Libaneses discutem crise do país na Suíça
Com o apoio do Ministério das Relações Exteriores, ocorreu na Suíça a segunda reunião inter-libanesa, de maneira quase secreta, em Mont-Pelerin, um vilarejo perto de Lausanne, oeste da Suíça.
Ao final do encontro que durou três dias, foi redigido um comunicado comum reafimando o desejo de todas as partes de defender a independência e a especificidade do Líbano no Oriente Médio.
Dividido por forças internas e externas, o Líbano passa por um período muito delicado. Essa luta tem como pano de fundo as eleições presidenciais dentro de alguns meses e realça a proeza da Associação Suíça pelo Diálogo Euro-Arabo-Muçulmano (ASDEAM).
Trata-se de uma ONG criada em Genebra há um ano com o objetivo de reunir representantes de quase todas as correntes políticas e religiosas que compõem (e dividem) o Líbano.
Como explica Ives Besson, co-diretor da ASDEAM, esse processo de diálogo é, por enquanto, o único que funciona. A mediação da Liga Árabe não avança nem o projeto de conferência proposto pela diplomacia francesa.
“Nas circunstâncias atuais, é para destacar que os participantes tenham chegado a um acordo para elaborar um comunicado comum tão substancial”, comenta Johann Aeschlimann, porta-voz do Ministério suíço das Relações Exteriores (DFAE).
Ele acrescenta: “esperamos que esse resultado e o processo desencadeado produzam efeitos positivos para além do círculo de participantes”.
Pontos de convergência
Nesse documento, o conjunto de participantes concordaram em afirmar que a crise libanesa deve ser resolvida pelos próprios libaneses. Eles reafirmam a vontade de viver juntos com base na igualdade, qualquer que seja a confissão.
O documento vai ainda mais longe ao reafirmar a necessidade de mudar o princípio atual de repartição do poder segundo critérios confissionais e a importância de uma justiça independente.
Para isso, os libaneses reunidos na Suíça pedem uma aplicação integral dos acordos de Taëf, firmados em 1989 e que encerraram a guerra civil.
Enfim, o comunicado reafirma o monopólio do Estado no uso da força, bem como o direito de resistir a toda ingerência externa.
No final do documento, os participantes afirmam sua vontade de prosseguir e aprofundar suas discussões no Líbano e na Suíça.
Reunião informal
De fato, nos dois encontros que mantiveram em Mont-Pèlerin (oeste), os próprios dirigentes das facções libanesas não participaram e sim conselheiros políticos, deputados, universitários e advogados próximos dos dirigentes.
Além disso, o primeiro objetivo dos encontros (o primeiro ocorreu no final de abril) não é resolver os problems urgentes da crise libanesa mas discutir suas causas profundas.
O caráter informal e exploratório dessas discussões explica portanto, em parte, o fato de serem bem-sucedidas. Contudo, não se trata apenas de um puro exercício de estilo sem conseqüência para a crise libanesa que opõe o governo, dominnado pelos sunitas, à presidência da república, exercida por um cristão marronita aliado do Hezbollah chiita.
“Esta segunda reunião transcorreu em uma atmosfera ainda melhor do que a primeira. Resultado: os participantes libaneses decididram redigir um comunicado com que submeterão às hierarquias respectivas”, precisa Yves Besson.
Primeiro objetivo atingido
O ex-diplomata soblinha ainda os progressos obtidos nesses dois primeiros encontros: “atingimos nossos objetivos, isto é, fazer com que trabalhassem juntos os representantes das diferentes correntes libanesas, colocar por escrito os pontos convergentes e os litígios, abordar as soluções sem obrigatoriamente obter unanimidade. Cada um teve de refletir sobre soluções e ouvir a reflexão dos outros.”
Claro que ainda é muito cedo para medir o impacto desse processo, mas a fórmula proposta pela Suíça permite, segundo Yves Besson, de apoiá-lo, seja pela sua Assoociaço ou, em caso de necessidade, recorrer à diplomacia suíça.
swissinfo, Frédéric Burnand, Genebra
A Associação Suíça pelo Diálogo Euro-Árabo-Muçulmano organizou até agora duas reuniões sobre para discutir a crise que ameaça se extender no Líbano.
Esses reuniões ocorreram em abril e junho deste ano no vilarejo de Mont-Pèlerin, perto de Lausanne, oeste da Suíça.
Participaram uma dezena de personalidades representativas de quase todas as correntes político-religiosas do Líbano.
A diplomacia suíça apóia financeiramente o processo e acompanha as discussões.
1989: Os acordos de Taëf encerrram a guerra civil iniciada em 1975.
2000: exército israelense retira-se do sul do Líbano, ocupado desde 1978.
2004: a resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU exige a retirada das tropas sírias do Líbano e o fim das atividades militares do Hezbollah.
2005: o ex-primeiro ministro libanês Rafic Hariri morre num atentado cometido com um caminhão-bomba. A ONU mandata investigadores para apurar o caso para posterior julgamento dos responsáveis do assassinato.
2006: uma guerra de um mês opõe Israel e a milícia do Hezbollah provocando a morte de mais de mil civis.
Dia 20 de maio 2007: início dos combates no campo palestino de de Nahr Al-Bared entre o exército libanês e o grupo Fatah Al-Islam.
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