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Voto sobre imigração desestabiliza mercado de trabalho

O senador Urs Schwaller e o presidente da federação das empresas suíças, Heinz Karrer, durante a votação do domingo 9 de fevereiro. Keystone

Dezenas de milhares de empregos podem ser perdidos para a economia suíça após o referendo para restringir o fluxo de trabalhadores da União Europeia, do domingo 9 de fevereiro. O alerta vem de sindicatos e economistas que avaliam a possível precipitação do voto.

A federação dos sindicatos suíços teme uma crise no mercado de trabalho da Suíça se a União Europeia decidir retaliar o país bloqueando outros acordos bilaterais. O banco Credit Suisse estima que pelo menos 80 mil empregos deixarão de ser criados nos próximos três anos por causa da incerteza que deve frear os investimentos na Suíça. O banco diz que o número representa metade dos postos de trabalho que seriam normalmente criados na economia neste período.

A votação de domingo dá agora ao governo suíço três anos para implementar medidas ainda desconhecidas para deter a maré de trabalhadores estrangeiros da UE.

Para Oliver Adler, chefe de pesquisa econômica do Credit Suisse, as empresas simplesmente não gostam de investir se elas não podem ter certeza do futuro. “As empresas que estão considerando a expansão ou o lançamento de novos produtos na Suíça terão que reconsiderar se elas irão continuar no país, mudar os projetos para o exterior ou simplesmente atrasar seus planos”, disse ao swissinfo.ch.

A federação dos sindicatos alertou sobre as “consequências desastrosas” para a indústria suíça de exportação provocadas por possíveis represálias da União Europeia, que “colocariam em risco dezenas de milhares de empregos”. A UE é o maior parceiro comercial da Suíça, sendo responsável por 56% de todas as exportações suíças em 2012.

“Um dos acordos bilaterais mais importantes, agora em risco, permite que as empresas suíças comerciem livremente com cada país membro da UE”, disse Daniel Lampart, secretário-geral da federação.

A federação também argumentou que o voto não é a solução para combater a chegada em massa da mão de obra barata da UE que vem forçando para baixo os salários na Suíça. Uma aplicação mais robusta das medidas existentes para proteger os salários deveria ser complementada com um salário mínimo.

Força de trabalho total: 4,85 milhões

Cidadãos suíços: 3,41 milhões

Estrangeiros: 1,44 milhão

(Fonte: Secretaria Federal de Estatística, 3º trimestre 2013)

“Alarmismo”

No entanto, o partido do povo suíço (SVP, na sigla em alemão), que levou a questão da imigração às urnas, rejeitou tais argumentos como sendo um “alarmismo” de pessoas que não têm contato com a população.

“Eles me lembram os mesmos argumentos que foram utilizados quando a Suíça rejeitou a adesão ao Espaço Econômico Europeu, em 1992”, diz Hans Kaufmann, porta-voz do SVP. Desde aquela época, a posição comercial da Suíça com a UE tem realmente se fortalecido, acrescentou.

“Isso também prejudicaria a UE se ela desfazer outros acordos bilaterais em resposta a esta votação”, disse Kaufmann, que cita particularmente o acordo sobre transporte terrestre que permite o transporte de carga da UE pelos Alpes suíços.

Porém, muitos receios estão baseados no tamanho da mão de obra estrangeira da Suíça.

Um quarto da mão de obra dos 300 bancos suíços é oriunda da UE, enquanto que cerca de 45% dos funcionários das indústrias farmacêutica, química e de biotecnologia da Suíça são estrangeiros.

A Associação dos Banqueiros Suíços (SBA), declarou em um comunicado que “a disponibilidade de pessoal treinado irá diminuir agora. Pode se tornar mais difícil para os bancos suprir suas necessidades de pessoal bem treinado”.

Possíveis soluções

Valentin Vogt, presidente da associação patronal suíça, advertiu que esta fonte de trabalhadores altamente qualificados para a Suíça poderia secar.

“Quem quer vir para um país que diz ‘em setembro teremos cotas para você’”, disse ao jornal Neue Zurcher Zeitung. “Além disso, você tem que vir sozinho, sua família só pode vir daqui dois anos. Eu não viria para a Suíça nessas circunstâncias.”

A gigante farmacêutica suíça Novartis afirmou que “o sucesso da empresa é substancialmente construído em cima da disponibilidade da mão de obra qualificada”.

“O que é crucial agora é a maneira pela qual o sistema de cotas será implementado e a necessidade de evitar danos na continuação dos acordos bilaterais”, acrescentou Pascal Brenneisen, presidente da Novartis Suíça. “Nós devemos fazer o nosso melhor para conseguir uma interpretação generosa que limite os danos econômicos para a Suíça.”

Entre as medidas sugeridas pelo SVP, está a criação de um leilão de cotas que permitiria que as empresas disputassem um número restrito de trabalhadores estrangeiros a cada ano. Outra ideia seria a introdução de um sistema de pontos que só permitiria a entrada de estrangeiros altamente qualificados e com suficiente experiência de trabalho.

O partido também propõe “a criação de um sistema de segurança social separado para os trabalhadores transitórios para aliviar o fardo de sustentar os estrangeiros desempregados”.

A Suíça negociou até agora 16 tratados bilaterais com a União Europeia que complementam outros acordos, como o acordo de livre comércio de 1972.

O tratado relativo à livre circulação de trabalhadores da UE foi concluído em 1999, junto com seis outros acordos.

O pacote de acordos continha uma chamada “cláusula da guilhotina”, que poderia anular todos os tratados se apenas um fosse comprometido.

Estes tratados agora em risco cobrem vários setores, como agricultura, transportes, pesquisa e comércio de mercadorias.

Restaurar a reputação

A Federação das Empresas Suíças, economiesuisse, espera que as novas medidas introduzidas pelo governo não causarão nenhum dano adicional para a economia, além do aumento na burocracia.

Mas a Suíça deve agora reparar os danos à sua reputação de lugar de negócios. “Isso envia um sinal ruim à comunidade empresarial internacional. Agora, é absolutamente obrigatório proteger a imagem da Suíça como um ambiente de negócios amigável”, disse Rudolf Minsch, economista da federação, ao site swissinfo.ch.

Na sua reunião anual em agosto passado, a federação lamentou toda uma série de referendos potencialmente prejudiciais que foram fazendo fila desde o início de 2013. Além de limitar a imigração, essas iniciativas reduziram os salários dos executivos e pretendem criar um salário mínimo no país.

A data da próxima votação para conter a imigração ainda não foi definida (a chamada iniciativa Ecopop, que restringe o número de imigrantes anuais a 0,2% da população).

Adaptação: Fernando Hirschy

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