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A longa luta pelo sufrágio feminino

Lembrando a luta pelo direito de voto para as mulheres

Katharina Zennhäusern: em 1957, ele foi a primeira mulher suíça colocar uma cédula nas urnas. Keystone

Os habitantes de Unterbäch, uma pequena comuna no cantão do Valais (sul da Suíça) comemoram os 50 anos do direito de voto para as mulheres, um ato de revolta, organizado na época em completa ilegalidade.

Duas antigas ministras, Elisabeth Kopp e Ruth Dreifuss, participaram das comemorações, saudando o combate pela igualdade como “a maior e mais pacifica revolução do século XX”.

As duas primeiras mulheres a serem eleitas como ministras, o cargo máximo da política suíça, saudaram a coragem dos habitantes de Unterbäch.

Esse pequeno vilarejo de montanha, que se autodenominou “Grütli das mulheres” por analogia ao campo mítico nas margens do lago dos Quatro Cantões, onde nasceu a Suíça em 1291, vai comemorar durante todo o ano por sua ação rebelde de 1957.

O ponto alto dos festejos deve ocorrer durante as comemorações do Dia nacional, com a vinda programada da presidente da ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey.

Espírito precursor

Com 14 anos de avanço em relação ao resto da Suíça, Unterbäch decidiu convocar seus habitantes às urnas em 3 de março de 1957. Graças à decisão tomada pelo conselho comunal e contra a vontade do governo federal e cantonal, as mulheres ganharam pela primeira vez no país o direito de participar em uma votação federal.

O plebiscito realizado na época era para decidir a integração das mulheres na proteção civil. Para as autoridades do pequeno vilarejo nada mais justo do que permitir as próprias interessadas de dar sua opinião no projeto de lei.

O ato, simbólico pelo fato dos votos femininos não terem sido levados em consideração, havia sido preparado por dois homens: o prefeito do vilarejo, Paul Zenhäusern, e o prefeito do distrito, Peter von Roten. Os dois também eram deputados no parlamento cantonal no Valais. Apesar do pioneirismo, eles terminaram não reeleitos para os seus postos.

Na época o caso havia feito as manchetes dos jornais na Suíça e no exterior. Unterbäch chegou mesmo a se tornar tema de reportagem no New York Times, que lembrava o curioso fato da Suíça ser um dos últimos países na Europa a recusar o direito de voto para as mulheres. As urnas só foram abertas para elas em 1971.

Maltratadas

A esposa do prefeito, Katharina Zenhäusern, foi a primeira mulher a colocar sua cédula numa urna especialmente preparada para o voto feminino. Na hora de esvaziá-la, os checadores contaram apenas 32 cédulas para as 84 moradoras do vilarejo.

“No início eu não estava muito entusiasmada em votar pela questão da integração das mulheres à proteção civil”, conta Katharina Zenhäusern.

Porém seu marido, assim como Peter von Roten, marido da escritora feminista Iris von Roten, tinham uma opinião contrária. Eles estavam convencidos que havia chegado a hora de acabar com o poder absoluto dos homens.

Por sua parte, Katharina Zenhäusern se lembra perfeitamente do triste momento em que as mulheres que iam votar eram maltratadas pelos opositores do direito feminino ao voto. Dentre eles haviam também muitas mulheres.

A luta continua

No último final de semana em Unterbäch, Elisabeth Kopp estimou que o caminho em direção à igualdade das mulheres na política é ainda longo. Das três antigas ministras, apenas Ruth Dreifuss saiu voluntariamente do cargo.

“Em nível cantonal, a proporção de não reeleição é muito mais acentuada para as mulheres do que para os homens”, lembra-se Dreifuss, que saiu do governo em 1989 sob pressão da imprensa e dos partidos.

“É muito freqüente que as mulheres sejam lutadoras solitárias”, ainda acrescentou Elisabeth Kopp. “Raramente elas montam redes de contatos, um erro tipicamente feminino na política. Pessoalmente eu tive a capacidade de reunir todos contra mim”.

“Igualdade é um processo que nunca termina”, declarou a presidente da bancada do Partido Social Democrata no Parlamento, Ursula Wyss. “Precisamos combater continuamente pela igualdade de direitos”, conclui.

swissinfo e agências

A primeira associação feminista suíça foi criada em 1868. Sua principal reivindicação eram garantir os direitos civis para as mulheres e de estudos nas universidades. Na época as ativistas lutaram pela inclusão do direito de voto feminino nas Constituição de 1874.

Em 1929, uma petição solicitando o direito de voto para as mulheres recebeu 250 mil assinaturas. Ela foi, porém, ignorada pelos partidos.

Foi uma minúscula comuna no cantão do Valais (sul da Suíça) que, em 1957, a primeira a autorizar as habitantes do sexo feminino a votar. Depois vários cantões começaram aos poucos a seguir o exemplo.

Nos anos 60, as mulheres começaram a ocupar postos cada vez mais importantes nos partidos e governos locais.

Depois da primeira recusa em 1959, os eleitores do sexo masculino terminaram dando o direito de voto em nível federal para as mulheres em 1971.

1971: direito de voto para as mulheres em nível federal.
1976: criação de uma comissão federal para questões femininas.
1981: o princípio da igualdade entre homens e mulheres entra para a Constituição Helvética.
1991 : primeira greve nacional das mulheres.
1996: a Lei federal sobre a igualdade entre homens e mulheres entra em vigor.

A concretização da igualdade entre homens e mulheres implica adaptação das leis. Várias mudanças importantes ocorreram nas duas últimas décadas:
Artigo constitucional sobre a igualdade dos direitos dos homens e mulheres (1981)
Novas Leis do matrimônio (1988)
Nova Lei da nacionalidade (1992)
Lei sobre a igualdade (1996)
10a revisão do Sistema Previdenciário Suíço – AVS (1997)
Nova Lei do divórcio (2000)
Licença-maternidade (2005)

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