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O desafio de reunificar um cantão suíço

Os sete distritos do Jura histórico: Delémont, Ajoie, Franches-Montagnes (Jura), Moutier, La Neuveville, Courtelary (Berna) e Laufon (Basiléia). montsevelier.ch

O Jura não é apenas uma cadeia de montanhas situada entre o norte dos Alpes, na França, Suíça e Alemanha. O cantão suíço com o mesmo nome mostra como é complicado unir regiões e povos de cultura e línguas diferentes.

Agora um grupo interparlamentar estuda a criação de um cantão de seis distritos, formados pelo Jura e parte do cantão de Berna.

O trabalho deve durar dois anos. A região abrangida pelo novo cantão teria 120 mil habitantes. Esse seria o futuro político e, ao mesmo tempo, a solução para a famosa “Questão Jurassiana”, um tema de vivo debate durante os anos 60 e 70 e que agora volta com grande força.

No centro do debate está a proposta apresentada pela Assembléia Interjurassiana, uma entidade criada em 1994. Ela surgiu de um acordo entre três parceiros: o governo federal, o cantão de Berna e a República e Cantão do Jura. Sua missão é de reaproximar as duas comunidades jurassianas, separadas por questões culturais e políticas há décadas.

O estudo pretende analisar a fusão dos sete distritos do Jura histórico: Delémont, Ajoie e Franches-Montagnes, que formam o cantão atual do Jura; Moutier, La Neuveville e Courtelary, que estão ligados ao cantão de Berna; e finalmente Laufon, no cantão da Basiléia.

Outra alternativa que também será analisada é a criação de um status especial para a região, como forma de regular a vida conjunta das comunidades francófonas e germanófonas.

Neutralidade

Doze anos após sua criação, a Assembléia Interjurassiana ressalta que mantém sua neutralidade frente à questão e que se mantém distante das discussões separatistas. “Durante os dois anos que estaremos avaliando os mais vários cenários, queremos conservar nossa independência e neutralidade”, ressalta Serge Sierro, presidente do órgão.

Seus vinte e quatro delegados adotaram por unanimidade, durante uma sessão plenária em Moutier, no cantão de Berna, um documento que define o calendário de trabalho e temas a tratar dentro nas diferentes comissões. A primeira etapa consiste em avaliar o relacionamento geral entre o cantão do Jura e o Jura bernês.

Depois dessa espécie de fotografia geral da situação, os delegados identificarão as sinergias atuais e futuras na perspectiva de criar um novo cantão suíço. A principal questão é avaliar as vantagens e desvantagens desse processo político.

Apoio político

No Jura, os partidos políticos apóiam a criação de um cantão unificado. Porém a população, sobretudo a juventude, se mostra indiferente ao debate. Já no Jura bernense, os partidos se opõem à idéia, com exceção do Partido Socialista Autônomo, do político Maxime Zuber.

Para os representantes da Assembléia Interjurassiana, a criação do novo cantão serve melhor aos interesses da região. O governo cantonal promete inclusive “oferecer uma partilha da soberania” aos habitantes do Jura bernense.

Esse partilha de soberania obriga a uma modificação da constituição cantonal. Sua aprovação depende de uma decisão popular a ser feita em plebiscito. Se os eleitores recusarem a proposta, o grande cantão do Jura pode ficar apenas no sonho de alguns ativistas políticos.

swissinfo com agências

999: as origens do cantão do Jura estão nesse ano, quando o último rei da Bourgogne dá ao bispo da Basiléia a abadia de Moutier-Grandval e suas dependências.

1032: a partir desse ano, o bispado a Basiléia é unido ao Santo Império Romano Germânico.

1648: com o Tratado da Vestfália, o Jura é separado do resto do Santo Império, reforçando suas ligações com a Confederação Helvética.

1815: por decisão do Congresso de Viena, o Jura – que havia se tornado em 1792 a República Rauraciana e depois departamento da França em 1793 – é anexado ao cantão de Berna, para compensar suas perdas territoriais (o cantão de Vaud e da Argóvia).

Desde então, as tensões entre a população francófonas o resto do cantão de Berna germanófilo levaram, em 1947, à constituição do movimento autonomista jurassiano.

1951: fundação do grupo independentista “Reunião Jurassiana”.

1974: através de plebiscito popular, o Jura diz “sim” à criação de um novo cantão. Porém o cisma da região é inevitável: em 1975, os distritos de Moutier, La Neuveville e Courtelary decidem continuar no cantão de Berna. Laufon, que optou no início por Berna, adere logo depois ao cantão da Basiléia-campo.

1978: o povo suíço e todos os cantões reconhecem o Jura, conhecido oficialmente como República e Cantão do Jura, o 23o cantão do país. Ele é constituído pelos distritos de Delémont, Ajoie e Franches-Montagnes.

1994: um acordo é firmado entre os cantões do Jura e de Berna, com o objetivo de resolver a questão jurassiana. Este prevê a criação de uma “Assembléia Jurassiana”.

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