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Migrantes enviam bilhões aos países de origem

Família recebe dinheiro de parentes distantes em uma agência de transferência de dinheiro no Kosovo. Keystone

Trabalhadores migrantes na Suíça enviaram no ano passado uma soma estimada em cinco bilhões de dólares às suas famílias, como revela um estudo do Banco Mundial.

Apesar da crise econômica mundial, as remessas para os países em desenvolvimento continuam sendo uma fonte resistente de financiamento externo.

Um estudo do Banco Mundial coloca a Suíça atrás dos Estados Unidos e Arábia Saudita como terceiro mais importante país, em 2009, em remessas de dinheiro. Os trabalhadores migrantes, incluindo aqueles que cruzam as fronteiras diariamente, transferiram 19,6 bilhões de dólares de volta às suas terras de origem.

Dessa soma, cinco bilhões de dólares foram enviados às famílias, com o objetivo de ajudar no seu custeio diário e outros gastos, o que corresponde ao dobro gasto pelo governo helvético em ajuda ao desenvolvimento: 4,1 bilhões de dólares em 2007.

Vinte e dois por cento dos 7,8 milhões de habitantes da Suíça são estrangeiros. Quase dois terços desses estrangeiros são originários de países da União Europeia ou da Associação Europeia de Livre Comércio, mas ainda existem importantes comunidades vindas dos Bálcãs, Ásia, América Latina e África. São cidadãos que vivem oficialmente ou não no país dos Alpes.

Os fluxos de remessas em direção aos países em desenvolvimento devem chegar a 325 bilhões de dólares no final do ano e US$ 440 bilhões mundialmente, como informou essa semana o relatório 2011 de imigração e transferências de fundos do Banco Mundial.

Especialistas do Banco Mundial predizem um aumento considerável das remessas feitas por trabalhadores estrangeiros a países pobres nos próximos dois anos, possivelmente até passando a marca de US$ 374 bilhões, o que corresponderia ao triplo da ajuda externa ao desenvolvimento. Isso marca uma recuperação sólida depois de uma queda de cinco por cento em 2009 a US$ 307 bilhões.

Difícil de medir

Mathias Lerch, especialista em demografia na Universidade de Genebra, considera que a estabilidade no nível do fluxo de remessas ao exterior é comum, já que trabalhadores migrantes têm uma solidariedade natural com suas famílias, mesmo em tempos de crise. “Mesmo se um migrante perde seu emprego na Suíça, ele continua enviando dinheiro para casa, pois sabe que essa ajuda continua sendo muito importante no seu país de origem”, declara.

Apesar desses números consideráveis, é difícil de medir o impacto real das remessas de dinheiro. “Não é fácil medir o próprio fluxo, pois existem diferentes metodologias e a maior parte dos cálculos são extrapolações”, afirma Lerch.

Especialistas creem que a verdadeira dimensão dos fluxos pode ser até 50% maior, sobretudo se forem incluídas também as remessas de dinheiro que passam por outros canais formais ou informais. Um exemplo: oitenta por cento das remessas enviadas da Suíça para os países dos Bálcãs utilizam canais informais, nos quais o dinheiro é, em grande parte, levado pelos próprios migrantes, amigos ou pessoas próximas.

Educação, saúde e habitação

Em todo caso, nem todo o dinheiro vai para os mais necessitados. Ele também pode criar dependência, especialmente nos países com índices elevados de emigração. Parte dos fundos também é desperdiçada em bens de consumo ou maus investimentos.

No entanto existe um consenso sobre o impacto positivo do fluxo estável de pagamentos: “Eles ajudam as pessoas a sair da pobreza”, ressalta Lerch. “Esse dinheiro também têm um forte impacto na qualidade de vida de idosos na Sérvia, por exemplo.”

Já Barbara Affolter, técnica do programa de migração na Agência Suíça de Desenvolvimento e Cooperação (DDC, na sigla em francês), considera que as pessoas estão divididas na questão do impacto das remessas de dinheiro sobre o desenvolvimento dos países.

“O Banco Mundial e bancos regionais sempre acreditam que os migrantes devem financiar novos negócios nas suas terras e que isso já seria desenvolvimento”, critica. “Mas se você olhar de perto, as remessas são muitas vezes utilizadas na educação das crianças, na saúde e na casa própria. Esses são itens das Metas de desenvolvimento do milênio da ONU, ou seja, essenciais para o desenvolvimento humano.”

Tendências emergentes

Existe uma tendência de maximizar os benefícios das remessas. Muitos países estão cada vez mais conscientes do papel e potencial dos seus expatriados. Por isso muitos governos imaginam criar instrumentos como a venda de títulos ou tornar as futuras remessas mais seguras.

Novas tecnologias como telefones celulares ou sistemas bancários eletrônicos, além da competição entre as empresas de transferência de dinheiro, também estão tornando mais fácil, segura e barata a troca de dinheiro. Em todo caso, os serviços de transferência de fundos através de celulares ainda não saíram das fronteiras nos países que funcionam.

Reduzir os custos das remessas de dinheiros poderia ajudar os migrantes, acredita Affolter, porém o que é mais importante é reduzir os custos da migração.

Um recente estudo sobre migrantes de baixo nível educacional originários de Bangladesh, e que passaram três anos no Oriente Médio, mostrou que eles necessitaram de dois anos para restituir as agências de recrutamento pela compra dos bilhetes aéreos e outros débitos.

“O que sobra no final do mês para enviar à casa costuma ser irrisório”, diz a funcionária da DDC. “Apenas quando você resolver a questão dos custos da migração é que será possível ter resultados sobre os fundos enviados pelas pessoas às suas casas.”

Número atual de habitantes na Suíça: 7.874.088 habitantes. A população estrangeira aumentou em 2,2% no ano passado e hoje é de 1.802.300 (22% do total).

Quase dois terços desses estrangeiros são originários de países da União Européia ou da Associação Europeia de Livre Comércio. Os italianos são o maior grupo: (293.933), seguidos pelos alemães (265.944), portugueses (213.232), sérvios e montenegrinos (187.554), franceses (94.814), turcos (73.275), espanhóis (65.687), macedônios (60.293), austríacos (37.973), bósnios (37.397), britânicos (37.240), croatas (35.259), cingalêses (30.746) e americanos (20.216).

Mais de um quinto (20.7%) dessas pessoas nasceram na Suíça e pertencem à segunda ou terceira geração de estrangeiros no país.

Desde a II. Guerra Mundial, cerca de dois milhões de pessoas imigraram à Suíça (ou são descendentes de imigrantes).

Mais de 200 milhões de pessoas vivem fora dos seus países de nascimento. Um décimo dos suíços vivem no exterior.

(Fonte: Departamento Federal de Estatísticas)

O Fórum Global de Migração e Desenvolvimento ocorreu em Puerto Vallarta, México, de 10 a 11 de novembro de 2010, e teve a participação de representantes de 150 países.

Eduard Gnesa, enviado especial para a cooperação internacional em questões de migração, chefiou a delegação suíça no México.

Em 2011, a Suíça vai presidir o Fórum Global de Migração e Desenvolvimento. Ela também vai supervisionar a avaliação geral das atividades do fórum nos próximos quatro anos.

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