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Querida, Encolhi as Catedrais

Luciano com uma maquete
O trabalho minucioso de Luciano reproduz todo o esplendor das catedrais Luciano Xavier

Ele dedica todo seu tempo dando forma reduzida a sua grande paixão. Luciano Xavier tem verdadeiro encanto pela arquitetura gótica e seus enormes monumentos que se espalham pela Europa, inclusive na Suíça, onde o brasileiro vive agora pertinho de um deles.


A paixão de Luciano Xavier pelas catedrais de estilo gótico nasceu durante uma das aulas do curso de artes visuais que o jovem fez no Espírito Santo, de onde é originário. “Tive uma professora que havia feito mestrado e doutorado em história da arte na Europa, e ela sempre falava desses monumentos com muita paixão”, conta.

Talvez um aviso do destino, ou quem sabe por mera coincidência, esses gigantescos colossos de pedra, erguidos pelos homens para servir de morada ao divino, começaram a habitar a mente do jovem do Espírito Santo.

A professora de história da arte soube transmitir muito bem ao aluno as impressões que teve ao visitar as obras medievais “in loco”, na França. Tanto que Luciano começou a sonhar com os monumentos, ver a luz refletida em seus vitrais inundar seus altares e imaginar quão pequeno o homem deveria ficar ao lado daquele esplendor.

O aluno acabou se formando técnico em edificações, mas já era tarde demais: aquelas imagens esplendorosas de uma outra época iriam habitar para sempre sua alma de artista. O lado técnico de sua formação se tornou a forma pela qual Luciano expressaria sua arte, as edificações a fonte de sua inspiração e as catedrais góticas a paixão que transformaria simples materiais em trabalho artístico complexo e inspirador.

Elã arquitetônico

Em 2005, Luciano estreia sua carreira artística com uma primeira exposição, “Arranha-céus”, com maquetes em escala 1/650 das vertiginosas torres de Babel dos nossos tempos.

Segue-se um período de trabalhos realizados principalmente para o Instituto Federal do Estado do Espírito Santo até 2010, quando Luciano decide fazer como sua professora de história da arte e vai para a França, ver de perto os enormes monumentos góticos.

O fascínio pelo estilo arquitetônico só aumentou, Luciano passa três anos na França viajando pelo país para conhecer uma boa parte dessas catedrais que marcaram a história, como a basílica de Saint-Denis, a primeira a ser construída no estilo, a catedral de Nossa Senhora de Amiens, a maior da França pelos seus volumes internos (200.000 m3), ou ainda a de Chartres, Reims e Bourges, para citar só algumas, consideradas arquétipos do estilo gótico clássico.

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maquete

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Gótico – O Tempo das Grandes Catedrais

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Obra Francesa

A arquitetura gótica foi desenvolvida no norte da França durante a Alta Idade Média entre os anos 1050 e 1100, originalmente se chamava “Obra Francesa” (Opus Francigenum). O termo ‘gótico’ só apareceu na época do Iluminismo nos séculos XVII e XVIII como um insulto estilístico, já que para os iluministas a arte gótica seria bárbara, sendo tipicamente Medieval. A palavra “gótico” é em referência aos godos, povo bárbaro-germano.

A partir do ano de 1127, já era possível encontrar catedrais portando este gênero arquitetônico e, anos após, o estilo já se espalhava por toda a Europa Medieval, “chegando à Suíça, onde receberia uma influência francesa, mas também do estilo gótico que já estava se desenvolvendo na Alemanha”, explica Luciano.

“Os monumentos suíços reúnem, na arquitetura, influências francesas e também alemãs.”

Em 2013, Luciano se muda para a Suíça, se instalando em Friburgo, cuja catedral, também em estilo gótico, mantém o artista próximo de sua paixão arquitetônica.

Histórias e estilos

Além da catedral de Friburgo, outros monumentos suíços chamam a atenção do capixaba, principalmente a “Berner Münster”, a Igreja da Colegiada de São Vicente de Berna, o edifício religioso mais alto da Suíça, com sua torre culminando a 100,60 metros de altura.

A catedral de Lausanne também encanta Luciano. O edifício é o maior monumento gótico da Suíça. A catedral foi dedicada a Nossa Senhora em 1275, na presença do Papa Gregório X e do Imperador do Sacro Império Romano Rodolfo de Habsburgo.

Para Luciano, todas essas histórias e curiosidades ligadas às catedrais não deviam continuar esquecidas, contidas por seus arcobotantes e contrafortes. Assim, surge a ideia de propor ao público uma compreensão histórica e estilística da arquitetura religiosa gótica que permitisse uma análise de sua evolução ao longo dos séculos.

Munido de 44 pequenas maquetes, Luciano bate na porta da catedral de São Nicolau e conta ao pároco de Friburgo seu fascínio pelos enormes templos medievais.

Em 2015, o coração da catedral de São Nicolau se abre então ao público suíço para a exposição “Opus Francigenum – Um olhar brasileiro sobre a arquitetura religiosa gótica”. As 44 maquetes são expostas baseadas em três perspectivas: espiritual, artística e técnica.

Maquetes
As maquetes em escala 1/500 da primeira exposição dedicada às catedrais, “Opus Francigenum – Um olhar brasileiro sobre a arquitetura religiosa gótica”, realizada na Suíça em 2015. Luciano Xavier

Viagens

Mas o pequeno tamanho das obras, em escala 1/500, não passava a dimensão do interesse de Luciano pelos monumentos medievais, uma verdadeira paixão para ele.

Mais uma vez, o artista se lembrava das aulas de história da arte no Espírito Santo e do encanto pelas catedrais transmitido por sua professora. Uma energia que o levou de volta ao seu ateliê para tentar materializar esse encanto em maquetes que incorporavam o espírito da arquitetura gótica com todo seu verticalismo e majestade.

“Consagrei 2 anos de trabalho exclusivo nessa nova série de maquetes em uma escala maior de 1/200 para mostrar melhor os detalhes e dar uma ideia do volume das catedrais”, conta.

A ideia dessa vez é propor ao público uma viagem no tempo através de suas maquetes. A evolução do estilo da Idade Média aos dias de hoje, onde continua inspirando artistas e arquitetos, como Oscar Niemeyer e sua catedral de Brasília, a Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida.

No final, as 17 obras realizadas por Luciano viajarão no tempo e no espaço. A exposição “Gótico – O Tempo das Grandes Catedrais”, realizada novamente na catedral de São Nicolau, em plena festa do santo padroeiro de Friburgo, segue para Holanda, França, Alemanha e Brasil, antes de voltar para a Suíça em fins de 2018, onde acontecerá na catedral da capital do país, a Berner Müster.

No vídeo abaixo Luciano conta como preparou as obras para a exposição:

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Luciano fazendo a maquete da catedral de Brasília

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A arte de encolher gigantes

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