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O que leva alguém a matar?

A criminalidade violenta pode despertar um fascínio mórbido. RDB

O Museu de História de Berna apresenta uma exposição sobre os crimes de sangue, em sua dimensão histórica e contemporânea.

Os visitantes podem se questionar sobre seus próprios intuitos, colocando a vida humana no centro do debate.

Recentemente, o julgamento da americana Amanda Knox e Raffaele Prompt, de nacionalidade italiana, pelo assassinato de Meredith Kercher, em 2007, causou um verdadeiro rebuliço na mídia da Itália, dos Estados Unidos e do mundo, tendo como grande desfecho a absolvição e libertação da jovem.

Como explicar esse interesse quase mórbido por crimes violentos? O sucesso dos seriados policiais ou a explosão da audiência em casos de homicídio ou acidentes horríveis? Além de um certo voyeurismo que vive em todos nós, pode-se questionar como a sociedade, como um todo, lida com a morte violenta, trata os criminosos e interpreta suas ações.

Crimes de sangue, uma exposição sobre a vida

Com Crimes de sangue. Uma exposição sobre a vida, o Museu de História de Berna enfrenta com pudor este assunto delicado em suas dimensões históricas e atuais. “A exposição oferece um espaço de reflexão crítica e convida o público a questionar suas próprias percepções e convicções”, disse Jakob Messerli, diretor do museu.

Uma grande variedade de tópicos é discutida, do valor da vida humana aos deuses assassinos da mitologia, passando pelos horrores da guerra ou do terrorismo, assassinatos em série, e também o suicídio ou o aborto. São muitas perguntas sem respostas, porque, de acordo com Jakob Messerli, “o objetivo da exposição é traçar uma linha entre o bem e o mal para aumentar a consciência da fragilidade da vida, a nossa própria ou a de outros, e para colocar a existência humana no centro do debate”.

Se, em uma época remota, os tambores anunciavam os crimes de sangue para o povo, agora é a mídia que transmite em uma fração de segundo as notícias mais sanguinolentas aos quatro cantos do mundo. “Onde está a fronteira entre o dever de informar e a vontade de alimentar o voyeurismo? Onde é que para a nossa curiosidade?”, se pergunta Jakob Messerli.

Encontro com um serial killer

Concebida pelo Museu de História do Luxemburgo, a exposição apresenta as mesmas 15 seções temáticas em sua versão de Berna, mas adaptadas à realidade da Suíça. Assim, na sala dedicada aos assassinos em série, pode-se ver as drogas usadas pelo “Anjo da Morte”, o enfermeiro de 36 anos que matou pelo menos sete pacientes idosos entre 1995 e 2001.

Em outros lugares e outros tempos, essas provas científicas cedidas pela polícia de Lucerna também poderiam ter inspirado a criação de verdadeiros objetos de adoração. Como nos Estados Unidos, onde lojas de souvenirs oferecem objetos dedicados aos serial killers mais famosos.

Assim, nas vitrines do museu de Berna estão expostos livros e DVDs que contam a história desses criminosos, ao lado, por exemplo, de uma jaqueta adornada com uma foto de Ted Bundy, condenado por ter abusado e matado 36 mulheres na década de 1970 e 80.

Heróis ou assassinos?

A exposição também dedica um espaço amplo para os crimes de guerra, como o Holocausto nazista e o massacre de Srebrenica, as ações dos soldados durante os conflitos ou as ditaduras, sem falar do terrorismo.

“Quando um povo é oprimido e seus direitos humanos não são respeitados, o assassinato político pode parecer a última alternativa possível. Mas para justificá-lo, depende do sistema de valores de cada indivíduo ou como uma sociedade interpreta um determinado acontecimento”, diz Jakob Messerli.

Foi certo matar Bin Laden? E, mais recentemente, Muammar Gaddafi? Não teria sido suficiente capturá-los ao invés de matá-los? A exposição não faz essas perguntas, mas levanta uma questão que toca o herói mais conhecido do país alpino.

Guilherme Tell não foi um assassino? A história conta que o honesto caçador teria matado o maldoso Gessler por ter imposto o teste da maçã na cabeça de seu filho Walter. “Foi assim que um assassinato desempenhou um papel fundamental no mito fundador da Suíça. Também há vários na mitologia grega, de Apolo a Zeus, ou nas religiões: Caim e Abel, Herodes, ou mesmo Deus, que exterminou os egípcios no Mar Vermelho”, conta Jakob Messerli.

Face obscura

Às vezes, é a mão invisível do poder econômico que comete crimes violentos. “Seu papel é muitas vezes ocultado, mas todos sabem que em muitos casos, o direito individual à integridade depende de interesses econômicos, à custa da vida humana”, diz Simon Schweizer, responsável do projeto.

“Pense nos celulares fabricados com matérias-primas do Congo, onde os mineiros trabalham em condições desumanas e onde os lucros são usados para comprar mais armas e alimentar a guerra.”

Além de celulares ensanguentados e vasos de amianto, o Museu de História de Berna também apresenta o caso da Ford, que vendia um carro na década de 70 cujo tanque podia explodir em caso de acidente. “Apesar de ter descoberto o defeito, a Ford concluiu que era mais barato indenizar as vítimas do que retirar os carros do mercado.”

Matar por ganância, inveja, legítima defesa ou simplesmente porque um Estado democrático dá a ordem. Matar para remover um tirano ou para acabar com nosso sofrimento ou o de outros. E você, o que poderia leva-lo a matar? Pergunta que o visitante é levado a se fazer no final da exposição, só para medir a face obscura que se esconde no fundo de cada um de nós.

139 países, dois terços, aboliram a pena de morte, que permanece em 58 Estados.

95 países aboliram para qualquer crime, e 9 fazem uma exceção para os crimes cometidos em tempo de guerra.

35 países não aboliram, mas não executaram ninguém nos últimos dez anos.

Em 2010, pelo menos 527 pessoas foram executadas em 23 países e 2024 pessoas foram condenadas em 67 países.

Estes números não incluem as milhares de execuções que ocorreram na China, que ainda se recusa a divulgar estatísticas sobre a pena de morte.

A Suíça aboliu a pena de morte em tempo de paz em 1942 e em 1992 registrou uma proibição total na Constituição Federal (artigo 10).

Fonte: Anestia International, outubro de 2011

Em 2011, as estatísticas de criminalidade foram publicadas pela primeira vez usando dados padronizados nacionalmente.

De acordo com estes números para 2009, armas de fogo foram usadas em 55 assassinatos ou tentativas de assassinato de 236 (23,3% dos casos), em 11 casos de lesões graves (2,1%) e 416 casos de roubo (11,8%).

Em 70% dos casos de assassinato, o suspeito e a vítima se conheciam.

46% das vítimas viviam com o suspeito, geralmente o parceiro atual ou anterior (28%).

Fonte: Secretaria Federal de Estatística

Adaptação: Fernando Hirschy

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