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Marcel Ospel: ascensão e queda de um banqueiro suíço

Marcel Ospel renuncia em meio à crise do UBS Keystone

Ele proporcionou lucros bilionários, mas também perdas astronômicas ao UBS. Marcel Ospel deixa o comando do maior banco suíço, depois de arruinar uma das melhores marcas do setor bancário mundial e abalar um dos principais setores da economia suíça.

O UBS, um gigante do setor financeiro mundial, já perdeu 40 bilhões de dólares em decorrência da crise imobiliária nos EUA. Sem uma nova injeção de 15 bilhões de francos, o maior banco suíço correria o risco de falir.

“Trata-se de fiasco para a Suíça como país dos bancos”, diz o guru do setor, Hans Vontobel. “Uma vergonha”, afirma Ulrich Grete, ex-executivo da Sociedade dos Bancos Suíços, de cuja fusão com a União de Bancos Suíços surgiu o UBS.

Depois de atingir um lucro recorde de 12,2 bilhões de francos em 2006, o desempenho do banco entrou em queda livre por conta de especulações com “papéis podres” nos EUA, “às custas dos pequenos acionistas”, como constata a revista alemã Spiegel Online.

Pior do que o prejuízo financeiro é considerada a perda de confiança na instituição. Em algumas cidades suíças, clientes sacaram suas contas do UBS e transferiram para os bancos estaduais. “A marca UBS, uma das melhores do setor bancário no mundo, está arruinada”, escreve o jornal Tages Anzeiger, de Zurique.

“Quanto mais alto o vôo, maior o tombo”

O presidente do conselho de aministração, Marcel Opel, é apontado pela imprensa suíça como principal responsável pela crise do banco. Há dois anos, ele ainda embolsou 26 milhões de francos como prêmio pelo lucro recorde. Depois disso, “destruiu em pouco tempo a fama construída pelo banco em muitos anos”, sentencia o jornal Neue Zürcher Zeitung.

Ospel abandona o cargo no dia 23 de abril, na assembléia geral dos acionistas, quando também deverá ser aprovada a recapitalização do banco. “Ele teve participação decisiva na construção e no sucesso do UBS”, diz Martin Spieler, redator-chefe do jornal econômico Handelszeitung. “Sua grande tragédia, porém, é que perdeu o momento certo para abandonar o barco.”

Considerado um dos banqueiros mais influentes do mundo, Ospel esperou sentado pela superação da crise, até perceber que não era mais parte da solução dos problemas. “Ele, que tanto fez pelo UBS, transformou-se numa pesada hipoteca para o banco”, diz Spieler.

Na avaliação de Spieler, graças ao “faro de Ospel para bons negócios”, o UBS se tornou um dos maiores bancos do mundo. O problema foi que, como presidente do conselho de administração, ele continuando sendo um corretor à caça do maior lucro possível, correndo altos riscos.

O que restou é uma “ressaca bilionária” para os acionistas. Os mercados financeiros europeus e norte-americanos festejaram a renúncia do “poderoso chefão” do setor bancário suíço com um aumento de 12,26% das ações do UBS, na terça-feira (02/04).

Ospel agora pelo menos terá mais tempo para o carnaval da Basiléia, onde desfila com um grupo chamado “Revoluzzer” (revolucionários). Ao seu sucessor, o jurista Peter Kurer, cabe a tarefa de arrumar a casa.

Sucessor transitório

Parte da mídia suíça duvida que Kurer possa salvar o banco. “Ele é parte de um sistema que há muito tempo mistura responsabilidade com auto-enriquecimento. Também foi a ganância por dinheiro e poder que arruinou o UBS”, comenta o Tages Anzeiger.

“O assassino da Swissair deve salvar o UBS” – noticia o jornal sensacionalista Blick, nesta quarta-feira. “O caos no UBS é tão grande que não basta um super-banqueiro como Ospel. Precisa-se de um tecnocrata detalhista”, continua o jornal.

O Berner Zeitung é de outra opinião: “Com seu saber jurídico, Kurer é o homem certo para tirar o UBS da atual crise. Mas obviamente ele nada mais é do que uma solução transitória.”

Peso do setor bancário

A crise do UBS tem o efeito de um terremoto no setor bancário suíço, que responde por 11,5% do Produto Interno Bruto do país. Para comparar: em Luxemburgo, setor bancário responde por 26,3% do PIB, no Reino Unido por 6,7%, nos EUA por 5,1% e na Alemanha por 3,8%.

Onze por cento dos suíços trabalham no setor financeiro, o dobro do número de funcionários do segundo setor mais importante da economia – o farmacêutico. Tirando a área de seguros, o peso dos bancos na Suíça é ainda maior.

Eles geram apenas 6% dos empregos, mas respondem por 10% do PIB e por 15% de todos os impostos diretos e indiretos. Segundo o Ministério das Finanças, a crise do UBS representa uma queda na arrecadação de 1 bilhão de francos neste ano.

“A situação do banco pode ainda piorar, mas ele não vai afundar”, prevê o jornal Der Bund. “O UBS é tão vital para a economia suíça que o Estado não assistiria inerte à quebra do banco”, acrescenta. O contribuinte pagaria a conta.

swissinfo, Renat Künze e Geraldo Hoffmann

Nasceu em 1950, em condições humildes, na Basiléia.

Fez um estágio profissionalizante na União dos Bancos Suíços (antiga UBS), à qual se manteve fiel, à exceção de três anos.

De 1987 a 1990 foi responsável pela área de títulos e valores imobiliários da UBS.

Em 1990, passou a integrar a diretoria do banco.

De 1996 a 1998 foi presidente do grupo então grupo UBS. Ospel foi o arquiteto da fusão da UBS com a Sociedade dos Bancos Suíços (SBS), formando o novo UBS.

Até 2001, foi o CEO do novo UBS. Desde então, presidiu o conselho de administração, cargo que deixa em 23 de abril de 2008.

Durante a crise da Swissair, no final de 2001, Ospel foi fortemente pressionado. A acusação foi que a companhia aérea poderia ter sido salva, se ele tivesse liberado dinheiro do UBS para os caixas vazios da Swissair no dia em que foi decretada a falência. Ospel estava em Nova York.

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