Perspectivas suíças em 10 idiomas

Máquina do Big Bang “brilha” por série de panes

Maior máquina do planeta está desativada para conserto. Keystone

Apesar de permanecer desativado até o início de 2009, o Grande Colisor de Hádrons (LHC) da Organização Européia de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) pode ser considerado um caso de sorte para a ciência.

As discussões sobre o fim do mundo, desencadeadas pela ativação da maior máquina do planeta, e as panes técnicas que a paralisam por meio ano, despertaram o interesse público pela Física Quântica.

Experiências com aceleração de partículas não costumam ser espetaculares. É impossível, por exemplo, fotografar as partículas carregadas de energia. E as colisões previstas no LHC só podem ser analisadas por uma parafernália de programas de computação.

Mas um professor considerado excêntrico, o norte-americano Walter Wagner, conseguiu dar ao superacelerador de partículas situado na fronteira entre a Suíça e a França uma popularidade que nenhuma agência de publicidade seria capaz de lhe dar.

Ao desenhar cenários apocalípticos a partir dos supostos buracos negros que seriam fabricados no Cern e levar o assunto à Justiça nos EUA, Wagner colocou o LHC nas manchetes da imprensa internacional.

Seu medo de que a Terra possa sumir num desses buracos, no entanto, é comparado por especialistas ao temor que os navegadores medievais tinham de despencar da Terra em suas longas viagens de descobrimento.

Problema elétrico e ataque virtual

Até agora, porém, o LCH se destacou menos por suas descobertas ou supostas “ameaças de fim do mundo” do que por suas panes. Logo após a inauguração, em 10 de setembro, o acelerador de partículas foi paralisado pela primeira vez, devido a um problema elétrico que afetou o sistema de resfriamento do circuito de 27 km, situado 100 metros sob a superfície.

No mesmo dia, um grupo de piratas virtuais gregos invadiu o complexo sistema de informática do LHC. Para humilhação do Cern, o berço histórico da internet, os hackers classificaram os cientistas que trabalham no projeto de “iniciantes” em matéria de segurança computacional.

Vazamento de hélio

No último final de semana, a “máquina do Big Bang” voltou às manchetes da mídia eletrônica e impressa por causa de uma nova pane. Um vazamento de hélio no túnel que abriga a maior e mais complexa máquina do planeta forçou o Cern a desativar o LHC, no último sábado, apenas 10 dias após sua entrada em operação.

A causa mais provável do vazamento de hélio para o túnel de 27 km que aloja o LHC é uma conexão elétrica defeituosa entre dois dos grandes ímãs do acelerador, informou o Cern.

Segundo o diretor-geral da organização, Robert Aymar, a avaria representa um “revés psicológico, depois do início bem-sucedido das operações do acelerador, após anos de cuidadosa preparação por equipes científicas da mais alta capacidade”.

Os cientistas agora precisam elevar a temperatura naquelas seções do túnel de volta à temperatura ambiente, ante os atuais 271,3 graus Celsius negativos, e abrir os ímãs para inspeção, um processo que pode demorar algumas semanas, informa a agência de notícias Reuters.

A análise do defeito e os reparos, seguidos pela pausa para manutenção do Cern no inverno europeu, vão atrasar o reinício das operações do LHC até o começo do segundo trimestre de 2009, segundo o Cern.

Roteiro de filme de suspense

O projeto foi concebido em 1983 e sua construção – a um custo total de 10 bilhões de dólares – teve início em 1996, mobilizando milhares de físicos e engenheiros dos cinco continentes.

O LHC, cujo objetivo é revelar os segredos da matéria e da origem do universo, tenta basicamente obter colisões de prótons, para chegar a partículas ínfimas, inferidas pela física teórica mas jamais observadas.

Buracos negros, “partículas divinas”, medo do fim do mundo, ataques virtuais e panes reais. “Sejamos sinceros: quem se interessaria por Física Quântica sem tudo isso? O projeto do LHC mostra que a ciência não precisa ser entediante”, escreve o semanário alemão Die Zeit.

“Agora, até mesmo a disputa com o concorrente norte-americano Tevatron volta a ser interessante. Só falta um caso de morte misteriosa, por exemplo, de um físico encontrado em seu escritório com um buraco negro no peito. Daí roteiro para um romance policial sobre o Cern estaria perfeito”, ironiza o principal semanário alemão.

swissinfo com agências

O Cern, a Organização Européia para a Pesquisa Nuclear (a sigla Cern vêm do antigo nome em francês Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire) foi fundado em 1954 por 12 países, inclusive a Suíça. Atuamente, conta com 20 países-membros.

Com cerca de 3.000 funcionários fixos, aproximadamente 6.500 cientistas visitantes e um orçamento de 1,1 bilhão de francos (2008), é o maior centro mundial de pesquisa na área da Física Quântica.

O LHC (Large Hadron Collider) é um túnel de 27 km de comprimento, situado a 100 m de profundidade, na fronteira da Suíça com a França.

Os cabos utilizados no LHC totalizam uma distância equivalente a 10 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

No LHC, os prótons giram a mais de 99% da velocidade da luz. Esses prótons são extraídos do hidrogênio. Mesmo com essas velocidades, a máquina levaria um milhão de anos para “queimar” um grama de hidrogênio.

A colisão prevista na “máquina do Big Bang” gera temperaturas que podem chegar a bilhões de graus. Em uma fração de segundo, um ponto minúsculo pode ser mais quente do que uma galáxia.

Inversamente, o coração do LHC é o maior congelador do mundo; 700 mil litros de hélio líquido mantêm os ímãs a –271,25 graus centígrados, temperatura mais baixa do que no espaço sideral.

Os detectores do LHC produzirão 700 mil gibabytes de dados por segundo e serão conservados para análise no que equivale a 100 mil DVDs duplos por ano.

Tevatron é um acelerador de partículas circular (ou síncrotron) situado no Fermilab (Fermi National Accelerator Laboratory), um centro de Física Quântica em Batavia, 50 km a oeste de Chicago (EUA).

O Tevatron acelera partículas em um anel com 6,3 km a energias de até 1 TeV. Foi completado em 1983 ao custo de US$ 120 milhões e está sendo atualizado desde então.

Por exemplo, o injetor principal foi adicionado em 1994 por US$ 299 milhões. É o acelerador que detectou pela primeira vez o quark top. Ele deve ser desativado em 2010, quando o LHC deverá estar em pleno funcionamento. (Fonte: Wikipedia)

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR