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Maria Bethânia é tema de filme suíço

Um filme sobre a música e não uma biografia de Maria Bethânia. http://www.gachot.ch/

O desafio do cineasta Georges Gachot não foi fazer um documentário sobre a cantora baiana Maria Bethânia, mas sim colocar na tela a magia da sua música.

A película foi exibida no festival de Locarno e entra agora no circuito comercial suíço. Cineasta entrevista Caetano, Gil e Chico.

O filme começa com uma atmosfera intimista. Primeira cena: o barulho das ondas na praia de Copacabana, garis recolhendo o lixo da areia e uma criança solitária brincando durante a noite, nesse bairro popular do Rio de Janeiro.

Ao fundo, a voz de Maria Bethânia, uma das cantoras e intérpretes mais conhecidas no Brasil. Ela recita as duas primeira estrofes do “Pátria Minha”, poema de Vinicius de Moraes e canta em seguida a canção “Gente humilde”, uma parceria de Vinicius e Chico Buarque. Palmeiras e pessoas sentadas no calçadão nas últimas horas do dia.

Corte. Segunda cena: a câmara leva o espectador para os bastidores da bela canção. Maria Bethânia e músicos estão num estúdio ensaiando. “Perfeito, lindíssimo”, fala a cantora no momento em que eles conseguem chegar no arranjo correto. Logo depois ela explica:

– Botar a voz num disco eu amo. Depois de fazer os arranjos e as bases estão prontas, então eu vou sozinha para botar a minha voz. Adoro cantar nessa solidão do estúdio.

Cineasta musical

Assim decorrem os primeiros minutos do “Maria Bethânia – música é perfume”, o último filme de Georges Gachot, um cineasta franco-suíço que nunca tinha escutado anteriormente a música brasileira e que nem falava português.

Nascido em Neuilly sur Seine, na França, Gachot chegou à Suíça aos dezoito anos de idade para estudar engenharia elétrica na Escola Politécnica de Zurique (ETH). Apesar da formação técnica, sua paixão era o piano. Juntando o útil com o agradável, o francês começou a trabalhar em 1990 na produção de videoclipes para a gravadora Naxos.

Desde 1996 ele produz seus próprios filmes. Conhecido se tornou através da realização de documentários de músicos e compositores famosos. Seu retrato da pianista argentina Martha Argerich recebeu em 2002 o Prêmio Itália. No Camboja Gachot também realizou três filmes longa-metragens sobre o país e a obra do pediatra e violoncelista suíço Beat Richner.

“Um choque musical”

Quem está acostumado a assistir DVDs de cantores ou grupos musicais, poderá estranhar o filme sobre a Bethânia.

Durante 82 minutos, Gachot não se preocupa em mostrar detalhes da vida íntima da cantora brasileira. Ele também não tenta ser biográfico ou jornalístico. Sua principal preocupação é colocar na tela a mesma fascinação que sentiu na primeira vez que escutou música brasileira.

– Foi um choque musical! A forma como as músicas são compostas era algo de novo para mim. Algumas canções começam e terminam de uma forma diferente do que na Europa. As melodias também são diferentes. Elas têm harmonia, mas de um outro jeito – afirma, sem esconder o entusiasmo.

O convite para o mundo da música brasileira ocorreu durante um dos festivais mais famosos do mundo.

– A primeira vez que escutei Bethânia foi no festival de Montreux, em 1998. Na mesma noite comprei todos os CDs que encontrei numa loja do festival. Fui escutando eles na viagem até Zurique, onde eu vivo. Estava fascinado; nunca havia escutado algo parecido.

Dona Canô

Gachot não conhecia nada sobre o Brasil e nem falava português. Porém, ao decidir realizar um documentário sobre a Maria Bethânia, ele ignorou até a conhecida reserva da cantora em relação à imprensa. Para convencê-la a posar frente a sua câmara, ele utilizou um inteligente subterfúgio:

– Enviei pelo correio o documentário que realizei sobre a Martha Argerich. Bethânia gostou tanto que aceitou na hora a proposta – conta.

Para realizar o filme, Gachot realizou três viagens ao Brasil, incluindo também uma estadia em Santo Amaro, a cidade natal da cantora.

No filme ele deixa Bethânia falar sobre a carreira, suas influências e dá espaço para algumas de suas interpretações durante o espetáculo “Brasileirinho”, o último preparado pela cantora. Ao mesmo tempo, o filme exibe entrevistas com algumas das figuras próximas de Maria Bethânia e também músicos famosos como seu irmão, Caetano Veloso, e Chico Buarque, Gilberto Gil, Nana Caymmi e Miúcha.

Seguramente as cenas mais tocantes são as que mostram a Dona Canô, 97 anos, mãe de Maria Bethânia. Na sua simplicidade, ela chega mesmo a revelar que, na escola, a cantora não podia mostrar seus dons, pois todos achavam que ela tinha uma voz feia. “Ela só fazia representar”, conta.

Aprender português

Depois de ser exibido na mostra especial do festival de cinema de Locarno, o filme entra nessa semana no circuito comercial da Suíça francesa. No início de dezembro ele será exibida nas salas de projeção da Suíça alemã e brevemente também Brasil.

Motivado pelas descobertas que fez, Gachot decidiu que precisa fazer alguma coisa para melhorar sua “brasilidade”.

– Há poucos meses comecei a fazer um curso de português numa escola de idiomas. Acho importante saber o que dizem essas músicas tão bonitas.

Porém ao repórter o cineasta não nega uma declaração no idioma de Camões (ouvir o áudio no alto da página).

swissinfo, Alexander Thoele

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