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Moradores das montanhas morrem menos de infarto

Perpsectiva de vida longa: agricultor suíço nas montanhas de Appenzell (leste do país). Robert Bösch/swiss-image

De acordo com um estudo da Universidade de Zurique, moradores das montanhas suíças morrem menos de ataques cardíacos ou infartos cerebrais.

Os pesquisadores presumem que fatores climáticos favoráveis e a adaptação do organismo à altitude reduzem o risco de doenças cardiovasculares.

Quem já esteve nos Alpes suíços sabe que o céu é mais azul e o sol mais intenso. Isso influencia também o corpo – olhos, nariz e boca secam. Caminhar cansa rapidamente. Quem não se cuida, pode sofrer queimaduras solares.

“A altitude possivelmente tem um efeito profundo e sustentável, não apenas de curto prazo, sobre nosso corpo. Há indícios de que viver em altitudes maiores diminui o risco de morrer de ataque cardíaco ou infarto cerebral”, afirmam os pesquisadores David Fäh e Matthias Bopp em um comunicado da Universidade de Zurique.

Até agora, esse assunto tinha sido pouco pesquisado e os resultados eram contraditórios. A equipe de pesquisa de Fäh e Bopp, do Instituto de Medicina Preventiva da Universidade de Zurique, analisou os dados de 1,64 milhão de habitantes da Suíça alemã.

Eles avaliaram até que ponto o local de residência tem relação com o risco de morrer de ataque cardíaco ou infarto cerebral. Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte na Suíça. Elas foram responsáveis por 37% do total de 61.089 em 2007, segundo dados do Departamento Federal de Estatísticas.

“Viver a grandes altitudes tem um forte efeito protetor”, segundo os epidemiologistas. Eles concluíram que, para cada mil metros de altitude, o risco de morrer de ataque cardíaco diminui 22% e a probabilidade de morrer de infarto cerebral, 12%.

Qualidade do ar e luz solar

Não está claro, porém, como surge esse efeito protetor. Segundo Bopp, a melhor qualidade do ar nas montanhas ou a irradiação solar mais intensa poderiam ter uma influência. Pelo fato de ocorrer menos neblina nas montanhas, os moradores dos Alpes talvez tenham um nível mais elevado de vitamina D, que só é formada no corpo com a ajuda da irradiação solar.

Sondagens mostram que os moradores das montanhas não fumam menos do que os das planícies e que também não se alimentam de forma mais saudável. “Por isso, é improvável que esses clássicos fatores de risco sejam responsáveis pelas diferenças de risco entre diversas altitudes”, David Fäh, autor principal do estudo.

No entanto, não só o local de moradia, como também o de nascimento, o tempo de permanência e a fase da vida em que alguém morou numa determinada altitude parece ter influência sobre a saúde do coração e do sistema vascular.

“Quem, por exemplo, nasceu e mora no Engadin (Grisões) – com altitudes entre 1000 e 1800 metros – tem um risco menor de morrer de doença cardiovascular do que alguém que se mudou para lá da planície”, conclui Fäh. “E quem nasceu no Engadin e depois vai morar em regiões mais baixas preserva parte da proteção decorrente da altitude.”

Adaptações no ventre

O estudo publicado na revista científica Circulation não aponta as causas exatas dessa proteção. Mas Bopp presume que adaptações ainda desconhecidas no ventre materno possam fazer com que o nascimento nas montanhas represente uma vantagem para a sobrevivência.

Para vincular claramente essa vantagem para a saúde à altitude, esses mecanismos precisam ser esclarecidos, porque até agora os resultados apenas estabelecem correlações, explicou o cientista à agência de notícias SDA.

Segundo o comunicado, o estudo tornou-se possível através do projeto Swiss National Cohort, uma vinculação anônima de dados pessoais do censo populacional de 1990 e o obituário de 1990 a 2000. Foram considerados habitantes da Suíça alemã com idade de 40 a 84 anos, que moravam entre 259 e 1960 metros acima do nível do mar.

A Suíça oferece uma plataforma ideal para uma pesquisa dessas: em seu pequeno território (41.285 km2), ela tem povoamentos localizados entre 200 e 2000 metros de altitude com diferenças mínimas em relação à etnia, nível de bem-estar, educação, condições de saúde e acesso à medicina.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências)

Setenta por cento do território suíço, de 41.285 km2, estão localizados em regiões alpinas.

Entre 1980 e 2005, a população nessas regiões aumentou de 1,47 milhão para 1,78% milhão de habitantes, o que correspondeu a um crescimento de 20,3%.

Segundo a ONG Ajuda Suíça às Montanhas, essas regiões geram aproximadamente meio milhão de empregos de tempo integral.

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