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O que as grandes economias podem aprender com as pequenas

Nannette Hechler-Fayd’herbe

Os políticos e empresas americanas que buscam um futuro mais sustentável após a pandemia podem se inspirar no sucesso da Suíça. Nannette Hechler-Fayd'herbe, chefe de economia e pesquisa do Credit Suisse, analisa onde a nação alpina está indo bem.

A Suíça lidera regularmente os rankings de inovação, competitividade e qualidade de vida, apesar de ser uma economia de US$ 706 bilhões (CHF 646 bilhões) e abrigar apenas 8,7 milhões de pessoas. Ela também é o país mais rico do mundo, tendo como medida o nível de riqueza por adulto. Seu setor público é enxuto, com uma dívida pública de apenas 43% do produto interno bruto. A infraestrutura institucional e real é sólida.

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No que diz respeito à Covid-19, o histórico da Suíça não é significativamente melhor ou pior do que os de outros países. Recentemente, foram relatados 2.468 novos casos diários por milhão de habitantes, com 67,2% de sua população total completamente vacinada. Em comparação, os EUA estão com 1.994 novos casos por milhão de habitantes e uma taxa de vacinação de 62%. Mas seu histórico econômico e suas perspectivas para os próximos anos, independentemente de a Covid-19 se tornar endêmica ou não, parecem promissoras. As razões desse sucesso são tão relevantes para os grandes Estados quanto para os pequenos.

Em primeiro lugar, a Suíça tem uma grande participação nas atividades de “home office”. Durante a pandemia, 34,1% dos empregados trabalharam remotamente ao menos ocasionalmente, com setores como tecnologia da informação (76,3%), finanças (61,4%) e educação (54,7%) chegando a números ainda mais altos em 2020.

Isso possibilitou que o país adotasse uma abordagem pragmática e, de maneira geral, menos pesada para conter a Covid. Como resultado, sua economia se contraiu menos do que as outras em 2020 e se recuperou mais rapidamente em 2021. De fato, no final do ano passado, o mercado de trabalho suíço havia superado o choque da Covid, com uma taxa de desemprego muito próxima aos níveis pré-pandêmicos, em apenas 2,4%. As carteiras de pedidos das empresas suíças estão cheias, o moral do consumidor está forte e o PIB deve crescer 2,5% em 2022, acima dos níveis pré-pandêmicos.

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Nos EUA e em outros lugares, permitir a ampliação do trabalho remoto parece ser um importante requisito para aumentar a participação no mercado de trabalho. A mudança seria bem-vinda pelos trabalhadores e suas famílias, que poderiam se mudar para lugares seguros e economicamente acessíveis, ao mesmo tempo que descongestionariam as áreas metropolitanas.

Política fiscal

Em segundo lugar, a Suíça se beneficiou de uma política fiscal ponderada e sensata. Embora tenha apoiado fortemente os setores afetados negativamente pela pandemia – destacadamente o turismo, a hotelaria e os serviços pessoais –, o governo também reservou parte de seu poder de fogo fiscal. O déficit orçamentário foi de apenas -2,2% em 2020 e -2% em 2021, em comparação com -12,4% dos EUA em 2021.

Isso manteve a dívida governamental em 42,7% do PIB em 2021, em comparação com 133% nos EUA, e significou que a economia não sobreaqueceu, apesar de ainda encontrar o mesmo tipo de dificuldade em entregas e cadeias de fornecimento que as outras nações desenvolvidas.

Como resultado, espera-se que a inflação, que foi de 0,6% em 2021, permaneça confortavelmente dentro da margem de estabilidade de preços do Banco Nacional Suíço (BNS) durante todo o ano de 2022. Aliás, o banco central não terá de aumentar as taxas de juros, enquanto a Reserva Federal dos EUA deve agora fazê-lo para restaurar a estabilidade de preços e manter a credibilidade.

Política energética

O último fator importante para o sucesso da Suíça é sua política energética, que se concentra em garantir a resiliência da rede. O país tem a sorte de ser pobre em combustíveis fósseis, mas rico em água. Assim, 55% de sua produção doméstica de eletricidade é hidráulica. No entanto, é importante notar, a Suíça também tem mantido uma participação de 35% de geração de energia nuclear, complementada por 5% de outras energias renováveis. O risco de uma crise energética está contido na Suíça.

Este risco é mais ameaçador em outros lugares da Europa e dos EUA. Aqui, repensar o mix de energia ideal para manter preços de eletricidade estáveis e competitivos deve ser uma prioridade fundamental.

Outra maneira de garantir um futuro resiliente e financeiramente sustentável é evitar ciclos de expansão e quebra seguidos de austeridade. O histórico da Suíça neste aspecto se reflete no status do franco suíço como moeda segura. Isso significa que às vezes o franco é supervalorizado em tempos de crise, exigindo que o Banco Nacional Suíço intervenha nos mercados cambiais. Mas isso também fez com que a Suíça tivesse uma perspectiva de inflação mais benigna do que a enfrentada por muitos países.

Como tal, o Banco Nacional Suíço pode agora manter sua política monetária muito expansionista e permitir que o franco suíço se valorize contra o euro. Isso significa que os rendimentos suíços devem permanecer baixos, proporcionando condições atraentes para que as empresas suíças invistam, inovem e mantenham sua vantagem competitiva.

Copyright The Financial Times Limited 2022

As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente da autora e não refletem necessariamente as opiniões da SWI swissinfo.ch.

Adaptação: Clarice Dominguez

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