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O salão da crise e do meio ambiente

IChange, da suíça Rinspeed, pode ser pilotado com um iPhone. Keystone

O 79° Salão do Automóvel de Genebra – de 5 a 15 de março – reflete a crise econômica geral e especialmente a crise do setor automobilístico.

Por outro lado, argumento de venda ou não, a indústria automobilística parece ter incorporado de vez a responsabilidade de poluir menos.

Menos expositores, estandes menores e em lugares diferentes do habitual porque simplesmente houve menos demanda dos construtores para expor no único salão anual do automóvel, que ocorre em Genebra há 79 anos.

O sucesso do salão anual deveu-se à concorrência acirrada entre as montadoras, que tinham de lançar modelos novos em ritmo cada vez mais frenético. Com a crise e o excesso de capacidade produtiva na Europa e nos Estados Unidos, esse modelo parece, pelo menos por enquanto, ultrapassado.

Desde o início do ano, as vendas caem de maneira vertiginosa: – 38% nos Estados Unidos, – 41% no Japão, – 30% nos países da União Europeia e – 17% na Suíça.

“Precisamos de pequenas e médias empresas e não da grande indústria. Elas já existem em grande quantidade e não vão bem”, afirma Franco Sbarro, designer italiano radicado na Suíça, presente no salão de Genebra há 36 anos.

Realmente, as más notícias da grande indústria se multiplicam. Em coletiva à imprensa em Genebra, terça-feira (3), a direção da General Motors confirmou que precisa de uma solução urgente para sua filial europeia, a Opel. A “solução”, como está se tornando corriqueiro, deverá ser a injeção de dinheiro público.

A montadora negocia com vários governos europeus, principalmente com os da Alemanha, Grã-Bretanha e Suécia, um investimento de 3,3 bilhões de euros, porque não tem mais liquidez. Questionado se não havia negociações com o setor privado, o responsável de operações europeias Carl-Peter Forster respondeu que isso exigiria “no mínimo seis meses e não podemos nos dar ao luxo de esperar tanto tempo.”

Em contrapartida, os governos exigem uma reestruturação. A Opel estaria com pelo menos 30% de excesso de capacidade produtiva e vai cortar no mínimo 3.500 empregos. Melhor isso do que uma eventual falência, com 50 mil empregos diretos e 250 indiretos, em vários países europeus.

Japão e França

A Nissan, parte do grupo Renault, também vai cortar empregos (20 mil ao todo, 12 mil no Japão) para adaptar a oferta à demanda devido à forte queda das vendas na Grã-Bretanha e na Espanha, principalmente. A situação é tal “que não se pode fazer uma planificação financeira até o final deste ano”, afirma Eric Nicolas, responsável do mercado europeu.

Na França, o governo liberou uma ajuda de 3 bilhões de euros à Renault, que foi surpreendida pela crise de liquidez quando estava endividada em um plano de crescimento. A ajuda criou até um incidente diplomático quando o presidente Nicolas Sarkozy falou publicamente da necessidade de repatriar fábricas para a França, sendo contestado pelas autoridades da República Checa, que preside atualmente a UE.

“Eu nunca conheci crise porque escolhi trabalhar com o sonho”, explica Franco Sbarro. Em duas escolas ele já transmitiu seus conhecimentos e a idéia de sonho a 650 alunos, desde 1992. Em seu estande, os alunos apresentam os modelos que construíram. Ele explica que é preciso formar pessoas para o topo do automóvel e que, posteriormente, serão capazes de construir pequenos carros adaptados às exigências modernas. “O sonho alimenta o saber”, afirma Sbarro.

Futuro é híbrido e elétrico

Outra constatação no salão 2009 é que parece que as montadoras ouviram as idéias ambientalistas do presidente Barack Obama.

As montadoras que ainda não têm um modelo híbrido ou elétrico a propor desfilam os protótipos. Enquanto isso, até marcas famosas, como Mercedez Benz, proclamam que inclusive seus grandes modelos consomem menos e emitem menos C02. A mensagem está por toda parte.

No caso dos híbridos elétricos com gasolina, os japoneses saíram na frente com o Prius. Desde seu lançamento em 1997, foram vendidos 1,5 milhão de veículos. E as montadoras japonesas continuam na frente. Um dos modelos vedetes do salão 2009 é o Honda Insight, híbrido da mesma categoria lançado oficialmente em Genebra.

A Honda promete que o Insight será mais barato do que o Prius, comercializado na Europa por 25 mil euros. A expectativa da Honda é vender 200 mil carros por ano nos mercados europeu, americano e japonês. Como o Prius, o Insight é um carro confortável e com muito espaço no porta-malas.

Em breve, a concorrência dos híbridos não ficará apenas entre japoneses. Os franceses, por exemplo, já estão quase prontos. A Citroën trouxe o protótipo Cactus, sem revelar claramente a tecnologia a ser utilizada. A Peugeot tem um híbrido a caminho e outro na categoria dos “scooters” em que tem uma presença marcante na Europa.

Além dos híbridos, aposta-se também diretamente na eletricidade. A Smart apresenta um protótipo inteiramente elétrico (Brabus) com intenção de comercializá-lo rapidamente. A Mitsubish tem dois protótipos elétricos, o I Miev e o Imiev esporte, mais futurista.

Pavilhão Verde

Este ano, com a redução da demanda, os organizadores criaram ainda um pequeno Pavilhão Verde, exclusivamente com tecnologias de proteção ambiental. Tesla Motors, por exemplo, da Califórnia, se especializou em eletrificar carros esportivos de série e apresenta dois modelos Porche, que teriam o mesmo desempenho que os modelos a gasolina.

Alguns suíços também apostam no gás natural. O número desses veículos ainda é muito pequeno (7.200 atualmente, em um parque automobilístico de 3,8 milhões), mas o engenheiro Olivier Matile, da Associação Suíça da Indústria do Gás, é otimista. “Mesmo com o petróleo no preço atual, o gás ainda é 30% mais barato.” Isso é possível graças a isenções fiscais.

O objetivo é ter 30 mil veículos a gás em 2012. “Nas montadoras européias, pode-se escolher o gás como opção da mesma maneira que a cor, o estofamento etc”, explica Matile. No eixo principal do tráfego, existem 150 bombas de gás nos postos, o que é “amplamente suficiente para um pequeno país”, afirma o engenheiro. No fundo, esses veículos são híbridos e também contêm um tanque para gasolina, caso se esteja longe de uma bomba de gás.

Cada vez menores

Na mesma linha de preocupações, os veículos com motores tradicionais estão cada vez menores. É o caso do Toyota IQ, apresentado como protótipo dois anos atrás, agora na linha de produção. A indiana Tata causou sensação no ano passado, apresentando o carro mais barato do mundo. Agora, de olho no mercado europeu, a Tata mostra o Nano, conforme as normas mais exigentes no velho continente. A comercialização está prevista para 2010.

O Fiat 500, lançado no ano passado em Genebra e eleito o carro do ano em 2008, ganhou agora uma versão conversível que todos, novamente, querem ver de perto.

swissinfo, Claudinê Gonçalves

A força do Salão de Genebra sempre foi a neutralidade da Suíça no setor, uma vez que não produz veículos em série. O único salão anual também permite às montadoras mostrar as últimas novidades.

Este ano, são apresentadas em Genebra, 85 lançamentos mundiais ou europeus.

O salão está aberto ao público de 5 a 15 de março, de segunda a sexta-feira, das 10 às 20h; sábados e domingos das 9 às 19h.

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