Perspectivas suíças em 10 idiomas

Livro decodifica dialeto suíço-alemão

Caricatura mostra como é complicado entender o dialeto suíço. Hoi - Your Swiss German survival guide/Sergio Lievano

Uma obra recém-publicada introduz estrangeiros de forma bem-humorada nos mistérios do suíço-alemão, o dialeto falado pelos suíços.

“Hoi – your Swiss German survival guide” foi escrito em inglês e explica expressões intraduzíveis de um idioma incompreensível…para os não-iniciados.

Traduções inteligíveis de expressões do dialeto suíço-alemão como “Ä längi Leitig ha” são encontradas na obra. Em inglês ela significa “to be slow on the uptake”, ou seja, “lento para compreender as coisas”.

“Hoi – your Swiss German survival guide” é o título do livro. Publicado pela editora Bergli Books, ele oferece em 168 páginas mais de 200 caricaturas coloridas. Elas servem para animar os estrangeiros que chegam à Suíça e tentam se integrar através do aprendizado do idioma nativo. A maior parte se frustra depois de algumas semanas: afinal, o suíço-alemão é tão difícil que chegou até a ser utilizado na 2a Guerra Mundial como código contra os nazistas.

– A idéia do livro surgiu quando comecei a aprender o dialeto com a Nicole Egger, co-autora e minha primeira professora – conta o cartunista anglo-colombiano Sergio Lievano, que vive nos arredores de Zurique. Ele deu seus primeiros passos aprendendo o alemão standard, uma estratégia indicada não apenas por professores de idiomas, mas também pelos próprios suíços.

– Os primeiros desenhos ilustram situações cômicas de estrangeiros que se desesperam para aprender o suíço-alemão e compreender os hábitos do país.

Manual de sobrevivência

O livro começa com um curto resumo sobre a origem do dialeto, explicando como este se distanciou historicamente do alemão padrão e sobreviveu, apesar de ser falado apenas por alguns milhões de pessoas na Europa.

Uma das ilustrações mostra um suíço-alemão falando no microfone de um pesado aparelho de tradução. Ele tenta descobrir quais influências externas foram decisivas para a formação desse dialeto. Uma delas poderiam ser as montanhas nos Alpes. Esse gigantescos obstáculos físicos teriam “filtrado” o alemão normal até sua chegada nos vales mais distantes da Suíça.

– Percebi que muitos dos meus estudantes ficavam frustrados quando eles descobriam que o alemão padrão não é o idioma falado aqui – explica Egger, que é lingüista formada.

– Nosso objetivo é dar aos estrangeiros a oportunidade de se familiarizar com o suíço-alemão básico. Assim eles podem se sentir mais à vontade no país. Afinal, a chave para o coração dos habitantes dessa parte da Suíça é o dialeto e não o alemão correto.

A segunda parte do livro, intitulada “Sirvival Kit” (Kit de sobrevivência), é dedicada à gramática e situações do cotidiano, exemplificadas através de frases e chavões.

Surpreendente, o livro “Hoi” é um dos poucos livros não-acadêmicos sobre o suíço-alemão dedicado aos estudantes de línguas.

Palavras cruzadas

Um outro exemplo no cotidiano de estrangeiros recém-chegados na Suíça é mostrado através de um diálogo fictício numa livraria:

– “Um dicionário de suíço-alemão?” – pergunta a vendedora da livraria ao cliente. Ela responde: – “Sim, no andar superior, seção de quebra-cabeças e palavras cruzadas”.

A ilustração está no capítulo intitulado “Frases comuns utilizadas durante as compras”.

– Todas as caricaturas são baseadas nas minhas experiências do cotidiano – afirma Lievano.

– Estrangeiros costumam passar situações difíceis nos correios suíços quando eles não entendem o que os funcionários falam. Aproveito esses momentos para tentar captar suas expressões faciais e memorizá-las. Isso já aconteceu comigo várias vezes. No final, a frustração foi a maior motivadora das minhas ilustrações”.

Linguistas amadores ou pessoas com conhecimentos médios de francês ou inglês irão encontrar no livro várias expressões que lhe parecerão familiares: os suíços de expressão alemã preferem dizer “Merci” (francês) do que “Danke schön” (alemão correto) quando querem dizer “Obrigado”; eles também falam “Vélo” (francês) ao invés de “Fahrrad” (alemão correto), para “bicicleta”.

Brincando com o inglês

O idioma de Shakespeare está se tornando cada vez mais importante no mundo. Ele é hoje em dia não apenas a língua dos negócios, mas também de comunicação jovem. Mesmo dialetos como o suíço-alemão não conseguem fugir da sua influência.

Palavras como “cool”, “meeting”, “forward” e “attachment” (da Internet), “teeni” (de “teenager”), “game-ah” (que vem de “play video games”), e “schoot-ah” (sinônimo de futebol originário do inglês “shoot”) já fazem parte do vocabulário cotidiano dos suíços mais jovens.

– O inglês aumenta sua influência através dos negócios, esportes, música e estilo de vida – afirma Egger.

– O surgimento de termos novos no dialeto ocorrem quando os suíços pegam palavras do inglês e incluem no seu próprio idioma, criando novas palavras e incluíndo terminações típicas do suíço-alemão. Um exemplo é “fooda”, que vem de “eat” (comer). A palavra “food” é a origem, mas o jeito como ela é usada vem inteiramente do suíço-alemão. Essa é a tranformação mais comum do dialeto.

– As vezes, as pessoas conhecem a palavra inglesa, mas não a tradução para o alemão. Os alemães se dão o trabalho de traduzir termos do inglês para o seu próprio idioma. Eles falam “Rechner” ao invés de “computer”. Os suíços já falam “PC”, que vem do inglês “personal computer”.

A terceira parte do livro é dedicada às gírias e os diferentes tipos de dialetos do suíço-alemão, muitos deles extremamente singulares.

Cachorro enterrado

Quando um suíço-alemão quer chegar ao cerne da questão, ele costuma dizer que precisa saber “onde o cachorro está enterrado”, conta o livro.

Essas dicas são importantes para o recém-chegado e interessado numa integração mais rápida. Porém os autores advertem que o dialeto suíço-alemão vive um processo contínuo de modernização e modificação, ou seja, não é possível parar de aprender.

Egger conta que uma das mais recentes influências na formação do dialeto vem dos albaneses do Kosovo. Oriundos de uma recente leva de imigração, esse grupo é um dos que mais cresceram nos últimos anos. A segunda geração, albaneses já nascidos na Suíça, chegou mesmo a inventar uma mistura entre seu próprio idioma e o suíço-alemão.

– Trata-se de uma forma de falar rápida e cheia de novas palavras, o que chega ainfluenciar até a sintaxe do dialeto. Muitos jovens consideram esse linguajar moderno e diferente. Até mesmo os suíços gostam de copiá-lo.

swissinfo, Dale Bechtel
traduzido por Alexander Thoele

Dois terços da população suíça falam o suíço-alemão.
Pouco mais de 20% tem o francês como língua materna, 6,5% o italiano e 10% falam outros idiomas.
O inglês é falado como língua materna por apenas 1% da população, porém é cada vez mais influente nos idiomas locais devido a sua importância.

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