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Na crise, é hora de acertar os ponteiros

Baselworld, que vai até 2 de abril, permite sentir o pulso do setor relojoeiro. Para a Suíça é o 3° setor industrial de exportação. Keystone

Baselworld 2009, o maior salão mundial da relojoaria, abriu suas portas hoje por oito dias.

Nesta entrevista, François Thiébaud, presidente do comitê de expositores suíços, afirma que a situação atual não tem nada a ver com a crise do setor relojoeiro da década de 70.

Depois de cinco anos de crescimento recorde, a principal exposição mundial dedicada à relojoaria e à joalheria foi inaugurada nesta quinta-feira pelo ministro do Interior, Pascal Couchepin, em um clima de crise.

Segundo François Thiébaud, Baselworld é um barômetro da situação: expositores, visitantes e jornalistas se encontram. “Voltemos à tradição relojoeira e esqueçamos as extravagâncias do passado”, recomenda o grande patrão relojoeiro.

swissinfo: O mundo está doente da crise. De que mal sofre o setor relojoeiro, uma gripe ou um câncer?

François Thiébaud: De nenhum mal incurável. O setor relojoeiro é afetado pela crise mundial, mas é mais uma crise confiança. As pessoas não têm liquidez, os créditos bancários estão bloqueados e, como o clima de morosidade é amplamente repercutido pela mídia, os clientes adiam a decisão de comprar.

O grupo Swatch ao qual pertenço possui numerosas lojas no mundo. Notamos que o consumo não parou, mesmo se constatamos infelizmente uma alta do desemprego. Já há sinais de retomada com a perspectiva do G20 em Londres. Espero que a máquina poderá repartir rapidamente.

O senhor parece confiante no futuro. Haverá um pós-crise?

É preciso reconhecer que é a maior crise desde os anos 30, mas as mentalidades vão mudar. Vamos retornar ao verdadeiro valor das coisas. Teremos menos extravagâncias como nos últimos anos, notadamente a nível de preços. Voltaremos para a tradição relojoeira e à valorização dos artesãos. Vamos colocar os pêndulos na hora certa!

Quais são atualmente as regiões do mundo mais atingidas nesse setor?

Principalmente a América, de norte a sul, e especialmente os Estados Unidos, onde constatamos queda nas vendas de 20, 30 ou até 60%. Há muitas falências de empresas. Na Europa, é sobretudo a Espanha por causa do setor imobiliário. Em contrapartida, os países árabes se mantêm. Na Ásia, o país mais atingido é o Japão. Não é o caso da China, que prevê um crescimento de 8% este ano.

É bom lembrar que a queda do faturamento anunciada em fevereiro(- 22,4% em relação a fevereiro de 2008) é enganosa porque referia-se às exportações. Como estão os estoques?

É verdade que os números mencionados de exportação não significam que os relógios não vendidos. Esses relógios estão nos revendedores, nos distribuidores ou nos pontos de venda? Eles chegam ao consumidor final? Não sabemos.

Mas acho que as fortes quedas registradas a partir de outubro 2008 significam que os estoques começam a diminuir. Os números de março mostram que recomeçamos a subir a ladeira e que em maio e junho haverá uma retomada. Não será a opulência, mas penso que o pessimismo deverá diminuir nos próximos meses.

Baselworld é um barômetro da situação.O número de expositores de relogios aumentou e da relojoaria caiu muito pouco, não?

O número de visitantes e de jornalistas que virão ao Salão até 2 de abril deverá nos dar outros indícios. A relojoaria está situada no centro do mundo do luxo, setor atingido em cheio pela crise. A imprensa vai poder observar as tendências. Se a mídia percebe em Basileia um sinal de retomada, será um sinal fantástico para todo o setor.

A crise relojoeira vai afetar os esportes com menos patrocício?

Até agora, as marcas que eu represento não reduziram nenhum orçamento, mesmo se é verdade que a hora não é propícia para novos compromissos. De um lado temos contratos assinados, de outro seria um sinal negativo para o público.

Se tivermos menos lucro, as grandes empresas relojoeiras continuam faturando. Então devemos economizar nos custos, despesas de viagem e de representação. Hoje convém preserva o conhecimento e o pessoal, não demitir de maneira precipitada.

Como está o mercado paraleo. O setor tem como lutar contra?

Quando tudo vai bem, as importações paralelas também funcionam muito bem. Quando vai menos bem, o mercado paralelo também deveria sofrer. Mas é verdade que certos revendedores tentarão vender com descontos importantes. Basta que um mercado funcione mal que o distribuidor vai tentar revender seu estoque a preço baixo.

Esse fenômeno colocou o bicho na maçã de certas marcas. Mas existem contratos de distribuição que garantem o acompanhamento do produto e do serviço pós-venda. Sair do circuito tradicional comporta riscos, inclusive para o consumidor. Comprar no paralelo ou de contrabando contribui a desestabilizar a economia.

É melhor trabalhar com gente que ganha a vida honestamente do que alimentar criminosos, exploradores do trabalho infantil ou patrões que não respeitam condições sociais. Melhor é apostar na qualidade e garantia suíça.

swissinfo, Olivier Grivat, Basileia.

Centrada na relojoaria, na joalheria e setores anexos mundiais,
Baselworld vai de 26 de março a 2 de abril em Basileia, noroeste da Suíça.

Esse salão comercial, o maior organizado na Suíça, reúne 1.952 expositores de 45 países (2.087 em 2008).

Os 359 fabricantes de relógios ocupam quase dois terços dos 160 mil metros quadrados de exposição.

95% da produção relojoeira suíça está presente.

dois terços dos expositores são europeus, e um quarto asiáticos.

Mais de 106 mil visitantes de cem países e quase 3 mil jornalistas acompanharam a edição 2008.

A próxima edição está agendada entre 18 et e 25 de março de 2010.

Recuo. Terceira indústria de exportação da Suíça, a relojoaria registrou forte recuo em janeiro e fevereiro, depois do faturamento de 17 bilhões de francos de 2008.

Queda. Nos Estados Unidos, segundo mercado, e no Japão (5°), as exportações caíram 47,5% e 13,3%, respectivamente.

Exceção. A Europa e a Ásia registraram recuo das vendas de menos de 10%. Só na Itália, terceiro mercado para a relojoaria suíça, as vendas não caíram.

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