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Latinidade à toda prova

João Bosco tocou até músicas de Antônio Carlos Jobim. Montreux Jazz Festival

Brasil, Cuba e Estados Unidos: quando virtuoses como João Bosco, Gonzalo Rubalcaba e Carlos Santana se encontram, o público tem a sensação que a música gira em todo do continente americano.

E no final, o Festival de Jazz de Montreux ainda reserva surpresas, quando estrelas mundiais tocam de graça em “jam session”.

O “Casino Barrière de Montreux” é o espaço mundano nesse balneário turístico localizado nas margens do lago Léman. Seus caça-níqueis, mesas de carteado e roleta fazem a alegria e a tristeza dos turistas que os freqüentam.

Porém quando João Bosco subiu no palco do auditório repleto, localizado alguns andares acima dos salões da jogatina, o público presente tinha a impressão que dessa vez só tinha a ganhar.

Sentado na cadeira e com o violão apoiado na perna, o músico brasileiro tocou três canções solo e deu a impressão de estar com uma orquestra nos dedos e nas cordas vocais. O público delirou.

Cuba e Brasil

João Bosco, que o crítico Maurício Kubrusly chamou de “um branco que foi escurecendo e virou negão”, ao contrário do Michael Jackson, já é uma figura mais do que tarimbada nos palcos do Festival de Jazz de Montreux.

Com trinta anos de carreira e 22 discos gravados, ele há muito tempo transita entre a música popular brasileira e o jazz. Por isso, a escolha do cassino para apresentar o show, com seu ambiente de hotel esfumaçado e carpete vermelho, foi uma escolha feliz dos organizadores do evento.

Depois do solo, João Bosco trouxe ao palco o resto da banda, composta pelo guitarrista Nélson Faria, o baixista Ney Conceição e Kiko Freitas na bateria. Quando o grupo executou uma versão barroca do “Águas de Março” de Tom Jobim, o público tinha a impressão de estar escutando uma cascata de acordes e palavras cantadas.

O show se arredondou com a chegada do pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, uma das figuras de proa do movimento afro-cubano de jazz nascido nos anos 90. Antes de João Bosco, ele já havia se apresentado sozinho, com seu piano de cauda, composições intimistas que fizeram muitos presentes fecharem os olhos e sonharem um passeio por Havanna.

Cuba e Brasil. Dois países e dois estilos. Porém a música de Bosco e Rubalcaba se combinavam numa improvisação de jazz e tempero latino. O espetáculo terminou com grandes aplausos.

Lembranças de Woodstock

Em 2004, os organizadores resolveram homenagear um dos músicos latinos mais conhecidos no mundo: Carlos Santana. O guitarrista mexicano apresenta em Montreux, nada mais, nada menos, do que três shows.

Na terça-feira (13 de julho), ele entrou no palco em família. Seu filho, Salvador Santana, é também músico e domina o piano como se tivesse mais do que seus 21 anos. O pai recebeu no palco a sua banda, intitulada “Salvador Santana Band”, cuja trabalho é uma mistura de jazz, hip hop e world music. Depois, Carlos Santana viajou pelo tempo e tocou antigos sucessos, como alguns que já haviam animado o legendário festival de Woodstock, em 1969.

Não bastasse a concentração de bons concertos, o festival de Montreux ainda reserva supresas. Em clima intimista, às duas horas da manhã, depois que a grande parte do público já havia partido, pouco mais de cinqüenta pessoas se apertavam em frente ao bar do auditório Stravinski. No pequeno palco, a banda de Salvador Santana tocava e convidava presentes, que tivessem interesse de improvisar.

Sentado numa mesa estava Carlos Santana, que não resistiu ao pedido do filho e subiu para tocar guitarra e acompanhar dois “rappers”. Nada mais latino que a mistura.

swissinfo, Alexander Thoele, em Montreux

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