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Lucerna tem clima de interior

Lucerna tem uma das mais antigas pontes coberta de madeira da Europa. ST/swiss-image.ch

Luzerna é a porta de entrada para o centro "histórico" da Suíça. A cidade está cercada de montanhas, água e belas paisagens verdes.

Durante o ano, a cidade atrai turistas através de eventos como o “Fumetto”, o Festival Internacional de Quadrinhos” e o “Blue Balls Festival”, festival de música ao ar livre.

Por ser um país pequeno e contemplado por uma eficiente rede ferroviária, a Suíça permite que seus visitantes possam aproveitar várias cidades numa única viagem, ainda que esta seja curta. Um desses recantos facilmente atingíveis é a charmosa Lucerna, uma pequenina cidade onde o tempo parece ter parado. A apenas 45 minutos de Zurique, o turista conhece uma outra faceta do país ao desembarcar do trem: ruas estreitas, gente andando a pé, crianças alimentando os gansos. Tudo emoldurado pelos imponentes e alvos alpes suíços.
Lucerna tem o clima das cidades do interior, com aquela simpatia dos lugares onde todos parecem se conhecer. Ao todo, a cidade tem 60 mil habitantes e a melhor maneira de conhecê-la é a pé, explorando suas ruelas levemente desniveladas e cruzando as pontes que atravessam o Rio Reuss.

A mais famosa delas é o símbolo da cidade: a Ponte da Capela, que fazia parte das fortificações erguidas quando Lucerna se separou da dinastia dos Habsburgs, no século 14. Até o século 17 a ponte era fechada e, quando ela finalmente foi aberta ao público, o artista Henry Wagmann fez 147 pinturas ilustrativas para adornar a passagem. Todas elas contam lendas, combates e histórias referentes à cidade, além de trazerem o brasão da família que a patrocinou. Mas, em um incêndio ocorrido em 1993, 100 pinturas foram queimadas, para a tristeza de moradores e visitantes de Lucerna.

É através das andanças que se descobre os encantos e a história da cidade. Um dos edifícios mais importantes é a Igreja dos Jesuítas, que chegaram a Lucerna em 1574, fugidos da reforma religiosa ocorrida no país. Diferentemente da maioria dos Estados suíços, que aderiram ao protestantismo, Lucerna não o fez. Hoje, ela é metade católica, metade protestante. A igreja só foi concluída em 1666 em estilo barroco e tem como padroeiro São Francisco Xavier.

Em 1848, entretanto, os jesuítas foram expulsos da cidade depois que o partido dos liberais ganhou as eleições. Explica-se: os religiosos apoiavam os conservadores e por exercerem tremenda influência na população passaram a ser sinônimo de ameaça ao poder. Próximo à igreja está o Palácio do Governo, construído em estilo renascentista para ser uma casa particular. Logo a seguir, outro prédio governamental, facilmente identificado por uma razão: em Lucerna, todas as casas que possuem as janelas pintadas em azul e branco ou pertencem ao Estado ou têm caráter histórico.

Um dos charmes da cidade são justamente suas pontes: sete, ao todo. A formação de Lucerna está diretamente relacionada a elas e, pela abundância de água, por muito tempo foi conhecida como a Veneza suíça. O rio só foi aterrado em 1860 e até hoje suas águas são controladas por barragens para evitar inundações. Em 1168 foi construída a primeira das pontes, quando a cidade ainda era uma aldeia de pescadores. Na Ponte do Moinho, de 1408, também há pinturas semelhantes às da Capela.

Lucerna foi uma cidade murada e boa parte de suas muralhas ainda estão intactas: há ainda hoje 870 metros delas, além de três torres de observação que podem ser visitadas. Em uma está o relógio mais antigo da cidade, construído em 1535. Ao ouvir suas badaladas, não pense que seu relógio está atrasado: sua peculiaridade é justamente a de tocar um minuto antes de todos os outros de Lucerna. Duas outras edificações merecem atenção. Uma delas é a Câmara Municipal, cujo telhado inclinado, importado de uma fazenda de Berna, causou polêmica na população. Para completar, é vermelho sangue. A outra é o monumento conhecido como Leão Moribundo, uma homenagem aos mercenários suíços que perderam a vida no assalto às Tulherias em 1792.

Passeio inesquecível
Distância: de trem, são 45 minutos de Zurique.

Monte Pilatus
O passeio ao Pilatus inclui a ida de barco até Alpnachstad, subida de bondinho e volta de teleférico. O bilhete custa 77,2 francos (R$ 144) por adulto.

O que ver
Centro cultural e de convenções – Projeto do arquiteto francês Jean Nouvel, tem uma das melhores salas de concerto do mundo, com capacidade para 1.800 pessoas. A construção integra ainda o Museu de Arte de Lucerna.

Museu Picasso – Para amantes de arte moderna, um presente: um museu exclusivamente dedicado a Picasso, com uma reunião de suas mais importantes gravuras nos seus últimos anos de vida.

Laranjas e foliões no carnaval suíço

Impossível passar indiferente pelas alegres fachadas de Lucerna, normalmente decoradas de cima a baixo com algum tema específico. Características da cidade, a maioria delas tem como autor Serafim Weingartner, artista que veio da Basiléia e foi diretor da escola de arte de Lucerna. Tornou-se responsável por muitos dos afrescos pintados nas construções locais, como a fachada do Hotel des Balances.

Na Praça do Mercado de Vinho há outra obra de Weingartner, estampada na farmácia mais antiga da cidade. O local, aliás, foi onde nasceu o carnaval de Lucerna, o mais tradicional da Suíça. A festa, assim como a nossa, também ocorre anualmente em fevereiro. Os foliões saem de casa fantasiados e de máscaras. Mas as semelhanças param por aí: em Lucerna, o som é uma grande cacofonia de instrumentos de sopro. Nada de surdo ou pandeiro…

Outra tradição do carnaval de Lucerna é o embate das laranjas, que abre oficialmente a festa na Praça da Capela. O ritual – uma verdadeira guerra das frutas – remete ao antigo costume de distribuir laranjas para as crianças no carnaval. Mimo que virou diversão naquelas bandas.

O carnaval surgiu das apresentações de peças teatrais e exibições de armas na Praça do Mercado do Vinho, única ocasião onde o consumo da bebida era liberado publicamente. Deu no que deu. Hoje sua importância é tanta que há uma fachada pintada com o tema, na Sternemplatz, e uma fonte de água dedicada a Fritschi, idealizador da folia, na Praça da Capela. Imagine se eles conhecem o Sambódromo!

Beleza e vertigem nas alturas

Quem pensa que Lucerna limita-se ao turismo histórico engana-se. A cidade reserva aos visitantes um passeio de tirar o fôlego: ora pela beleza, ora pela ousadia. Por mais corajoso que seja o visitante, impossível evitar o friozinho na barriga ao encarar mais de 2 mil metros de altitude. É a esta altura que se chega ao visitar o Monte Pilatus, cujo topo permanece coberto de neve o ano inteiro.

A aventura começa com um pacato passeio de barco pelo Lago Lucerna. Até a chegada à estação de Alpnachstad a atração é a vista dos alpes, entre eles o Rigi. No verão, o lago é aproveitado para esportes aquáticos. Mas a calmaria dura pouco e, ao desembarcar do barco, o turista entra numa espécie de bondinho – famoso por ser um dos mais íngremes do planeta – que o levará ao topo do Pilatus. O passeio, em meio a paredões rochosos, volta e meia surpreende os viajantes ao descortinar paisagens lindíssimas, verdadeiros abismos tendo as águas do Lago Lucerna ao fundo. Os flashes das máquinas disparam, assim como as batidas do coração.

O medo da altura, para quem o tem, se dispersa à medida que o trem se aproxima do topo. É quando começam a surgir pequenas manchas de neve sobre as pedras, ainda que a visita aconteça no auge do verão. Lá em cima, a vista soberana impressiona os turistas. Mas só os mais corajosos podem se dar ao luxo de percorrer as estreitas trilhas que levam a mirantes. Para quem sofre de vertigem, o melhor mesmo é esperar num dos restaurantes situados no topo do Pilatus, sem necessidade de enfrentar escadinhas de alumínio e neblina. A visão – garante a repórter com fobia de altura – não é menos compensadora.

O Monte Pilatus é cercado de lendas, que envolvem dragões e personagens históricos. Uma delas, que deu origem a seu nome, conta que o corpo do governador romano Pôncio Pilatos está ali enterrado, já que foi no monte o único lugar que sua alma pôde descansar.

Para voltar a Lucerna, há duas maneiras: o teleférico, onde mais uma vez a vista é a grande estrela; ou o divertido tobogã montado no verão. Escorrega-se por mais de 1.300 metros, entre curvas e túneis, até a chegada a Fräkmüntegg. De lá, pega-se o teleférico e com mais 15 minutos chega-se a Kriens, de onde um ônibus o leva até Lucerna em minutos. Uma delícia.

swissinfo, Florença Mazza

* reportagem publicada no Jornal do Brasil em 21 de agosto de 2005

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