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Chuva forte volta a destruir casas em Nova Friburgo

Chuvas de novembro provocaram novos desmoronamentos de casas AFP

A pouco mais de um mês de se completarem dois anos desde as inundações e deslizamentos de terra que custaram a vida de 451 pessoas, a cidade de Nova Friburgo, fundada por imigrantes suíços em 1819, voltou a conviver com a sensação de medo provocada pela ocorrência de fortes chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Durante dois dias de novembro, segundo a Defesa Civil, caiu sobre a cidade um volume de água equivalente a 80% do esperado para todo o mês, chuva suficiente para, pela primeira vez desde a tragédia, inundar o centro comercial de Nova Friburgo e provocar novos deslizamentos e a destruição de casas em pontos vulneráveis.

O caso mais grave aconteceu em 13 de novembro, no distrito de Conselheiro Paulino, onde a intensidade da chuva fez com que duas pedras gigantes se soltassem de uma encosta, arrastando consigo toneladas de terra e lama. Vinte casas foram total ou parcialmente destruídas, mas apenas duas pessoas saíram feridas e não correm risco de morte, no que já é encarado como uma espécie de milagre pela população. Depois que as pedras rolaram, outras 68 casas foram interditadas pela Defesa Civil municipal.

 No centro da cidade, a elevação do rio Bengalas, provocada pelo acúmulo das águas que desceram das encostas, inundou algumas das ruas onde o tráfego de automóveis é mais intenso na cidade e provocou o fechamento de diversos estabelecimentos comerciais. A alguns quilômetros dali, a queda de uma barreira na localidade do Campo do Coelho provocou a interdição da rodovia RJ-130, que liga Nova Friburgo à Teresópolis.

 Segundo a Prefeitura de Nova Friburgo, 72 pessoas foram desalojadas por causa da última grande chuva e 14 delas ainda se encontram nessa situação. Dezenas de pontos de apoio às famílias que moram em áreas de risco foram montados pela administração municipal nos diversos distritos da cidade, mas a inclemência do clima – choveu, ainda que moderadamente, durante todo o último fim de semana – e a possibilidade concreta de ocorrência de novas chuvas fortes com a chegada próxima do verão deixam a cidade em estado de alerta.

Atraso e descompasso

O acidente em Conselheiro Paulino serviu para revelar o descompasso entre as autoridades públicas e as reais necessidades da população. A localidade onde houve o deslizamento das pedras, conhecida como Três Irmãos, era alvo de uma ação do Ministério Público que pedia a “imediata intervenção do Estado para minimizar os riscos de deslizamentos”. Mas, a mesma foi derrubada no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, sob o argumento de que seu cumprimento poderia abalar o Orçamento do Estado, uma vez que pressupunha a liberação de verbas que não estavam anteriormente previstas para obras emergenciais e para o reassentamento das famílias em risco.

Segundo o Governo do Rio de Janeiro, ainda não foram realizados sete processos licitatórios para a realização de obras relacionadas à prevenção de inundações e deslizamentos em quatro municípios da Região Serrana (Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis e Bom Jardim). O custo estimado para essas obras é de R$ 37 milhões. Os motivos do atraso em sua execução vão desde meras questões burocráticas dos órgãos públicos envolvidos até restrições aos orçamentos dos projetos feitas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Em outra frente, a licitação mais importante para Nova Friburgo será realizada em 21 de dezembro, de acordo com o publicado no Diário Oficial do Estado. Após sua conclusão, segundo o governo, serão aplicados cerca de R$ 210 milhões em obras de contenção dos rios Grande, Bengalas e Córrego D’Antas, às margens dos quais está concentrada a maioria das habitações em situação de risco no município. Na localidade de Córrego D’Antas está sendo reconstruída, sob a supervisão da Casa Suíça em Nova Friburgo, uma creche com recursos de CHF 80 mil divididos entre o Cantão de Friburgo e a Associação Fribourg-Nova Friburgo (AFNF).

Insegurança

Diretor da Casa Suíça, Maurício Pinheiro conta que, “desta vez, Córrego D’antas não sofreu tanto com as chuvas” e que as obras na creche não foram afetadas. Ele, no entanto, revela o clima de insegurança vivido em Nova Friburgo: “Em relação às chuvas de janeiro, a cidade vive uma grande interrogação porque nós sabemos que as obras de contenção de encostas e desobstrução de galerias não foram feitas. O centro da cidade é uma zona particularmente sensível porque é a parte mais baixa e a água não escoa. Se as galerias não forem desentupidas, a tendência é que haja inundação”, diz.

O alerta dado pelas chuvas de novembro é ressaltado por Pinheiro: “Um único dia de chuva – choveu desde a manhã até o final da tarde – foi suficiente para que o centro da cidade ficasse de novo inundado, com todas as lojas cheias de água. Se pensarmos na possibilidade de que no verão chova três, quatro, cinco dias…”, diz. Segundo o diretor da Casa Suíça, “as pessoas estão muito marcadas ainda” em Nova Friburgo: “Basta chover, que as pessoas ficam preocupadas e surge já uma tensão. Se chover muito, nós sabemos que a cidade corre o risco de ter – não digo na mesma escala de janeiro de 2011, o que seria pouco provável – novos transtornos”.

Após solicitação feita pelo ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, uma equipe da Secretaria Nacional de Defesa Civil realizou uma vistoria em Nova Friburgo na semana passada.

Seus integrantes se disseram impressionados com o que viram em Conselheiro Paulino: “Ficamos surpresos com a gravidade do desabamento”, disse à Agência Brasil o técnico Werneck de Carvalho, membro da equipe federal que esteve na cidade serrana.

Segundo o diretor da Casa Suíça em Nova Friburgo, Maurício Pinheiro, os projetos apoiados pela Suíça na cidade seguem em andamento: “Em relação a Córrego D’Antas, o prédio que nós temos hoje previsto ainda não está liberado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). A aquisição de um terreno surgiu como um possível plano b, mas ainda bem embrionário. A Casa dos Pobres nós já inauguramos, e temos o projeto de construir a Casa dos Pobres 2, que está sendo analisado pela Comissão de Avaliação de Projetos da AFNF”.

Outro projeto beneficiará a Associação Friburguense de Amigos e Pais de Excepcionais (AFAP): “Já temos os recursos, mas estamos dependendo que o Estado conclua a execução das obras de contenção do rio. As máquinas estão lá, os operários estão trabalhando. Tão logo eles terminem essa obra e a gente perceba que ela cobre realmente toda a extensão da escola, poderemos entrar em ação para ajudar no processo de reconstrução da AFAP”, diz Pinheiro

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