e de ter sido condenado em 2020 a oito anos de prisão por corrupção. Da Europa, ele também defendeu o ‘Não’ no referendo.
Na pergunta central sobre extradição, o ‘Não’ recebeu 51% dos votos válidos contra 49% do ‘Sim’, de acordo com os resultados preliminares atualizados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que após a votação de domingo tem 10 dias para completar a apuração.
O CNE computou 96% dos registros de votação sobre a questão da extradição, mas 23% devem ser revisados antes da divulgação dos resultados oficiais.
– Punição ao governo –
O Executivo reclamou durante a segunda-feira da lentidão da apuração dos votos: em províncias com grande número de eleitores a contagem das outras sete perguntas da consulta não chegava a 1%.
Os resultados parciais surpreenderam o governo. Uma pesquisa da consultoria Cedatos, divulgada no sábado, projetava que 66% dos equatorianos eram favoráveis à extradição.
“As eleições em termos gerais demonstram uma rejeição dos eleitores ao governo de Lasso, que tem uma desaprovação de 80%”, declarou à AFP Sebastián Donoso, analista político da Universidade das Américas (UDLA).
Ele destaca que “os referendos no Equador historicamente são considerados um sim ou não ao governo do momento”.
Além da consulta, os equatorianos definiram quase 5.700 autoridades locais em um processo marcado pela violência do narcotráfico, que provocou as mortes de dois candidatos a prefeitura.
O ‘correísmo’ venceu pelo menos sete dos 23 governos provinciais, incluindo Guayas e Pichincha. Também conquistou as prefeituras de Quito e Guayaquil, a cidade portuária que foi reduto da direita por 30 anos.
“O governo do Equador terá a mão estendida para colaborar com vocês no que estiver ao nosso alcance”, afirmou Lasso, em referência aso vencedores das eleições.
– Consensos –
Com a oposição à frente dos governos locais, “serão anos muito difíceis para a agenda do Executivo, que com certeza terá que governar no dia a dia, sem pensar na possibilidade de políticas de médio prazo”, disse o cientista político Santiago Basabe, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) de Quito.
No discurso de 10 minutos, Lasso pediu “consensos elementares como sociedade”. “Se chegarmos a um acordo, um grande futuro nos espera”, acrescentou.
O presidente, que completará o mandato em 2025, defendia a extradição de equatorianos envolvidos com o crime organizado transnacional como uma ferramenta para fortalecer sua luta contra o narcotráfico.
O objetivo não declarado do governo era a entrega de narcotraficantes para os Estados Unidos, onde costumam ficar presos por muitos anos. A vizinha Colômbia, maior produtora mundial de cocaína no mundo, aplica esta medida desde a década de 1990.
Lasso também propôs nas consultas a redução do número de deputados, agora 137; controles de centenas de movimentos políticos, alguns suspeitos de terem ligações com o narcotráfico; a incorporação de sistemas hídricos a áreas protegidas para combater o garimpo ilegal; e o pagamento de compensações financeiras para aqueles que protegem o meio ambiente.