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Lutar contra pirataria causa polêmica na Suíça

Ainda não se sabe se haverá soldados a bordo de navios suíços ao largo da Somália. Keystone

A idéia do governo de enviar soldados para proteger os navios helvéticos contra ataques de piratas na costa da Somália suscita debates na Suíça.

A crítica predomina e muitas questões estão em aberto. A decisão será tomada no ano que vem.

“A Suíça não tem outra escolha” a não ser enviar soldados nos navios suíços para protegê-los dos ataques dos piratas ao largo da Somália. A declaração foi feita pelo ministro do Interior e presidente da Suíça até o final do ano, Pascal Couchepin, aos jornais no último final de semana.

Segunda-feira (22), a ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, explicou na televisão que a idéia veio de seu ministério. A questão foi provavelmente debatida na última reunião do governo este ano, sexta-feira passada.

Apelo de um armador

“Um navio de pavilhão suíço foi perseguido na semana passada e recebi uma carta de um armador solicitando a proteção dos navios suíços”, afirmou a chanceler à televisão suíça TSR.

A Suíça, contudo, não pretende agir sozinha. Segundo Micheline Calmy-Rey, o governo examina a possibilidade de participar das tropas especiais da missão européia Atalante, que tem a tarefa de escoltar os navios e dissuadir os piratas.

Em contrapartida, a União Européia (UE) escoltaria os navios de pavilhão suíço. “Outras forças nos protegerão se a Suíça participar da operação”, explicou a ministra das Relações Exteriores. Ela calcula que a operação Atalante estará operacional em três meses.

Uma idéia “louca”

A idéia do governo federal (Conselho Federal) foi acolhida com prudência pela classe política. Tanto à direita como à esquerda, sublinhou-se a falta de experiência dos soldados suíços em alto-mar e a incompatibilidade com a neutralidade suíça.

Certos especialistas também criticaram o projeto. Albert Stahel, especialista em estratégia militar e professor na Escola Politécnica Federal de Zurique (EPFZ), o qualificou de “louco”. Para ele, é preciso encontrar uma “solução séria”, como, por exemplo, a proteção de navios com pavilhão suíço pelas forças navais de um outro país.

Os riscos que os piratas subam a bordo, afundem um navio suíço, façam reféns e matem soldados a bordo são reais, afirma Albert Stahel. Dentro do exército, os céticos também se exprimiram. O presidente da Sociedade de Oficiais, Hans Schatzmann, qualificou o projeto de “idéia exótica.”

Forças especiais suíças

Por enquanto, o governo não forneceu detalhes acerca do engajamento de soldados suíços nos navios ao largo da Somália. Vários jornais mencionaram terça-feira (23) a capacidade de uma tropa de elite do exército suíço para esse tipo de missão. Composta de cerca de trinta soldados profissionais voluntários e baseada no Ticino (sul do país), a DRA 10 é treinada para intervir em crises e já efetuou missões no estrangeiro, como em Teerã, em 2006.

Segundo um especialista francês citado pelo jornal Le Temps, de Genebra, a competência da DRA 10 é similar à da SAS britânica ou do GIGN francês. No jornal Le Matin, de Lausanne, outro especialista estima que esse pequeno grupo de militares seria suficiente para proteger um navio durante a travessia do Golfo de Aden, onde atuam os piratas somalianos. O comando, que deveria ter um treinamento especial para essa missão, passaria assim de um navio a outro.

Decisão em 2009

Se o governo está disposto a enviar soldados suíços armados a bordo dos navios helvéticos, como outros países já o fizeram depois de recentes resoluções da ONU, ainda restam questões jurídicas, militares e financeiras a discutir.

A lei suíça sobre o exército permite enviar soldados ao estrangeiro por razões humanitárias ou na defesa de interesses suíços. O caso de ataques de piratas a navios ao largo da Somália se enquadra juridicamente? Quem deve pagar as despesas se os navios suíços pertencem a armadores privados? Todas essas questões ainda devem ser respondidas antes de uma eventual decisão na próxima reunião do governo federal, marcada para 14 de janeiro de 2009.

A última palavra, contudo, cabe ao Parlamento. Os debates deverão ser animados porque refutar o envio de militares suíços ao estrangeiro é um dos temas prediletos da União Democrática do Centro (UDC, direita nacionalista) e maior partido do país. É desse partido o novo ministro da Defesa, Ueli Maurer, que assume em janeiro. Será um início de mandato bem difícil.

swissinfo com agências

A Suíça é o país não marítimo com a maior frota mercante do mundo.

35 navios de carga, porta-contêiners, petroleiros e de transporte de produtos químicos têm pavilhão suíço. No total, esses navios podem transportar mais de um milhão de toneladas.

Entre os 600 marinheiros que trabalham nesses navios, há apenas seis suíços.

A frota mercante suíça tem uma importância econômica e estratégica essencial. Em tempos de paz, ela participa do transporte normal de mercadorias.

Em tempos de guerra ou de crise, a Confederação Helvética pode requisitar os navios no interesse do país.

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