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O cinema latino-americano no Festival de Friburgo

Imagem do filme "Proibido Proibir", de Jorge Durán (FIFF).

Apesar das limitações econômicas, a cinematografia latino-americana continua gozando de boa saúde.

A 21ª edição do Festival Internacional de Filmes (FIFF), que se encerra na noite de domingo 25 de março na cidade suíça de Friburgo, constata esse diagnóstico.

Eles não são contados às dezenas, como as produções asiáticas. Tampouco são “dominantes” como em algumas edições anteriores do evento. Contudo eles cativam e seguem atraindo a atenção do público que freqüenta animado as salas de cinema de Friburgo.

Esse é o efeito provocado pela dúzia de longa-metragens latino-americanos, na sua maioria recentes, projetados no festival.

Argentina e Brasil na competição oficial

Duas produções do continente sul-americano disputam os principais prêmios com outros filmes africanos e asiáticos.

“El Outro” (2007), do jovem cineasta argentino Ariel Rotter, comove pela simplicidade, uma emoção que se transmitiu de boca em boca entre o publico e que gerou também uma grande expectativa. Na quarta-feira, 21 de março, o filme foi exibido pela primeira vez e o cinema estava lotado.

Advogado de profissão, Juan (com uma magnífica atuação de Julio Chávez) leva uma vida um tanto monótona entre seu trabalho, sua companheira de vida e seu pai. Uma viagem ao interior do país lhe confronta, por algumas horas, com a morte, com a intensidade da paixão e seus desejos de ser alguém diferente. De volta à Buenos Aires, ele termina retornando novamente à rotina generosa da sua existência.

“A Casa de Alice”, do cineasta Chico Teixeira, é outro filme latino presente no festival. Nele, Alice (Carla Ribas) é uma manicure que tem em torno de 40 anos e mora na periferia da cidade de São Paulo. Ao lado de sua família, Alice tenta levar a vida do melhor jeito possível ao enfrentar os problemas do dia-a-dia.

Distante do explícito compromisso político dos anos setenta e oitenta, essas duas películas representam uma “nova” expressão da cinematografia do continente: o urbano domina, o individual prima e o intimismo condiciona.

“Desenvolvimento positivo do cinema latino-americano”

“Vivemos na América Latina um crescimento positivo do cinema, especialmente no Chile, Brasil, Argentina e México. Algumas produções interessantes também estão sendo feitas no Uruguai. Em outros países, como a Bolívia, se bem com um cinema menos explosivo, continuam a estar presentes nos festivais internacionais”, contava Jorge Durán à swissinfo.

O diretor chileno acompanhava sua película realizada no Brasil “Proibido Proibir”, fora da competição oficial e parte do panorama “Imagens da vida urbana”. Dúran vive desde 1973 no Brasil, onde também trabalha como professor de cinema na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro.

Durán não esconde, porém, os problemas da profissão. “A distribuição interna continua sendo um grande desafio no continente. Não se consegue, a não ser com muito esforço, passar as fronteiras dos países. Muitas vezes os países não sabem o que é feito de cinema nos seus vizinhos”.

Segundos pesquisas receitas, a indústria cinematográfica dos Estados Unidos controlava mais de 80% do mercado interno na América Latina.

O grande desafio futuro está em “estreitar as relações, intensificar o constante intercâmbio. Se bem que existem passos já dados pelos governos como o chileno, que apóiam o esforço feito pelos cineastas”, precisa.

Presente ao público jovem

“Proibido Proibir” se transformou numa das películas fora de competição que mais despertaram atenção do público, especialmente o juvenil, nessa 21ª edição do FIFF.

O filme conta a história de três jovens universitários que “vivem a banalidade e a riqueza do cotidiano”, tal como contou Duran ao jornalista. O filme rompe “os estereótipos atuais de apresentar a juventude: entre o extremo do jovem extraordinário e o de desinteressado”, explica.

Paolo, estudante de medicina; León, de sociologia e Letícia, de arquitetura, sés unem numa relação de amizade profunda e de um amor complicado. Um fato inesperado os confronta com outra realidade diferente, a dos bairros marginais do Rio de Janeiro, nos quais a vida e a morte, a violência e a sobrevivência se superpõem como as páginas de um mesmo livro.

Completam a presença latino-americana no festival as realizações “Qué viva Cuba” (2005) de Juan Carlos Cremata Malberti e “Madeinusa” (2006) da peruana Claudia Llosa. Ambos os filmes foram apresentados na seção “Planeta Cine”, dedicada especialmente ao trabalho de estudantes.

Outro filme é o “Cobrador, in God We Trust” (Cobrador, em Deus nós acreditamos), uma produção de 2005 do diretor mexicano Paul Leduc, anima também o panorama sobre a vida urbana.

Visão suíça do cinema latino-americano

O estado de saúde da produção cinematográfica latino-americana, visto da Suíça, adquire duas facetas ou visões bem marcadas.

“É um cinema em repouso”, analisa o especialista suíço em cinema, Thomas Krempke, responsável em 2007 pela seleção “Imagens da vida urbana”.

O que significa, segundo suas análises, “um momento com menos produções relevantes nos últimos três ou quatro anos, mais que está sempre em movimento e que pode voltar a despertar a qualquer momento”.

Segundo Krempke, “não foi fácil para encontrar nessa edição películas latino-americanas de qualidade e acessíveis, para serem apresentadas em Friburgo”.

Simon Baumgartner, que representa a Suíça como jurado da Federação Internacional de Clubes de Cinema e que acompanha de perto a produção latino-americana, dá outra avaliação.

“A produção cinematográfica na América Latina continua ampla e variada. Eu a considero interessante e de qualidade profissional. Basta lembra da sua presença em outros festivais europeus como em Huelva, San Sebastián”, conclui.

Um debate conceitual que segue aberto. Tanto, nas salas, o público mostra o seu entusiasmo enchendo as salas, sobretudo quando há um filme latino. Essa região do globo tem uma fiel relação de amor cultural com o FIFF desde 1981…

swissinfo, Sergio Ferrari

El Festival Internacional de Filmes de Friburgo (FIFF) se desarrolla en esa ciudad helvética entre el 18 y el 25 de marzo.

Por primera vez en su historia, esta XXI edición, realizará su clausura oficial con el anuncio de los premios la noche del sábado 24.

Al día siguiente el programa proseguirá y los espectadores podrán asistir a la presentación de los filmes premiados.

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