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Mil Milhas: corrida maluca de Roma à Brescia

Orgulhosos, os proprietários dos veículos históricos fazem os últimos ajustes. swissinfo.ch

Pilotos e navegadores suíços estão presentes na prova das Mil Milhas, o grande prêmio mais tradicional da Itália e um dos mais famosos da Europa, disputado pela primeira vez em 1927.

A bandeira da Confederação Helvética está decalcada nas carrocerias de marcas históricas como Austin- Healey, Alfa Romeu, Alvis, Jaguar, Bugatti, Aston Martin, Allard, Fiat e Ferrari, para citar algumas das 59 casas automobilísticas presentes. Entre os dias 15 e 18 de maio, as estradas entre Brescia e Roma se transformam em pistas de um gigantesco autódromo ao ar livre com os carros que fizeram a história do mundo das quatro rodas.

Eles vieram dos quatro cantos do planeta e chegaram à cidade de Brescia, no norte da Itália, via mar, terra e ar. Para a maioria dos suíços, a viagem transalpina serviu como “aquecimento” dos motores. Mas para o colecionador Marco Trevisan, que vive no Canadá’, foi uma empreitada. “Coloquei o meu Healey Silverstone dentro de um container e despachei por avião. Estar aqui é emocionante, e eu não podia faltar”, disse ele para a swissinfo.

Os carros ficaram guardados a sete chaves dentro da Feira de Brescia, que se transformou numa garagem de valor incalculável. Ali, lado a lado, estavam raridades como o Jaguar XK120 OTS, de 1950. “Este é um carro fantástico, o mais famoso da sua série. Ele venceu duas vezes a competição transalpina, em 1950 e 1951. Esperamos fazer um belo rally nos próximos três dias. Este é um carro muito importante para história da Jaguar”, disse Stephen Voegeli, co-piloto.

Um sonho que dura

Ter conquistado um lugar no grid de largada já foi uma grande conquista. Afinal, dois mil candidatos disputaram uma das 350 vagas disponíveis. “Este é um sonho que dura todo o ano, esperamos o mês de maio para participar torcendo para ser selecionado.”, disse Arturo Pellagata, de Lugano, diante da sua Alfa Romeu 6C 1750, Grand Sport, de 1930.

Antiguidade, cilindrada, importância histórica e participação em passadas edições da prova Mil Milhas foram os critérios usados pelos organizadores para a escolha das jóias raras da indústria automobilística, fabricadas na primeira metade do século passado. E alguns são exemplares únicos.

Um dos orgulhos do design e da engenharia mecânica da época é um Alvis Speed 25 SC, de 1937. O proprietário Rudolf W. Hug lembrou que este é o único exemplar presente na corrida deste ano. Ele e a mulher davam os últimos retoques na carroceria que não apresenta os sinais do tempo. Reluzente e imponente como se tivesse apenas saído da concessionária, o carrão chama a atenção de todos. Mas ao contrário do que se esperava o casal não vai correr junto. Ele fez par com um amigo e navegador austríaco. “A minha esposa não vai, mas ela já é a minha co-pilota na vida”, brincou o suíço.

Objetos de arte

O clima é de camaradagem e diversão e muito menos de competição. Dos japoneses aos americanos, passando pelos italianos, espanhóis, sul-africanos, russos e argentinos e representantes de outras 21 nações, todos possuem como denominador comum o amor pelos carros antigos. São colecionadores apaixonados pelas suas obras de arte, verdadeiros objetos do desejo mais profundo. Ficam anos procurando o carro dos sonhos, garimpando num exclusivo e difícil mercado internacional. E aproveitam os encontros para tirá-los da garagem ou de seus museus privados para mostrá-los ao mundo. E antes de competição cada veiculo passa por uma inspeção para apurar a originalidade das peças e a cartilha histórica do carro, a árvore genealógica. Depois é pé na estrada.

A largada foi na principal praça de Brescia e foi acompanhada por milhares de habitantes. Um a um, os carros foram ganhando as ruas e depois as estradas rumo a Roma. Os pilotos pareciam ter saído da maquina do tempo, com roupas, chapéus, óculos e luvas dos anos 30. Alguns foram já ficando pelo caminho. Mais do que uma corrida contra o relógio, esta é uma prova de resistência para os pilotos e para os carros.

Depois de uma noite mal dormida, com poucas horas de sono, lá estão eles, nas ruas de Ferrara, junto ao meio fio, colocando a água no radiador, checando o nível do óleo, trocando os pneus e as velas. Enfim, proprietários e mecânicos colocam a mão na massa para depois não ficarem a pé. A chance de um enguiço está sempre ‘a espreita.

E se no passado as estradas eram de terra batida, mais difíceis para os pilotos, pelo menos os carros eram novos, do ano. Hoje, todo o percurso de 1.600 km é sobre o asfalto, mas os motores e as peças originais podem sentir o peso da idade. O prazo de garantia venceu já faz tempo. Para evitar o pior, muitos competidores viajam com uma equipe de apoio.

Importante é chegar

O ronco dos motores, um empurrãozinho aqui e ali, muita fumaça e lá vão eles. Esses carros arrancam pelas ruas estreitas, sempre no limite da velocidade de 50 quilômetros, para não ganhar multa. Depois na estrada podem subir para 90 km/h, mas com alguns carros que alcançam os quase 300 km/h fica difícil imaginar que muitos não irão cair na tentação de pisar fundo de vez em quando.

“Fizemos uma bela viagem. Espero que o tempo continue assim, com sol. Estou aproveitando muito e sei que o importante aqui é competir”, disse Marco Trevisan, enquanto verifica a rota entre Ferrara e Roma, minutos antes da sua vez de alinhar para partir.

Mais do que competir, o fundamental é chegar.

swissinfo, Guilherme Aquino, Milão

Os veículos foram divididos de acordo com a cilindrada dos motores e nas categorias Gran Turismo, Turismo e Sport.

O pior acidente da Mil Milhas ocorreu em 1957. O piloto espanhol Alfonso de Portago saiu da estrada a 300 km/h por causa de um pneu estourado. Ele e o jornalista Emundo Gurner Nelson, navegador da dupla, morreram com outros nove espectadores atropelados pela Ferrari desgovernada. Cinco eram crianças. O construtor do carro, o mítico Enzo Ferrari foi parar no tribunal.

O governo italiano proibiu as corridas em estradas abertas, logo após a tragédia. Assim, para sobreviver os organizadores transformaram a corrida de velocidade em regularidade.

O recorde do percurso pertence ao piloto Stirling Moss, com uma Mercedes-Benz 300 SLR. Em 1955, ele correu os 1.600 km em 10 horas e 8 minutos, com uma média de 157 km/h.

A empresa suíço Chopard e’ a patrocinadora oficial das Mil Milhas, o presidente e o vice-presidente participam da corrida.

A lista dos pilotos e co-pilotos suíços da atual edição das Mil Milhas e seus veículos:

Julio Batista e Pablo Batista pilotam uma Ferrari 212, de 1952.

Luigi Carlini e Giancarlo Ambrosetti pilotam uma Alfa Romeu 1900 Sprint , de 1954.

Alessandro Fabiani e Camillo Costa, Alfa Romeu Giulietta Sprint Veloce, de 1957.

Giacomo Foglia e Paola Boselli, Bugatti Type 35, de 1925.

Rudolf W. Hug e Erhard Grossnigg (austríaco), Alvis Speed 25 SC, de 1937.

Thomas Hubner e Anja Hubner, Healey Silverstone, de 1950.

Vic Jacob e Marc Jacob, Austin Healey 100S, de 1955.

Gunter R Kaser e Herla Hern Kaser, Aston Martin Ulter, de 1935.

Jurg Konig e Felix Lienhard, Bugatti Type 37 A, de 1926.

David Large e Jonathan Everard (inglês), Austin Healey 100S, de 1955.

Thierry Lombard e Henri-louis Manouir, Aston Martin DB 3S,d e 1953.

Paolo Macchi(italiano) e Enrico Gian Dutschler, Austin Healey 100, de 1955.

Axel Marx e Alberto Dona ( austriaco), Alfa Romeu 6C 1750, Grand Sport, de 1930.

Stephan Musfeld e Dominik Musfeld, Allard K2, de 1951.

Arturo Pellagata e Stefano Coratelli, Alfa Romeu 6C 1750, Grand Sport, de 1930.

Antony Pickring (inglês) e John Pickring, Fiat 8V, de 1953, numeral 213 Michele Prevosti (italiano) e Valentina Ernst, Maserati 250S, de 1954.

Karl Scheufele (presidente da Chopard, patrocinadora
oficial) e Albert Carreras (espanhol), Mercedes-Benz 300 SL W 198-I, de 1950.

Karl-friedrich Scheufele e Cristine Scheufele, Aston Martin Uslter, de 1955.

Werner Shumacher e Denise Schumacher, Aston Martin DB2/4, de 1955.

Marco Trevisan e Urs Ernst, Healey Silverstone, de 1950.

Max Noetzli e Stephen Voegeli, Jaguar XK120 OTS, de 1950.

Stepano Biondetti (italiano) e Carlo Alberto Steinhauslin, Jaguar XK120 OTS, de 1951.

Total de pilotos e navegadores suíços: 38

59 marcas diferentes de carros presentes na edição da Mil Milhas.

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