Perspectivas suíças em 10 idiomas

Médicos utilizam serviço de intérprete por telefone

Estrangeiros têm muitas vezes dificuldades para explicar aos médicos o que sentem. Keystone

Imigrantes que não falam um dos idiomas nacionais na Suíça costumam ter problemas no momento em que necessitam de ajuda médica.

Para ajudar a resolver o problema, um serviço de tradução por telefone durante emergências médicas ou esclarecimentos rápidos funciona desde 1° de abril. A tradução é feita de 12 idiomas para o alemão, francês ou italiano.

Os intérpretes comunitários já estão disponíveis para ajudar durante as consultas. Mas desde 1° de abril, médicos podem também contatá-los por telefone para ter traduções simultâneas em situações de emergência.

O Departamento Federal de Saúde selecionou Medios, um braço da organização AOZ em Zurique, especializada na integração social e profissional, para executar o projeto-piloto. Medios disponibiliza intérpretes para traduzir de 12 diferentes idiomas para o alemão, francês ou italiano, os três dos quatro idiomas oficiais da Suíça (o quarto é o reto-romano).

Estudos mostraram (veja links na coluna da direita) que, por uma série de razões, as comunidades de imigrantes têm geralmente um nível mais baixo de condição de saúde do que a população nativa.

A Constituição helvética afirma que “cada habitante tem direito aos serviços de saúde que necessita”, mas oferecê-los pode ser difícil se existem problemas de comunicação entre o médico e o paciente. 

O Departamento Federal de Saúde avalia no seu website que tratamentos médicos inadequados podem, em longo prazo, ter “um efeito negativo” sobre o desenvolvimento das doenças, o que consequentemente gera custos mais elevados para o sistema de saúde.

A profissão de intérprete comunitário, cuja função é ajudar a explicar os diferentes costumes e culturas dos países de origem dos diferentes pacientes durante tratamentos médicos, é reconhecida desde 2009. Isso significa que existem cursos de treinamento, capazes de validar as qualificações em todo o país.

Serviço telefônico

Os hospitais interessados em utilizar o novo serviço telefônico se registram na Medios e recebem um código de segurança. Após esse procedimento, é possível ligar a qualquer hora do dia e da noite e o contato com o intérprete é feito em cerca de cinco minutos.

“Calculamos que é necessário ter uma quantidade suficiente de intérpretes nos doze diferentes idiomas. Assim podemos estar seguros de encontrar pelo menos um deles em casa”, explica Thomas Kunz, diretor da AOZ.

Algumas importantes diferenças irão ocorrer em relação ao trabalho com a presença direta no consultório, sobretudo, pois os intérpretes não terão tempo para se preparar. “Se você recebe um telefonema a uma e meia da manhã e, repentinamente tem de traduzir algo, ir do zero aos 100 por cento é um desafio. E, além disso, você também não pode ver a pessoa com quem está falando”, afirma Kunz.

Mas Necdet Civkin, com bastante experiência como intérprete comunitário, não se mostra intimidado. “Eu estou preparado para agir a qualquer hora do dia ou da noite. A tradução ao telefone irá durar somente de dez a vinte minutos. Você não tem chance de se preparar, mas não será um trabalho complicado. Portanto, acho que é praticável”, assegura.

Novas qualificações

Sanja Lukic chefia o serviço Medios. Ela admite que o trabalho não seja para qualquer um. “Obviamente não é qualquer pessoa que gosta de estar permanente a postos para uma chamada. Mas outros dizem que é exatamente isso que lhes agrada. Ao final, trata-se de uma decisão pessoal.”

O projeto ainda está na sua fase piloto. Medios também acredita que o trabalho poderá mudar à medida que mais experiências são feitas. Por exemplo, outras línguas podem ser oferecidas caso exista uma demanda. Além disso, a sociedade também realizando planos de criar um módulo de tradução telefônica como parte do certificado profissional de intérprete comunitário.

O trabalho de intérprete comunitário requer muito mais qualificações do que o simples conhecimento de idiomas. “Uma pessoa pode ser capaz de falar e escrever duas línguas fluentemente, mas isso não significa que seja capaz de traduzir simultaneamente. Esse é um trabalho especial”, explica Civkin. “Você precisa realmente saber escutar e processar o que foi dito para todos os lados. Você precisa ter uma espécie de intuição.”

Balanço delicado

A situação do intérprete é paradoxa, de certa forma, como explica Lukic a partir da sua experiência na área. “Por um lado, a pessoa que traduz tem absoluto poder, afinal ela entende tudo. Mas do outro, você precisa tentar ser o mais invisível e discreto possível. A regra principal: o terapeuta bem qualificado é a pessoa que está guia a conversação.”

“Existe um equilíbrio a ser encontrado entre a empatia e a dissociação. Não seria muito bom ter muita empatia, mas se funciono como uma máquina seria uma falta de respeito em relação ao paciente.”

Civkin ressalta que intérpretes traduzem o mais próximo possível do original, mas é o terapeuta que precisa fazer outras perguntas se as respostas não são claras.

“Turcos costumam dizer ‘huh, huh’ ou balançam a cabeça, e o médico me pergunta o que isso significa. Eu digo a ele que pode ser ‘sim’ ou ‘não’. Assim é o médico que precisa perguntar a pessoa diretamente o que ela está querendo dizer.”

“Obviamente essas não são conversações normais”, lembra Kunz. “Existe uma razão específica para o comportamento. Existe um problema para ser solucionado.”

Não são apenas os pacientes e terapeutas que têm interesse na compreensão mútua, que explica porque os hospitais e outros usuários estão dispostos a pagar para o serviço de intérpretes, continua a explicar.

“Nos últimos anos as instituições começaram a perceber que podem trabalhar muito melhor, e de forma mais eficiente, se começam assegurando-se que a comunicação funciona.”

Existem atualmente cerca de 200 mil pessoas vivendo na Suíça e que não falam um dos quatro idiomas nacionais ou o inglês.

Outros que dominam melhor os idiomas têm dificuldades em falar sobre questões complexas relacionadas à saúde.

Essa dificuldade pode tornar o tratamento mais difícil ou mesmo impossível.

Também existem problemas culturais que impedem o entendimento entre o paciente e o médico.

O serviço de tradução telefônica funciona 24 horas por dia.

Ele oferece intérpretes nos seguintes idiomas: albanês, árabe, italiano, curdo, português, russo, servo-croata, somali, espanhol, tamil, tigrinya (falado na Eritréia e ao norte da Etiópia) e turco.

Esses profissionais traduzem nas três línguas oficiais: alemão, francês e italiano.

O serviço custa aos usuários (hospitais, por exemplo) quatro francos por minuto depois que a conexão foi feita com um intérprete.

O Departamento Federal de Saúde vai apoiar financeiramente o serviço até o final de 2013. Depois ele precisa ser autossustentável.

Os usuários precisam se registrar para receber uma senha, o que evita abusos do sistema.

O número de telefone: 0842 442 442.

Adaptação: Alexander Thoele

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