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Olhar estrangeiro sobre o Brasil do passado

Rua Nova, Rio de Janeiro Collection Herzog

Fotos de turistas ou fotógrafos profissionais mostram um Brasil de 1850 a 1950. Um século da história brasileira está na mostra Fotografia Histórica no Brasil. A exposição, que reúne parte do acervo da Fundação Herzog, pode ser visitada até dia 12 de março em Basileia.

Visitar a mostra é mais ou menos como folhear álbuns antigos de família. Retratos em preto e branco, muitos deles em tamanhos e formatos bem diferentes dos padrões atuais.

Fotografias feitas por turistas ou fotógrafos europeus que saíram do arquivo da Fundação Herzog e estão expostas na Fundação Brasilea, em Basileia, noroeste da Suíça.

São cenas de cidades brasileiras e de lugares que podem parecer irreconhecíveis à primeira vista, quando comparados aos dias atuais.

Pode-se ver, por exemplo, a baía da Guanabara sem a proteção do Cristo Redentor – concluído apenas em 1931. Ou mesmo o morro do Pão de Açúcar sem o bondinho. O teleférico, que começou a funcionar em 1912, tornou-se um marco da cidade, mais conhecida dos europeus no final do século 19. Na exposição, algumas fotos mostram apenas o morro, rodeado pela vegetação tropical da mata atlântica – já era lindo.

Carinho e dedicação

“A coleção é de primeira qualidade e mostra diferentes estados brasileiros”, disse a cônsul geral do Brasil em Zurique Vitória Alice Cleaver, que está na Suíça há apenas um mês.

“Ver paisagens que nos são tão caras numa exposição como esta é uma experiência das mais agradáveis. Mostra o carinho e a curiosidade que os europeus têm pelo Brasil”, explicou.

Mais do que uma prova de carinho, a montagem da mostra foi o resultado de muito trabalho. Desde setembro as imagens têm sido selecionadas, de acordo com um critério de qualidade. Depois disso, os organizadores começaram a fazer cópias das antigas fotos, mas tinham um desafio: conferir às réplicas a mesma qualidade dos originais.

“Chegamos a fazer mais de 16 provas de uma mesma foto para conseguirmos uma boa cópia”, conta Daniel Faust, da Fundação Brasilea.

Cenas do Palácio de Petrópolis, das palmeiras imperiais no Jardim Botânico – a primeira delas foi plantada em 1808 por D. João VI – ou do porto de Santos são mais do que simples retratos. Exibem, ao mesmo tempo, as marcas deixadas pela família real, pela República – proclamada em 1889 – e pelo charme dos anos 50.

Do Império aos Anos Dourados

Não foi só por causa da beleza que os turistas europeus fotografaram tanto a região sudeste. De 1889 a 1930, as elites agrárias mineiras, paulistas e cariocas dominavam politicamente.

Na mesma época, o Brasil consolidou-se como exportador de café. Era aquele pequeno porto de Santos ou o antigo porto do Rio de Janeiro exibidos na mostra que escoavam a produção cafeeira do oeste paulista para a Europa. A força da grana começou a erguer-se em São Paulo: foi construído o primeiro arranha-céu, o edifício Martinelli.

O poder das oligarquias deu origem à chamada política do café-com-leite, quando os presidentes eram indicados ora pela elite paulista ora pela mineira. Naturalmente, adotavam medidas que beneficiavam os cafeicultores de São Paulo e os pecuaristas de Minas Gerais.

Outras regiões como norte, nordeste e centro-oeste ficaram ao abandono. Em 1930 termina a chamada República Velha, quando começa a Era Vargas.

A exposição evidencia o rápido crescimento das cidades brasileiras, motivado basicamente pelo cenário econômico internacional, especialmente no pós-guerra. Nos anos 40, o Copacabana Palace, construído em 1923, continuava a receber ricos e famosos.

E esse glamour dos anos 50 também está na mostra. Num retrato em branco e preto, um homem elegante passeia sorridente de hobby numa praia carioca, acompanhado de uma mulher. Na fotografia, parecem felizes. Eram os anos dourados – com cantinho e violão.

swissinfo, Lourdes Sola

Cristo Redentor
Desde o século 17 o morro é chamado de Corcovado por causa de seu formato, que lembra uma corcunda. A primeira trilha ao cume foi aberta em 1824, comandada por D.Pedro I. A inauguração do Cristo ocorreu em 12 de outubro de 1931.

Pão de Açúcar
O bondinho foi inaugurado em 1912. O nome foi inspirado no cultivo da cana no Brasil : os blocos de açúcar eram colocados em uma forma de barro, chamada pão de açúcar, que tinha o formato do morro.

República café-com-leite
De 1889 a 1930, as elites agrárias cariocas, mineiras e paulistas dominavam o poder político. A partir de 1894, começou a política do café-com-leite, quando os presidentes civis eram ora mineiros, ora paulistas.

Crescimento rápido
Pelo censo de 1890, São Paulo tinha 64.934 habitantes. Em 1900, saltou para 239.820 – a maioria de italianos. Em 1920 consolidou-se como centro industrial do Brasil e em 1930 a cidade tinha quase um milhão de habitantes.

Edifício Martinelli
A construção do primeiro arranha-céu do Brasil, o edifício Martinelli, começou em 1924 e foi inaugurado em 1929. Idealizado pelo italiano Giuseppe Martinelli, seguia a linha arquitetônica americana da época, com muito luxo. Inspirou o mordaz Oswald de Andrade a chamar São Paulo de “a cidade bolo de noiva”.

Golpe de 1930
O Partido Republicano Paulista rompe a política do café-com-leite e indica para presidente outro paulista para suceder Washington Luís, Julio Prestes. É formada a Aliança Liberal, com políticos da Paraíba e do Rio Grande do Sul, que lançam Getúlio Vargas à presidência.

Era Vargas
Getúlio Vargas governou o Brasil de 1930 a 1945 e, depois, de 1951 a 1954.
Em 1937 fechou o congresso e instalou a ditadura, o chamado Estado Novo, que durou até 1945. Perseguiu jornalistas, opositores políticos e partidários do comunismo. Criou muitas leis trabalhistas que até hoje vigoram.

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