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Obama procura recuperar terreno na América Latina

Fidel Castro e Barack Obama, talvez o início de uma nova era nas relações entre os dois países. Keystone

A supressão de algumas sanções contra Cuba, a visita ao México e a participação na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago indicam que o presidente dos Estados Unidos volta a dar atenção a seus "vizinhos distantes".

“Barack Obama parece disposto a estabelecer uma relação diferente com a América Latina, começando por mudar algumas coisas na relação com Cuba”, afirma o suíço Beat Schmid, da ONG Oxfam em Havana.

A administração de George Bush perdeu terreno de maneira acelerada na América Latina, afirma o suíço de Havana, membro da ONG Oxfam Internacional. Salvo algumas exceções, como Peru e Colômbia, os demais governos da região mantêm maior ou menor distância em relação a Washington, acrescenta.

Em seus primeiros contatos com seus vizinhos do sul, o governo de Barack Obama reconheceu sua corresponsabilidade pela problema da violência do narcotráfico no México e anunciou algumas medidas de combate-conjunto ao flagelo.

As mais recente foi o anúncio, na quarta-feira (15/4), da nomeação de Alan Bersin (ex-procurador) para supervisionar o combate à violência na zona de fronteira entre os dois países.

A reação de Fidel

No começo da semana, Obama havia anunciado a supressão de algumas restrições de viagens e de envio de dinheiro dos Estados Unidos para Cuba por parte de cubanos expatriados e a autorização a empresas de telecomunicações para fazer negócios com a ilha.

Em suas “Reflexões” (mensagens que escreve aos cubanos e divulgadas pela imprensa e pela internet), Fidel Castro qualificou tais medias de positivas, porém insuficientes. Ele disse que seu país não aceitava esmolas e exigiu a suspensão do embargo, que qualificou de genocida.

“O que fez Fidel foi colocar a questão no contexto”, sublinha Beat Schmid. Agora os cubanos dos Estados Unidos poderão visitar suas famílias em Cuba com maior frequência (uma vez por ano ao invés de uma vez a cada três anos), embora os demais estadunidenses continuem proibidos de viajar a Cuba, o que priva o país das receitas de um grande número de turistas.

Mais remessas em plena crise?

Beat Schimid descarta também que o aumento do montante das remessas enviadas à Cuba a partir dos Estados Unidos (agora sem limitações, antes de 300 dólares a cada três meses) terá um impacto substancial.

Ele explica que, dadas as limitações impostas para mandar dinheiro para Cuba, os expatriados o faziam de outras maneiras que encareciam os envios. Agora os custos serão menores, porém, como a tendência é enviar menos dinheiro por causa da crise, a medida terá apenas um efeito compensatório.

Em suma, a suspensão dessas restrições impostas por George Bush representa “o cumprimento de uma promessa eleitoral mínima e, em parte, são medidas de política interna”, opina Beat Schmid.

Por outro lado, ele considera interessante a decisão de Obama de permitir que as empresas de telecomunicações americanas façam negócios com Cuba, criando, por exemplo, redes de fibra ótica e comunicações por satélite entre os dois países, “o que poderia ser interpretado como vontade de ir mais longe.”

O problema do embargo

Cuba é o único país do continente que não participará da Cúpula das Américas em Tinidad e Tobago. No entanto, os problemas cubanos estão na agenda de vários países que pedirão a Obama a suspensão do embargo comercial contra a ilha.

Depois de quase meio século em vigor, o embargo “continua tendo um impacto muito forte na qualidade de vida das pessoas aqui”, explica o suíço residente em Havana.

Schmid afirma que muitos produtos médicos fabricados nos Estados Unidos ou por empresas subsidiárias não podem ser adquiridos por Cuba. É preciso então recorrer a terceiros, o que os encarece. O mesmo ocorre com muitos alimentos.

Além disso, segundo o representante da Oxfam, a proibição para os estadunidenses de viajar para Cuba atinge um mercado estimado em mais de um milhão de turistas por ano.

Uma economia vulnerável

Há inúmeras restrições que afetam o país, explica Beat Schmid. Ele cita o caso das exportações tradicionais cubanas, como charutos e rum, produtos muito apreciados internacionalmente, mas que não podem entrar nos Estados Unidos onde teriam um potencial muito grande.

Os exemplos são muitos. Ademais, ao problema do embargo somam-se as perdas provocadas por fenômenos naturais, como os furacões e a instabilidade do mercado (com a queda atual do preço do níquel), e a vulnerabilidade da economia cubana torna-se ainda maior.

Para Beat Schmid, a supressão anunciada em 13 de abril de alguns itens do embargo é insuficiente. “Creio que é prematuro, porém, poderá ser um passo na boa direção e, em retrospectiva, talvez possamos dizer que aí começou uma nova era nas relações entre Cuba e os Estados Unidos.”

swissinfo, Marcela Águila Rubín

Em Trinidad e Tobago, a Cúpula das Américas começa hoje e vai até domingo.

Entre as medidas de segurança, foi criada uma zona vermelha ao redor do recinto onde se reunirão 34 chefes de Estado americanos.

Além de Cuba, serão abordados os desafios da região, a crise financeira e econômica e a canalização de recursos para o continente através de organismos multilaterais.

‘Reflexões’ (trechos)

“(O governo dos Estados Unidos) anunciou o alívio de algumas odiosas restrições impostas por Bush aos cubanos residentes dos Estados Unidos para visitar seus familiares em Cuba. Quando se indagou se tais prerrogativas eram válidas para outros cidadãos norte-americanos, a resposta foi que não estavam autorizados.”

“Do bloqueio, que é a mais cruel das medidas, não foi dita uma palavra. Assim se chama piedosamente ao que constitui uma medida genocida. O dano não se mede apena por seus efeitos econômicos. Constantemente custa vidas humanas e ocasiona sofrimentos dolorosos a nossos cidadãos.”

“O regresso de Cuba aos organismos internacionais não depende somente da Cúpula das Américas, mas também da Assembleia-geral da OEA, disse Sua Excelência ao jornal O Globo.”

“A OEA tem uma história que engloba o lixo de 60 anos de traição aos povos da América Latina.”

“Sua Excelência afirma que para entrar na OEA, Cuba tem primeiro que ser aceita pela instituição. Ele sabe que nós não queremos sequer ouvir o nome infame dessa instituição. Ela não prestou um único serviço a nossos povos; é a encarnação da traição.”

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