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Mitos e paradoxos da Edelvais

Antigamente considerada inacessível, a edelweiss hoje e cultivada, como aqui ici dans na montanhas dos Grisões (leste). Keystone

A edelvais é um símbolo nacional desde o fim do século 19. A flor alpina que cresce entre 1.300 e 3.000 metros de altitude, a “estrela das neves” é mal conhecida.

Os jardins botânicos de Genebra e de Zurique organizam uma exposição bilíngue dedicada à famosa flor branca.

Para a ocasião, um livro ilustrado de 160 páginas em francês pelas Edições Belvédère, acaba de ser publicado. Apresentado do Salão de Livro de Genebra, Edelweiss reine des fleurs (Edelvais rainha das flores) também é publicado em alemão pela AT Verlag.

 

“Jamais um livro tão completo tinha sido publicado sobre a edelvais”, afirma o editor franco-suíço Emmanuel Vandelle. “Ele deve satisfazer todos os amantes de plantas, da natureza, de símbolos, dos Alpes e da montanha”, acrescenta.

“A ideia do livro e da exposição nacional germinou mais ou menos ao mesmo tempo, há cerca de quatro anos”, contra o botanista e pesquisador José Vouillamoz, um dos cinco autores do livro. “Nos demos conta de que nenhum livro completo sobre a edelvais tinha sido publicado na Suíça. Falamos então com Didier Roguet, também coautor do livro, etnobotanista e conservador do Jardim Botânico de Genebra, que aceitou colaborar conosco e, além disso, organizar uma exposição nacional sobre o tema”.

Pequena flor branca, prateada e aveludada, a edelvais ou leontopodium alpinum (literalmente pé de leão dos Alpes), não é facilmente vista pelos que caminham pelas trilhas alpinas. O fato de ser rara talvez explique a fama de inacessível que ela tem. Um mito, de acordo com Didier Roguet: “A edelvais é mais frequente do que se tem tendência a crer e não é uma espécie ameaçada de extinção. Além disso, desde o início dos anos 1990, ela é cultivada no estado do Valais (sudoeste) para atender a indústria cosmética”.  

Essa “flor suíça, emblemática por excelência”, como a define o conservador do Jardim Botânico de Genebra e comissário da exposição, é originária do Himalaia e da Sibéria, onde ainda existem mais de 30 espécies selvagens mal conhecidas. Ela “emigrou” até a Europa depois das glaciações quaternárias e pode ser encontrada em todo o arco alpino, no Jura, nos Pirineus, e nos Cárpatos.

Na verdade, a edelvais não é uma flor, mas um conjunto de 500 a 1000 florzinhas minúsculas reunidas em inflorescências envoltas de cinco a quinze brácteas espalhadas que dão sua forma característica de estrela, explica José Vouillamoz.

“A exposição bilíngue que organizamos com o Jardim Botânico de Zurique é a primeira organizada na Suíça sobre a edelvais”, precisa Didier Roguet. “A domesticação dessa espécie e a lenta diversificação de sua imagem de origem permitir fazer esse projeto”, acrescenta.

Para realizar o projeto, os dois jardins botânicos nacionais colaboraram com os institutos de pesquisa agronômica de Changins (Vaud) e Wädenswil (Zurique). Vários botanistas trabalharam durante quatro anos na concretização dessa ambiciosa ideia.

Um percurso didático

“A exposição tem um itinerário de aproximadamente 800 metros que pode ser percorrido em 50 minutos, segundo o conservador do Jardim Botânico de Genebra. Trata-se de uma espécie de passeio lúdico e didático, com algumas tendas e estandes onde se explica ao visitante tudo sobre a edelvais. Há documentos, textos, fotos, objetos e até um filme em 3D”. As plantas podem ser observadas em um vasto espaço pedregoso.  

A exposição é organizada em quatro polos interativos: a edelvais botânica, a cultura e a proteção do mito, o aspecto medicinal, cosmético e alimentar e o símbolo. “São quatro pontos da cruz suíça”, sublinha Didier Roguet. “Até o fim do século 19, quando tornou-se um símbolo nacional, a edelvais era pouco conhecida. Na época, nada a predispunha à celebridade helvético-alpina que hoje decora a maioria dos objetos turísticos de consumo”.

A edelvais orna de fato uma série de produtos Made in Switzerland: cartões postais, placas de chocolate, roupas folclóricas, protetores solares, carteiras e bebidas energéticas, por exemplo. Esse emblema alpino também foi objeto de lendas como a do apaixonado temerário que, arriscando a vida, subiu em uma rocha escarpada para colher a preciosa flor e oferece-la à mulher amada.

Flor predileta de Hitler

Protegida em praticamente todos os países onde ela cresce, na Suíça a “estrela das neves” não beneficia de proteção nacional, mas em 14 cantões (estados) em que ela pode ser encontrada como Vaud, Valais, Friburgo, Berna, toda a Suíça Central e o Ticino (sul). Suas virtudes terapêuticas são poucas e mesmo os botanistas as conhecem mal. No entanto, ela é utilizada para tratar a diarreia em homens e animais e por suas propriedades de antienvelhecimento.

O uso da edelvais, no entanto, nem sempre foi anódino, como conta Didier Roguet: “Era a flor predileta de Hitler e, em 1935, a Wehrmacht a utilizou como emblema dos uniformes de sua divisão alpina”.

Paradoxalmente, “quase no final da Segunda Guerra Mundial, ela tornou-se o símbolo da resistência alemã contra o nazismo: os “Edelweisspiraten” eram grupos de jovens trabalhadores que haviam se distanciado do nacional-socialismo e combatiam o regime com guerrilhas urbanas”.

Francês. Publicado pelas Edições do Belvédère,

Edelvais, rainha das flores está à venda desde 29 de abril e custa 59 francos.

 Alemão. A versão alemã acaba de ser publicada pela editora AT Verlag.

Dois lugares. “Edelvais, mitos e paradoxos”, será inaugurada quinta-feira (20/5) nos Jardins Botânicos de Genebra e Zurique.

Três línguas. Bilíngue e com tradução em inglês, existem visitas com guias, excursões e ateliês didáticos.

Seis visitas noturnas e teatralizadas – um grupo de atores se produzirá ao longo do percurso – em junho e setembro. A entrada é livre.

Até 16 de outubro.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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