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O “bloco negro” não é um risco para a segurança nacional

O chamado "bloco negro" é formado por jovens entre 16 e 20 anos. Keystone

Depois dos incidentes graves durante o comício da UDC em Berna, o chamado "bloco negro" entra no foco da opinião publica. Formado em grande parte por jovens extremistas, o grupo é vigiado de perto pela polícia helvética.

Representantes do governo e especialistas não acreditam que os grupos representem um perigo à democracia, mas reconhecem seu potencial destrutivo.

Depois das cenas de destruição e violência durante o comício eleitoral da União Democrática do Centro (UDC), partido da direita nacionalista, terem sido transmitidas no mundo inteiro no último sábado (6 de outubro), o tema preferido dos editorialistas é o chamado “bloco negro”.

A questão é saber quem seriam as pessoas, muitas delas vestidas de negro e com os rostos cobertos por máscaras, que destruíram o palanque do partido, vitrines de bancos e quiosques com pedras, garrafas e fogo. Muitos dos jovens extremistas não se intimidaram até mesmo com a presença da polícia. Seriam eles um perigo para a segurança nacional?

“Minha avaliação é que essas pessoas violentas sejam jovens entre 16 e 20 anos, sem nenhum interesse na política”, avalia o cientista político Mark Balsiger, presente ele próprio nos eventos ocorridos na parte antiga da capital suíça.

Oportunistas

O autor do livro “Campanha eleitoral na Suíça” acredita que a maior parte dos participantes dos distúrbios “queriam pelo menos uma vez mostrar um pouco da sua força”. Ele os caracteriza como oportunistas. “Nem todos eles estavam aparelhados como manifestantes profissionais, ou seja, vestidos com os óculos de esqui, gorros, capuzes e com pedras e outros líquidos nas mãos”, detalha Balsiger.

Ele não nega o caráter político dessas pessoas. “Eu posso imaginar que alguns deles até se considerem anarquistas. Outros possivelmente se sentiam também agredidos pelo caráter agressivo da campanha eleitoral da UDC nesses últimos meses. Uma hora eles precisam descarregar esses sentimentos”, avalia o cientista político.

Turismo de manifesto

Manifestantes de outros países, como foram descritos por alguns jornais populistas, não tiveram nenhuma participação nos distúrbios em Berna. Essa é a avaliação da Polícia Federal Suíça (Fedpol, na sigla em alemão). “Não sentimos que os protestos anti-UDC tivessem tido uma mobilização internacional de peso”, declara Jürg Bühler, do serviço de análise e prevenção do órgão.

As autoridades também não observaram nenhum movimento anormal nas fronteiras suíças. “O turismo do protesto só costuma ocorrer em eventos internacionais como o encontro de cúpula do G8 ou o Fórum Econômico Mundial”.

…e sem provocadores

Bühler também não acredita no caráter pacífico dos membros do bloco negro. Em regra, não é preciso muito para provocá-los à violência. “Sua presença nas ruas já está orientada para causar distúrbios”, diz.

Apesar da fama que conquistaram nos últimos anos e ampliada pela imprensa, o bloco negro não é visto pelas autoridades helvéticas como um risco de segurança ao país. Isso mesmo apesar da extrema violência dos distúrbios de sábado em Berna.

“Precisamos relativizar: os grupos são, em termos de número, muito fracos e pouco organizados para conseguir alcançar seus objetivos”, analisa Bühler, para quem o bloco negro luta pela quebra da ordem social e construção de uma sociedade anarquista.

Imagens que causam medo

Apesar da pouca força, o bloco negro tem tido sucesso nos últimos anos de provocar tumultos e protestos, cujas conseqüências são muitas vezes violentas ou custosas para o Estado. Na opinião dos representantes da polícia, isso explica a insegurança sentida pela população. Ela desemboca em cobrança de ação.

Nos jornais, leitores enviam cartas perguntando como é possível que 800 policiais não tenham sido capazes de conter os jovens manifestantes. Bühler se abstém de responder às questões. Ele explica que as operações dos agentes da ordem foram dificultadas pelo fato dos protestos ocorrerem em área urbana e a necessidade de levar em consideração a segurança de todos os grupos.

Jürg Bühler revela que a Polícia Federal Suíça está atualmente trabalhando com as autoridades de Berna. “Queremos trocar informações para reforçar a segurança no país e permitir o sucesso de uma próxima operação policial”.

swissinfo, Renat Künzi

O chamado “bloco negro” é um fenômeno internacional. Na Europa, esse grupo, que engloba um grande número de organizações e subgrupos do mais variado espectro político (em grande parte de extrema-esquerda ou anarquistas), costuma entrar em ação nos protestos contra a globalização ou durante grandes encontros internacionais como o do G-8 ou do Fórum Econômico Mundial.

Na Alemanha, a aparição do bloco negro nos protestos costuma ser acompanhada de atos de violência e vandalismo, com prejuízos elevados para os governos locais.

A Polícia Federal Suíça avalia que o potencial de mobilização da cena política de extrema-esquerda seja de até duas mil pessoas. Destes fariam parte também os grupos autônomos anarquistas e antifascistas.

O bloco negro não é uma organização, mas muito mais uma plataforma de ações que agrupam os mais diversos grupos.

Durante as manifestações dos quais participam, os membros do bloco negro diferenciam-se através das vestimentas negras, das máscaras cobrindo os rostos e do caráter marcial como marcham nas ruas.

Ao encontrar as forças das ordens ou representantes da extrema-direita, o bloco costuma partir para ações organizadas de violência.

A Polícia Federal Suíça divide o bloco negro em quatro principais círculos:

– O primeiro círculo seria formado por 50 pessoas, o chamado “miolo duro”.

– O segundo seriam pequenos grupos locais com 100 ou mais ativistas.

– O terceiro seriam as “massas”: 700 militantes.

– O quarto: os oportunistas, que seriam várias centenas, cujo principal objetivo é apenas participar dos distúrbios pelo culto à violência, sem ter objetivos políticos.

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