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Maconha vira indústria na Suíça

Mais de 700 mil suíços já fumaram uma vez maconha. Produtores acompanham a tendência. Keystone

O parlamento federal discute a aprovação de uma nova lei de narcóticos, que poderá descriminalizar o consumo da maconha.

Sem fazer alarde, a indústria da maconha torna-se cada vez mais profissional na Suíça.

A capa da edição de 16 de janeiro da revista semanal “Facts”, uma das mais influentes da Suíça, deve ter chocado os leitores mais conservadores.

Sob o título “Geração Haxixe”, a edição exibia na capa a foto de uma bela jovem de 19 anos que, com os olhos entreabertos e sorriso irônico, segurava um enorme cigarro de maconha nas mãos. Essa era a chamada para a reportagem especial de 10 páginas dedicadas ao tema “uso da maconha na Suíça”.

Ninguém mais se esconde

Foram-se os tempos em que o amante da “cannabis sativa” escondia-se. Dentre os destaques da reportagem de dez páginas, estavam os perfis de sete
consumidores regulares.

Suas idades variavam entre os 17 e 53 anos. Todos apresentaram suas profissões ou são ainda estudantes.
A grande parte gasta entre 100 e
400 francos suíços mensalmente para manter seu consumo. Trata-se da nova realidade suíça: fumar maconha passou a ser uma atividade prosaica como beber um copo de uísque. Por todos os lados, nos vagões de trens, praças públicas e bares se sente o cheiro característico do cânhamo.

Entre 600 mil e 700 mil suíços já fumaram cannabis sativa, de acordo com uma pesquisa do Instituto Suíço de Prevenção do Alcoolismo e outras Toxicomanias (ISPA). Um terço dos jovens entre 15 e 24 anos fumam regularmente maconha. 87 mil suíços consomem diariamente a droga.

O consumidor médio é jovem

Outra pesquisa realizada pela Coordenação Suíça da Maconha (CSC), uma organização que reúne produtores e consumidores, mostra que o consumidor médio da maconha tem 26 anos, gasta 100 francos suíços em cada compra e fuma mais de um cigarro por dia. Essa pessoa consome quase meio quilo de cannabis sativa e derivados por ano e chega a gastar até três mil francos suíços.

Para abastecer esse grande público, de bom poder aquisitivo, o que não faltam são fornecedores na Suíça.

Só a CSC tem 120 membros ativos, que são fazendeiros, produtores, beneficiadores e também os donos dos chamados “headshops”, onde normalmente são vendidos os “Duftsäckli” (saquinhos de cheiro), contendo as mais variados tipos de maconha. “Não temos o controle de todas as lojas, pois muitas foram fechadas pela polícia e outras trabalham na clandestinidade, porém estimamos que entre 350 e 400 headshops estejam atuando”, explica Tünde Kovacs, vice-presidente da CSC.

Suíça tem de 200 a 300 hectares de maconha plantada

Nos headshops suíços são vendidas, em quase toda sua totalidade, maconha produzida na suíça. O Departamento Federal de Polícia estima que a área ocupada pelas fazendas de cannabis sativa totalizam de 200 a 300 hectares. Esse número inclui não só as plantações ilegais, mas também aquelas que recebem até subvenção do Estado para produzir o cânhamo industrial, ou seja, que pela quantidade mínima de THC – menos de 0,3% – só serve para a produção de fibras vegetais.

Não se tem uma estimativa da quantidade de produtores de maconha, já que a plantação da erva destinada ao fumo ainda está proibida. “Calculamos que existam 80 grandes produtores e até 400 pequenos”, diz Kovacs.

Maconha traz lucros para vendedores

Os lucros do setor também são números desconhecidos. Porém eles não devem ser poucos, já que um produtor ganha até 1.500 francos suíços por quilo de maconha, enquanto que ganharia apenas 1 franco por quilo de maçã do tipo “Golden Delicious”.

Quando a erva prensada chega nas lojas, ela triplica de preço e passa a valer entre 5 mil francos e 15 mil, dependendo da qualidade. O “Duftsäckli” é vendido por 30 francos, em média. A espécie mais cara de maconha é a criada em estufas (indoor), que pode ser manipulada e apresenta, em muitos casos, até uma concentração considerável de THC: 25%.

Com tanto desenvolvimento, é possível que a maconha torne-se, no futuro, num setor econômico de importância, assim como a relojoaria e os serviços bancários.

swissinfo, Alexander Thoele

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