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Negócios internacionais com enterro ao ar livre

Enterro de cinzas ao pé de uma árvore em Beatenberg, nos Alpes bernenses. naturbestattungen.de

Nem todas as pessoas gostariam de ser enterradas em cemitérios. Na Suíça é permitido espalhar cinzas mortuárias ao ar livre, sobre geleiras ou até florestas.

Graças à política liberal, empresas atuantes na área procuram clientes também na Alemanha.

“Se cidadãos da União Europeia manifestam o desejo de terem suas cinzas espalhadas na natureza, isso é possível através de uma declaração de intenções. Na Suíça não existe a obrigatoriedade de enterro em cemitérios. Portanto existe a liberdade de escolha”, escreve o site da funerária suíça “Incandescência eterna nos Alpes”.

Já a “Oásis da Eternidade” de Grevenbroich, vilarejo próximo à Düsseldorf (Alemanha) oferece cerimônias fúnebres em Beatenberg nos Alpes bernenses. “Na bela natureza dos Alpes suíços o senhor pode espalhar suas cinzas mortuárias ou dos seus familiares de uma forma natural. Trata-se de uma alternativa confiável e bonita em relação ao cemitério na Alemanha ou no mar”.

Desde abril de 2001 a funerária alemã promove cerimônias fúnebres de dispersão de cinzas mortuárias em um terreno comprado por ela em Beatenberg, uma área de 15 mil metros coberta por florestas. As cinzas dos falecidos podem ser enterradas ao pé de uma árvore (1598 euros) ou espalhadas no terreno (324 euros). A maioria dos clientes é originada da Alemanha.

Segundo o chefe da empresa, Dietmar Kapelle, os negócios vão de vento em popa. “Nos primeiros dois meses organizados 60 cerimônias. No ano esperamos 125 cerimônias sem parentes e o mesmo número com o acompanhamento de familiares.”

Para esse pequeno vilarejo de 1.200 habitantes localizado em uma montanha acima do lago de Thun, a ideia mostrou ser lucrativa. “Um hoteleiro de Beatenberg revelou durante a assembleia de moradores que o mês de maio, geralmente fraco, foi o melhor dos últimos dez anos”, afirma Kapelle.

Turismo do enterro 

Segundo um artigo publicado no jornal bernense “Berner Zeitung”, nem todas as pessoas estão felizes com esse novo modelo de negocio. Alguns já falam em “turismo do enterro” (n.r.: fazendo alusão ao chamado “turismo da morte”).

“Essa palavra incomoda um pouco”, critica Kapelle. “Porém a Suíça vive precisamente do turismo. E os familiares vêm naturalmente como turistas. Um ano depois eles retornam para visitar a avó falecida e permanecer uma ou duas semanas.”

Protestos contra as cerimônias fúnebres ao ar livre ocorreram há alguns anos no cantão do Valais (sul da Suíça). Então, desde 1° de junho de 2009, foram proibidas aquelas agenciadas por empresas.

No cantão de Berna um cidadão alemão foi condenado em primeira instância por violar repetidamente a lei cantonal de florestas. Ele é acusado de ter enterrado nas florestas por várias vezes, como agencia fúnebre profissional, cinzas de pessoas falecidas sem as autorizações necessárias. O processo ainda não foi concluído.

Retorno à natureza 

Cerimônias fúnebres ao ar livre não são recentes na Suíça. As chamadas “florestas da paz” existem no país desde 1993. O suíço Ueli Sauter havia lançado a ideia de enterrar as cinzas mortuárias de uma pessoa próximo à raiz de uma árvore. Esta seria então uma espécie de lápide “viva”, que não seria retirada como de costume após 25 anos, mas sim duraria 99. Uma árvore custa aproximadamente cinco mil francos.

A empresa “Floresta da Paz” registrou seu nome em toda a Europa. Ela é a maior empresa do setor na Suíça e possui, atualmente, 70 florestas. Outras estão em planejamento. Esse tipo de floresta já existe há dez anos também na Alemanha.

Na Alemanha, onde as cerimônias “naturais” eram até poucos anos proibidas pelas autoridades, ocorreu uma mudança de mentalidade. “A Conferência dos Bispos era absolutamente contra esse tipo de cerimônia. Hoje essas florestas são abençoadas. A Igreja se acostumou com a ideia. Em dez ou vinte anos haverão aqueles que dirão que foi sua ideia”, declara Sauter, 70 anos.

Área pouco lucrativa 

Empresas “barateiras” originadas da Alemanha não estragam os negócios de Ueli Sauter. “Não sentimos concorrência”. A “Floresta da Paz” na Suíça não realiza cerimônias com cinzas de estrangeiros. No máximo aqueles que vêm das áreas limítrofes como Constância. Também os negócios firmados no setor não são tão lucrativos como as pessoas imaginam, explica ainda o empresário.

Isso é confirmado por Werner Wilhelm, presidente da Associação Suíça de Funerárias. “A necessidade de terminar depois da morte próximo à natureza existe”. Porém ele não percebeu nos últimos anos um crescimento da demanda por esse tipo incomum de cerimônia fúnebre. “As estatísticas mostram que são apenas dez por cento em relação às tradicionais.”

Sabe-se que 75% das pessoas pedem a cremação. O que ocorre com as cinzas não é de conhecimento público, pois geralmente na Suíça elas são entregues aos familiares. Na Alemanha e na Áustria a prática é diferente: nesses países as urnas ficam com as funerárias.

Influência “zero” no meio ambiente 

Na Suíça as práticas fúnebres são regulamentadas pela comuna (município). As cerimônias comerciais de dispersão de cinzas em florestas são observadas pelos órgãos cantonais de controle das florestas. A base legal é a Lei federal das florestas de 1991, artigo 16.

“É necessário garantir que a floresta não sofra prejuízos”, afirma o agente Walter Marti, responsável pelo setor 4 em Emmental (região localizada próximo à Berna). “A floresta precisa continuar desobstruída. Enterros não podem ser realizados. Nenhuma urna pode ser enterrada ou lápides, cruzes ou decorações mortuárias podem ser fixadas. Apenas uma placa de 10 centímetros por dez é permitida.”

Inicialmente Marti tinha problemas com a ideia das cerimônias nas florestas. Hoje ele compreende que cada vez mais pessoas pensam da seguinte forma: “Por que olhar por trinta anos a um túmulo quando nosso pai ou mãe sempre se sentiu bem sobre esse banquinho na floresta?”.

Até então não houve protestos por parte da população, quando há pouco foi autorizada a criação de uma “floresta da paz” em Sumiswald. “Nada ocorre à floresta. Se um coelho morre naturalmente, as consequências para a natureza são maiores do que se uma urna cheia pela metade é esvaziada nela.”

As práticas de enterro são regulamentadas pelo cantão (estado) ou comuna (município).

Diferentemente da Alemanha ou Áustria, na Suíça não existe a obrigatoriedade de realizar cerimônias fúnebres em cemitérios. Isso significa que os parentes da pessoa falecida podem levar para casa as urnas com as cinzes mortuárias depois da cremação.

Cidadãos europeus que desejam terem suas cinzas espalhadas na natureza na Suíça precisam preencher uma declaração de intenção e enviá-la à funerária no seu país e na Suíça.

Existem diversas formas de enterro “natural”: as cinzas podem ser espalhadas no vento, sobre um campo verde, uma geleira, córrego, rio, lago, floresta ou ser até enterrado no pé de uma árvore.

Para os enterros naturais organizados de forma comercial é necessária uma autorização. As autoridades competentes são os órgãos cantonais de controle das florestas.

Adaptação: Alexander Thoele

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