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O nordeste do Brasil está no noroeste da Suíça

Histórias do sertão, do cangaço e do carnaval, mostradas com a irreverência e o bom humor nordestinos.

Assim são as xilogravuras – pinturas entalhadas em madeira – do pernambucano José Francisco Borges, o J. Borges. A mostra reúne cerca de 50 trabalhos e poderá ser visitada até 7 de outubro, no centro Brasilea.

O maior xilogravador popular do Nordeste é respeitado mundialmente por seu trabalho não só em gravuras, mas também por seus textos.

Expoente do cordel

J. Borges é um expoente do cordel, literatura popular brasileira que existe há cem anos e que aborda temas do ideário nordestino. É chamada de cordel porque os textos, impressos em brochuras de papel jornal, inicialmente eram vendidos em feiras, onde ficavam pendurados nos varais.

Carnaval de Rua, Princesa Encantada, Amor nos Coqueiros, O Psicanalista e até mesmo a ilustração de seu cordel mais conhecido e vendido, A Chegada da Prostituta no Céu, estão em Basiléia.

Borges tem 64 anos e só começou a fazer xilogravura para ilustrar seus textos. A primeira delas foi a igreja de sua cidade natal, Bezerros, que ilustrou o cordel O Verdadeiro Aviso de Frei Damião sobre os Castigos que Vêm.

Da poesia à xilogravura

Nunca mais parou. Cordelistas encomendavam matrizes e nos anos 70 passou a entalhar trabalhos maiores, independentemente de cordéis. Logo foi descoberto por colecionadores e marchands, tornando-se uma referência internacional.

Outra curiosidade é que essa atração dos europeus pelo cordel tem explicação no passado. De acordo com especialistas, o cordel teria um pé na Europa, especialmente na “littérature de colportage”, desenvolvida na Idade Média até o século XVI na França, Espanha, Portugal e Holanda.

“Uma exposição como essa em Basiléia mostra a força e a vivacidade do cordel”, disse o jornalista suíço Peter Wehrli, autor de livros ilustrados por J.Borges.

O cordel não vai morrer

Em suas andanças pelo nordeste brasileiro, que visita desde 1973, anotou frases que foram publicadas em Catálogo de Tudo e em O Novo Catálogo Brasileiro.

De acordo com Wehrli, o cordel perdeu a sua função inicial que era a de informar, atividade que hoje dos meios de comunicação desempenham.

“Tem se modificado, como qualquer forma de arte, mas continua com a capacidade de refletir a alma, a fantasia e o espírito popular sertanejo”, diz.

Na opinião dele, o cordel vai ser reformulado e já há uma nova geração, capaz de manter a literatura popular nordestina viva. Ele cita o grupo cearense de Klévisson Viana com um dos exemplos.

“Tenho certeza que essa geração vai modificar o cordel e levá-lo cada vez mais para a Internet”, diz.

Enquanto isso não acontece, os livrinhos continuam encantando em seu formato original: J.Borges ensinará várias pessoas a ilustrar um folheto esta semana em Marselha, na França, onde participa de outra exposição “O universo da literatura de cordel”, mostra que faz parte das comemorações do Ano do Brasil na França

Swissinfo, Lourdes Sola, Basiléia

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