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Neonazismo cresce na Suíça

Em 1o de agosto muitos neonazistas compareceram ao festejo nacional no Rütli. Keystone

A presença de 400 neonazistas em concerto musical em homenagem a extremista inglês lança polêmica na Suíça.

Enquanto os ataques racistas e manifestações aumentam, muitos criticam as autoridades pela sua passividade em relação à extrema-direita.

Um perigo que parecia distante da realidade suíça: jovens extremistas, que agridem estrangeiros ou gritam em público “Heil Hitler”. Porém nos últimos tempos, os casos tem se repetido com uma freqüência assustadora.

Em 26 de abril de 2003, um grupo de skinheads agridiu em Thurgau dois jovens. Os ferimentos foram tão graves, que eles ficaram paraplégicos. Dois anos depois, os seis autores do crime foram condenados a penas entre quatro e cinco anos de prisão.

Em 1o de agosto de 2005, 800 jovens neonazistas compareceram aos festejos do dia nacional da Suíça no Rütli e agridiram verbalmente o presidente da Confederação Helvética, Samuel Schmid. Depois o grupo marchou pelas ruas de Brunne num protesto organizado pelo Partido dos Suíços Nacionalistas (PNOS, na sigla em alemão).

Em 17 de setembro de 2005, 400 neonazistas participaram de um concerto musical em homenagem a Ian Stuart, um inglês falecido recentemente e fundador da organização de extrema-direita “Blood & Honour” (Sangue e Honra). Durante o evento jovens gritaram palavras de ordem contra judeus e aclamaram Hitler. A polícia não interveio.

Em 18 de setembro de 2005, o jornal dominical “Sonntags-Zeitung” publicou uma reportagem-denúncia sobre um neonazista de Lucerna que fez uma carreira meteórica no exército suíço.

No final de setembro, jovens neonazistas distribuíram no pátio de recreação de quatro escolas em Aargau, centro da Suíça, CDs com músicas e hinos extremistas.

Perigo?

Sobretudo a agressão verbal sofrida pelo presidente suíço provoca muita discussão no país dos Alpes. Seriam as manifestações de extremistas um sinal de perigo latente ou apenas brincadeiras de adolescente?

Para Christoph Mörgeli, deputado da União Democrática do Centro (UDC), partido de direita com representação no Parlamento e no governo, os skinkheads do Rütli que levantavam os braços na típica saudação hitleriana e gritavam palavrões são apenas “nazistas de fim-de-semana”.

Seu colega de partido, o ministro da Justiça Christoph Blocher, considerou publicamente a marcha nazista do 1o de agosto menos perigosa do que as manifestações de extremistas de esquerda, realizadas durante seu discurso em Winterthur. O político também culpou o jornal sensacionalista “Blick” pela algazarra neonazista no Rütli.

Críticos como o jurista Marcel Niggli consideram essa posição perigosa. “Existem alguns suíços, incluindo também alguns da classe política, que não vêem perigo no racismo e nos riscos que ele representa para a democracia”, afirma.

Posição clara

Nesse sentido, as leis de combate ao racismo têm dado seus primeiros frutos. “Isso pode ser visto no número de pessoas processadas e também na forma intensiva como diversos representantes dos grupos de direita combatem essas leis há mais de dez anos. Muito provavelmente elas incomodam”.

O jurista ainda acrescenta: – “Enquanto uma parte da sociedade e da classe política for tolerante em relação ao extremismo de direita, seus efeitos perversos não vão parar de se repetir”, diz Niggli.

“Amole a longa faca na calçada. Deixe-a penetrar nos corpos judeus. O sangue deve jorrar aos borbotões e nós cagamos em cima da liberdade dessa república de judeus”. Essa era a música cantada por um grupo num concerto neonazista em Brig. “Se esses grupos podem se comportar dessa forma na frente da polícia, então isso mostra que uma parte da nossa justiça não é capaz de aplicar as leis anti-racismo”, analisa Niggli.

A argumentação das autoridades, de que não intervieram pelo fato do encontro ter se tratado de um evento de caráter privado, não é aceita pelo jurista e professor. Com 400 participantes, o concerto não pode ser visto como uma festa de um grupo isolado.

No momento a polícia cantonal do Valai está investigando os organizadores e grupos musicais pela realização de um evento sem a autorização necessária e também por crime previsto nas leis anti-racismo.

Problema de coordenação

O departamento de análise e prevenção (Dienst für Analyse und Prävention – DAP) da Polícia Federal Suíça, responsável pela segurança interna do país, tem como uma das tarefas mais importantes a análise e planejamento de medidas preventivas contra o terrorismo e movimentos extremistas.

No caso de manifestações de neonazistas, sua obrigação é informar o mais rápido possível as autoridades cantonais, para que medidas possam ser tomadas. Porém no caso do concerto de 17 de agosto, onde grupos neonazistas homenagearam o inglês recém-falecido Ian Stuart, fundador do grupo extremista “Blood & Honour”, o DAP falhou apesar do evento já estar anunciado há semanas em diversos sites na Internet.

A polícia cantonal acabou sendo informada apenas no último minuto e não pode tomar providências.

Na opinião do jurista Niggli, a culpa está no fato das autoridades federais darem muito mais atenção aos riscos do extremismo de esquerda do que os da direita. Na Alemanha, país europeu que conhece também o mesmo problema, os movimentos neonazistas provocam cinco vezes mais delitos do que os extremistas de esquerda. “Na Suíça o problema não deve ser tão diferente”, explica.

swissinfo, Jean-Michel Berthoud

O departamento de análise e prevenção (Dienst für Analyse und Prävention – DAP) da Polícia Federal Suíça é responsável pela segurança interna do país.

O DAP trabalham em estreita cooperação com as polícias cantonais, federais e outros órgãos públicos.

Uma das suas tarefas mais importantes é analisar e planejar medidas preventivas contra o terrorismo e movimentos extremistas.

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