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Feira de moda íntima mostra recuperação econômica

Um dos desfiles deste ano na Fevest, em Nova Friburgo fevest.com

Famosa em todo o Brasil, a feira de moda íntima feminina da cidade de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, chegaria a sua vigésima edição em 2011.

Uma grande festa estava preparada, mas o impacto da tragédia que custou a vida de 451 pessoas e arrasou a economia do município após as fortes chuvas e deslizamentos de terra ocorridos em janeiro do ano passado fez com que tudo fosse deixado de lado. Pela primeira vez em duas décadas, a feira deixou de ser realizada.

Lutando para superar as perdas, Nova Friburgo pôde finalmente realizar, entre os dias 5 e 7 de agosto, com um ano de atraso, a 20ª Feira Brasileira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria Prima (Fevest). O evento levou mais de 20 mil pessoas à cidade, segundo seus organizadores, e já pode ser considerado um símbolo da volta por cima que começa a ser dada pela economia local.

Nova Friburgo é o principal pólo produtor de lingerie do Brasil. Segundo o Sindicato das Indústrias de Vestuário de Nova Friburgo e Região (Sindvest), o pólo confeccionista de moda íntima que se desenvolveu na cidade serrana é responsável por 25% da produção nacional, estimada em cerca de 700 milhões de peças anuais de calcinhas e sutiãs.

A vigésima edição da Fevest aconteceu em um momento de franca recuperação do setor de moda íntima, que começa a apresentar números parecidos com aqueles que ostentava antes da tragédia. Segundo o Sindvest, estão sediadas em Nova Friburgo mil e quinhentas pequenas e médias empresas de confecção de moda íntima, que empregam atualmente cerca de 20 mil pessoas.

A aposta na recuperação do setor produtor de lingerie após os revezes causados pela tragédia se traduziu em uma grande feira de negócios, com cem estandes de diversas empresas espalhados em uma área de três mil metros quadrados. Também foi criado um circuito extra para a realização de negócios nas regiões de Olaria, que tem 130 lojas de moda íntima feminina, e Ponte da Saudade.

Além das reuniões de negócios, a programação da Fevest contou com desfiles de moda e debates sobre o setor e a economia da cidade. Durante a feira, foi lançado também o selo de origem “Feito na Serra Carioca” para distinguir os produtos de moda íntima fabricados em Nova Friburgo. Até o final do ano, o selo de origem deverá ser estendido ao setor metalomecânico, também muito desenvolvido na cidade e em processo de recuperação um ano e meio após a tragédia.

Volume de negócios

Os cálculos ainda não foram feitos, mas a expectativa dos organizadores é que a Fevest tenha propiciado um aumento médio de pelo menos 12% no volume de negócios dos produtores de lingerie da região: “Além disso, tivemos também um reflexo fantástico em nível de marketing para a cidade, porque a feira não se restringiu apenas ao público que circulou em Nova Friburgo. Tem muito mais gente que viu e verá a cidade na mídia”, diz Marcelo Porto, presidente do Sindvest.

Outra conseqüência positiva esperada é que o sucesso dessa retomada da Fevest atraia mais turistas e profissionais do setor para fazerem compras em Nova Friburgo, uma tradição que foi quebrada pela tragédia: “Essas pessoas são tão importantes quanto às que vieram à Fevest. Isso fará muita diferença. Muitos compradores que não vieram à feira vão ficar com o sentimento de quero mais. Então, isso será interessante. Não só o resultado imediato, mas também colher os proveitos durante o ano inteiro. A própria consolidação do mercado em si fará com que o pólo não morra”, aposta Porto.

“Nova Friburgo não morreu!”

Fazer a Fevest existir novamente após ter sido interrompida por uma causa tão dolorosa para a cidade também é uma vitória comemorada: “É muito difícil mensurar a importância da existência deste evento. É mais fácil mensurar o quanto ele fez diferença ao não existir. Acredito que as pessoas nunca tenham dado o valor enquanto tinham a feira, mas fez muita diferença para os empresários do setor não tê-la. Esse fato demonstra toda a importância da Fevest para a consolidação do pólo, porque além da própria festa em si, também há uma série de outras ações em que a cidade toda sai ganhando”, diz o presidente do Sindvest.

Porto traduz com emoção o sentimento de toda a população: “Nova Friburgo não morreu! Estamos aí para brigar e fazer a diferença, esse é o nosso maior ganho. Apesar de tudo o que aconteceu e do que nós passamos, temos condições não só de nos reerguermos como, acima de tudo, de nos superarmos. Isso já está acontecendo desde o ano passado, então temos muita tranqüilidade em ver uma boa perspectiva para o futuro”, diz.

Medo continua

Toda a cidade caminha para a plena recuperação emocional e econômica, mas o fantasma da tragédia ainda assombra, trazendo medo à parte da população de Nova Friburgo. Uma semana antes da abertura da Fevest, a Justiça determinou à prefeitura local e ao Governo do Rio de Janeiro um prazo máximo de 180 dias para concluir obras de dragagem em rios e córregos e de contenção em encostas localizadas em áreas de risco e que podem desabar em caso de novas chuvas torrenciais.

A Justiça avalia, segundo as ações, que o poder público está sendo muito lento em concluir às intervenções necessárias, apesar da disponibilidade de recursos financeiros para as obras já determinada pelo orçamento estadual. As localidades de Nova Friburgo consideradas em risco são Lazareto, Jardim Califórnia, Jardinlândia, Prado, Rosa Branca, São Geraldo, Três Cachoeiras e Vila Nova.

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, anunciou no dia 8 de agosto o lançamento do Plano Nacional de Combate aos Desastres Naturais, que destinará cerca de R$ 15 bilhões para obras de reconstrução ou prevenção em 290 municípios brasileiros.

Trinta e sete municípios do Rio de Janeiro serão atendidos, e a destinação da maior parte dos recursos, ainda não detalhada, ficará com Nova Friburgo.

Nova Friburgo

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