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O fascínio pelo Dalai Lama no Ocidente

Dalai Lama reuniu 13 mil pessoas em Lausanne. swissinfo.ch

Mais de 13 mil pessoas compareceram às palestras e cerimônias religiosas do Dalai Lama, em Lausanne, à beira do Lago de Genebra – um show que encantou o público.

As viagens do líder espiritual tibetano, Prêmio Nobel da Paz de 1989, incomodam as autoridades chinesas e despertam grande interesse no Ocidente. Ele disse à swissinfo.ch que a questão do Tibete é difícil de resolver.

O Dalai Lama atrai multidões por onde passa. As 13 mil pessoas que ele reuniu em Lausanne – incluindo mais de 2 mil tibetanos no exílio – vieram de toda a Europa, da Ásia e dos Estados Unidos. O ingresso para dois dias de eventos custou 130 francos (122 dólares) por pessoa.

Um cinqüentenário explicou com forte sotaque do cantão de Vaud a sua sensação do encontro. “Não sei muito sobre o budismo, mas essas coisas, como a reencarnação, ocupam meu pensamento há muito tempo. Estou aqui, sobretudo, para sentir esse personagem. Custa-me entender que ele seja a reencarnação de Buda, mas me agrada que ele diga que continua sendo um homem”.

Na entrada VIP do ginásio polivalente de Malley, via-se muitos rostos conhecidos na Suíça, entre eles, Jean-Robert Allaz, vigário episcopal de Lausanne. “Eu represento o bispo da diocese e me alegro em poder ouvir esse líder religioso, preocupado também com a dimensão espiritual do nosso mundo tão materialista”, disse à swissinfo.ch.

No ginásio transformado em templo, com tapetes vermelhos, pinturas sagradas, estátuas, velas, banners e outros adornos, o Dalai Lama lembrou que a Suíça foi o primeiro país a receber cerca de mil tibetanos que fugiram da repressão chinesa há cinco décadas – hoje são quase 4 mil refugiados no país. Ele agradeceu à Confederação Helvética por sua hospitalidade, bem como pela ajuda aos refugiados na Índia e no Nepal, através da Cruz Vermelha.

O Dalai Lama mostrou-se impressionado com o números de pessoas vindas de culturas tão diversas para escutar seus ensinamentos. Sobre o tema da conferencia – a paz – afirmou: “A paz não significa a ausência de guerra ou violência, ela deve prevenir contra o aparecimento da violência, se alimentar mais da confiança do que do medo. Desenvolvendo a compaixão e o altruísmo, podemos atingir esta paz interior que cria a paz no mundo.”

Lucro de 100 mil francos

Ao final, Jon Schmidt, porta-voz da comunidade Rigdzin, organizadora do evento com o Dalai Lama, disse estar “muito feliz por não ter ocorrido nenhum incidente lamentável.” O evento, que tinha um orçamento de um milhão de francos, deu um lucro “inesperado” de 100.000 francos – um montante que o Dalai Lama irá decidir como utilizar e cujo destino será comunicado aos organizadores.

Às acusações de haver tentado “fazer uso do budismo”, Jon Schmidt respondeu: “Não houve show, mas a verdade é que esse encontro se tornou enorme por causa da afluência.”

Sobre o fascínio pelo Dalai Lama no Ocidente, o jornalista em especialista em Budismo, Jean-Marc Falcombello, explica que as expectativas criadas pela crise espiritual nessa região do globo alimentam a imagem perfeita da figura do líder tibetano.

Ele acrescenta, porém, que a imagem do Dalai Lama cria confusão: “A ideia de que o poder da imagem do Dalai Lama é um respaldo poderoso a favor da causa tibetana carece de fundamento, visto que, se esse fosse o caso, a questão do Tibete teria avançado para uma solução, o que evidentemente não ocorreu.”

Conflito difícil de resolver

Em sua 22ª segunda visita à suíça, o Dalai Lama não foi recebido por membros do governo federal – apenas pela presidente da Câmara dos Deputados (nesta quinta-feira) e por autoridades estaduais.

Em declarações à swissinfo.ch, ele disse que compreende a preocupação dos governos ocidentais por manter boas relações com a China e lembrou também os sinais positivos em relação ao Tibete.

“Observe o caso da Palestina. O problema existe desde 1948 e continua. Esses conflitos não são fáceis de resolver. No caso da China – o país mais populoso do mundo e que nas últimas década adquiriu relevante importância econômico –, é compreensível que se tente ter boas relações com ela. Creio que o governo suíço, talvez, também tenha se preocupado com suas boas relações com a China. Apesar disso, penso que a voz do Tibete em muitas partes do mundo é bastante forte. Foram aprovadas resoluções a seu favor no Parlamento Europeu e no Congresso estadunidense, além de existirem diversos grupos parlamentares em vários países democráticos que apóiam a causa tibetana”. (veja o vídeo na coluna à direita)

Isabelle Eichenberger (com colaboração de Raffaella Rossello), swissinfo.ch
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

Estima-se que na Suíça vivam aproximadamente 3.500 tibetanos. Eles afirmam que formam a maior comunidade tibetana na Europa e a terceira maior do mundo.

A imigração para a Suíça começou em 1960, com a chegada de dez meninos e dez meninas à vila Pestalozzi de Trogen e do lançamento do programa “1000 lares para refugiados tibetanos na Suíça”, aprovado pelo governo e apoiado pela Cruz Vermelha suíça.

Entre 1961 e 1964, 158 órfãos tibetanos foram adotados por famílias suíças e a comunidade lançou em 1967 a construção do primeiro mosteiro tibetano no Ocidente, em Rikon, perto de Zurique.

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