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O preço justo do paraíso

As montanhas suíças como o Jungfrau são vistas como paraíso para turistas indianos. Jungfrau Railways

A Suíça é cara? Isso pode ser verdade, mas quem não gostaria de gastar as economias da vida para passar uma semana no paraíso?

Essa é a opinião de muitos turistas indianos que não se espantam com os preços elevados. Seu número aumenta continuamente no país dos Alpes, apesar da relutância de alguns empresários do setor.

– Esse é o tipo de lugar que eu vi nos meus sonhos – ressalta Sangeeta Chopra. Apesar do seu sorriso sedutor, Chopra não é uma atriz participando das filmagens de mais uma película de Bollywood, mas sim uma turista indiana desfrutando do belíssimo cenário alpino.

Ela e seu marido, Ashok, fazem parte de um grupo de doze turistas da Índia que se apertam na plataforma de observação na estação alpina do Jungfraujoch, uma das atrações turísticas mais conhecidas da Suíça.

Eles escaparam do coração do Rajastão, um estado árido na Índia, para ver as neves eternas da Suíça e conhecer essa região montanhosa, que já serviu várias vezes de cenário para os filmes melodramáticos exibidos no país.

Em 2003, o blockbuster O Herói, a história de amor de um espião mostra o famoso ator Sunny Deol pulando do cume da Jungfrau, uma montanha com pouco mais de quatro mil metros acima do nível do mar.

Donzela relutante

Se os roteiristas de cinema de Bollywood tivessem que escrever um roteiro exclusivo sobre a Suíça, o turismo seria retratado como a donzela relutante, que apenas poderia ser salva por atos heróicos de estrelas como o Sunny Deol.

Afinal, a indústria helvética do turismo vive um processo de estagnação que não dá sinais de recuperar num futuro próximo. Nos anos oitenta e no início dos anos noventa, os hotéis, apartamentos de férias e chalés de aluguel do país contabilizavam 77 milhões de pernoites. Porém, nos últimos anos, esse número caiu para 65 milhões.

A surpresa é que, apesar desse problema, várias empresas hoteleiras e de ressorts tratam mal os turistas indianos, mesmo eles sendo o único grupo de estrangeiros – juntamente com os chineses – cuja presença tem crescido nos últimos anos.

Atualmente, o dobro de indianos está visitando a Suíça do que em 1992, fazendo do país o quarto mercado mais importante para indústria helvética do turismo.

Em entrevista “off-the-record”, diversos empresários do setor reclamam do comportamento dos visitantes da Índia. Na opinião de muitos suíços, esse grupo de estrangeiros não respeita a cultura do país que visitam. “Eles trazem com freqüência seus próprios cozinheiros, deixam a comida espalhada nos lugares e geralmente também sujam ou danificam quartos de hotéis”, afirma um diretor, que pede para ficar anônimo.

A resposta não tarda: – “Os hotéis deveriam se mostrar mais cooperativos ao aceitar grupos de turistas da Índia”, contrapõe Ravishankar, funcionário da multinacional de viagens Thomas Cook India.

Problemas de compreensão

Para Ravishankar, apenas um pequeno grupo de empresas na indústria turística suíça “não quer entender as necessidades do viajante indiano”. Apesar da relutância de diversos empresários do setor, ele explica que os negócios com a Suíça têm crescido para sua companhia entre 30 e 40%.

A maior parte dessa receita é gerada em algumas estações de veraneio suíças e estradas-de-ferro de montanhas, que recebem os turistas indianos de braços abertos.

Uma delas, a Estrada-de-ferro do Jungfrau, assim como outras operando restaurantes no topo das montanhas como o Schilthorn e Titlis, se esforçam em agradar empregando cozinheiros indianos.

– Comida indiana tem um papel importante na escolha de um destino pelos turistas – afirma Meher Bhanbara, da agência de viagens indiana TCI.

– Você precisa educar seus empregados – explica Urs Zumbrunn, gerente de um restaurante que funciona no Monte Jungraufjoch, que chega a oferecer até um jantar indiano no esquema “self-service”.

Paciência

Enquanto o empresário brinca com um grupo animado de turistas, que degusta pratos típicos como hot dhal ou chicken masala, acompanhados por arroz basmati, Zumbrunn explica que é necessário ser tolerante quando os indianos tentar barganhar os preços ou exigem falar com o gerente.

– É por isso que eu estou sempre nas proximidades. Quando esses turistas querem pagar suas contas, na verdade eles estão querendo dar o dinheiro diretamente na mão do chefe – afirma.

– Não tentamos comer pratos suíços, pois encontramos comida indiana de boa qualidade em qualquer lugar – comenta Yuvraj Aggarwal, depois de sua fotografia foi feita junto com os treze membros da família.

Depois do almoço, o grupo e outros indianos experimentam o “tobogganing”, o esporte onde a pessoa desliza sobre um disco de plástico sobre a neve. As mulheres preferem jogar bolas de neve nos seus maridos.

Número um

Desde 1996, a Estrada-de-ferro do Jungfrau tem o seu próprio agente de vendas na Índia, que vende o que poderia ser considerada a neve a mais cara no mundo.

– Nós somos loucos para ver neve. A Suíça continua o país número um dentre os europeus, mas tem que começar a fazer atenção aos seus preços. A cada ano ela está ficando mais cara – conta o turista Bhanbara.

– Se realizamos apenas passeios na Suíça e precisamos usar um ônibus daqui, a viagem acaba ficando muito caro, ou seja, praticamente o dobro do que pagamos em outros países europeus – adiciona Ravishankar.

Um turista replica a crítica: – “Sim, esse é o preço que estamos dispostos a pagar para ver a criação divida, um paraíso no planeta”, descreve Yuvraj Aggarwa suas impressões dos Alpes suíços.

swissinfo, Dale Bechtel
traduzido por Alexander Thoele

Em 2003, turistas indianos tiveram cerca de 200 mil pernoites em hotéis suíços ou em outras acomodações no país. Em relação aos números de 1992, trata-se da duplicação do movimento.
Por outro lado, o número de pernoites na Suíça caiu de 77 milhões para 65 milhões anuais no mesmo período.
Segundo dados publicados pela indústria helvética do turismo, turistas estrangeiros gastaram 12 bilhões de francos suíços em 2003. Dessa forma, o turismo fica em terceiro lugar de importância nas atividades do país, atrás apenas do setor industrial e químico.

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