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Músico suíço fez sucesso no rock brasileiro

A vingança do Dr. Silvana & Cia. swissinfo.ch

Quem já passou dos 30 certamente se lembra da música “Ela foi da mamãe, foi da mamãe, foi dar um serão extra, trabalhei com o patrão… “ Era o Dr. Silvana e Cia, que estava no auge do sucesso com seu rock debochado e letra de duplo sentido naqueles áureos anos 1980.

O suíço Claudio Caratsch era membro do grupo e agora conta como era sua vida na época e agora.

Passa uma década e lá vem de novo outro sucesso, dessa vez também reconhecido por quem está na casa dos 20. Com a música “É coisa de Maluco”, o suíço Claudio Caratsch movimenta mais uma vez as engrenagens do rock Brasil. Volta a fazer shows por todo o país, a vender milhares de discos, animando festinhas de adolescentes e discotecas daquela época.

“Sou suíço de sangue, carioca de coração”, afirma à swissinfo.ch, com um sorriso aberto quando fala do seu passado de garoto da zona sul.  Casado com uma brasileira, dois filhos, Claudinho (como gosta de ser chamado) conheceu sua esposa durante suas andanças pelo Rio. Mais precisamente quando mostrava outra faceta artística, a de diretor musical da peça “Violetas na Janela”, sucesso de público por dez anos.

História de família

A história brasileira dos Caratsch começou em 1974, quando seu pai, engenheiro de uma multinacional, é transferido para o Rio de Janeiro. A princípio, a ideia era ficar quatro anos, mas a família permaneceu por 12 anos. E foi nesse período que os dois grandes e primeiros amores de Claudio tiveram início: a música e o Brasil.

Hoje, com 45 anos, e de volta à Suíça há nove, Claudinho ainda se lembra do dia em que pôs os pés em solo brasileiro pela primeira vez. Saído do rigoroso inverno de fevereiro para os 40 graus do Rio, diz que teve um choque, tanto térmico quanto cultural.

Choque cultural

“Era um verde tão forte, um vapor, uma luz, uma natureza tão impressionante. Aquilo me marcou muito e não consigo me esquecer dessa imagem. Foi amor à primeira vista”, conta com um brilho nos olhos verdes, que não conseguem esconder um misto de orgulho e emoção saudosista de um então menino de seis anos.

 A música viria a torná-lo um brasileiro de alma, responsáveis pela presença do Claudio em terras tupiniquins por mais de 30 anos. Foram 12 anos de aulas de piano clássico até a descoberta do jazz.  “Eu trocava os fins de semana de praia para tirar música em casa”, conta, ao se lembrar do seu professor de piano, Claudio Dauelsberg, o responsável pela introdução ao novo estilo.

Diversos grupos

Talentoso e comunicativo, logo passou a conhecer pessoas do meio musical. Começou no grupo de rock da escola, chamado Halloween.  Claudinho foi fazendo contatos com musicos de rock nacional que ficariam famosos com o nome de Biquini Cavadão. Bom tecladista, foi convidado para tocar com o Camisa de Vênus, grupo de rock-punk da Bahia. Daí partiu para fazer musical infantil, sempre aumentando sua rede de contatos.

Nesse meio tempo, a família precisa voltar à Suíça. Os Caratsch retornam felizes, mas o filho do meio está inconsolável. Aos 18 anos, havia passado 12 anos no Brasil.. Mesmo tendo estudado na Escola suíço-brasileira, falado alemão todos os dias com a família, seu coração já era brasileiro.

“Quando eu cheguei em Winterthur, disse ao meu pai que queria trabalhar, juntar dinheiro, o que ele achou muito positivo. Me ajudou a contatar pessoas e trabalhei como motorista, ajudante, fiz de tudo um pouco. Só que ele nem desconfiava que eu queria voltar ao Rio e retomar a faculdade,  conta Claudio, que cursava na época Comunicação Social na PUC do Rio.

Voltar para o Rio

O fato é que o rapaz voltou.Começa ali uma nova fase, que incluía morar de favor na casa de um amigo, trabalhar para pagar a faculdade e sair da proteção familiar.  

“Eu estava me sentindo poderoso e independente. Eu andava de ônibus para tudo quanto era lado”, se diverte ao se lembrar da  época. Para se sustentar, Claudio tocava em um bar nos fins de semana, trabalhava em uma agência de viagens, e ainda dava aulas de teclado.

Dr.Silvana

Nessa época, conheceu Cícero, o fundador e líder do Dr. Silvana e Cia, que já fazia sucesso com a música Serão Extra. “O Dr. Silvana era tão famoso que o grupo Titãs abria seus shows”, diz. Tudo começou  com a necessidade de um tecladista na banda e a indicação oportuna de Claudinho. Só que ttinha uma condição: aprender 20 músicas em 24 horas.

Ele achava impossível, mas aí entraram a disciplina suíça e a criatividade brasileira. A solução foi rearranjar as duas principais músicas do grupo. O resultado foi aprovado, iniciando uma longa história na banda e no mundo artístico.

Turnês pelo Brasil

Daí foi embarcar em turnês, gravação de programas de TV. Até que em 1996 a banda, a caminho de um show, sofre um grave acidente de carro. Depois de meses parados em virtude da recuperação, Claudinho foi convidado a integrar um outro grupo: a banda Fincabaut, que viria a estourar nas rádios com a música “É Coisa de Maluco”. A canção ficou em primeiro lugar nas paradas de sucesso por um ano. E com isso, Claudio reiniciava a rotina de aeroportos, programas de rádio e televisão, shows por todos os cantos do Brasil.

 Durante esse tempo, Claudio acumulava o teclado no Fincabaut com a direção da peça “Violetas na Janela”, que teve a trilha sonora composta e arranjada por ele. O ambiente da época, no entanto, conspirava para que Claudio deixasse o Brasil naquele momento.

Era início dos anos 90, o país passava ainda por um período conturbado, e a falta de uma maior estabilidade para investir no seu novo projeto o levou de volta à Suíça. “Eu já estava com a Simone, minha esposa, e nós queríamos constituir uma família. E naquele momento não havia melhor opção”, explica, hoje com dois filhos e trabalhando no aeroporto internacional de Zurique.

Emocionado ao se lembrar do passado, Claudinho diz que valeu a pena: tanto a vida de roqueiro quanto a decisão de voltar à sua pátria. Mas como todo bom filho à casa retorna, bastou os olhos do mundo começarem a se virar para o Brasil novamente que a vontade de ir embora e começar uma nova fase tem batido mais forte.

“Eu sou suíço, mas também brasileiro. Gosto de variar, tomar emprestado um pouco das duas culturas e me reinventar sempre”. Se permanece ou volta ao Rio de Janeiro, nem ele sabe. A única certeza é a gratidão pela oportunidade de viver em mundos tão diferentes e ter se tornado uma pessoa única, no sentido mais literal da palavra.

O Dr. Silvana & Cia. foi formado em 1984 por Ricardo Zimetbaum, Cícero Pestana, Jorge Soledade e Edu, no Rio de Janeiro. Ficou conhecido nacionalmente pelas letras bem-humoradas e de duplo sentido.

Lançou um compacto pela CBS em 1984, Eh! Oh!, e um LP pela mesma gravadora no ano seguinte, intitulado Dr. Silvana & Cia. Duas músicas do disco transformaram-se logo em hit: Serão Extra e Taca a Mãe pra Ver se Quica.

Em 1985, o Dr. Silvana & Cia. participou da coletânea Que Delícia de Rock, lançada pela CBS. Em 1989, o grupo lançou seu segundo álbum: Ataca Outra Vez.

Em 1993, lançou o álbum A Vingança.

Em 2005, lançou o álbum Choco, Choco, Chocolate.

Fonte: Wikipédia

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