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Os estrangeiros que cuidam dos idosos suíços

Muitas famílias na Suíça necessitam de ajuda externa para cuidar dos seus idosos. RDB

A população suíça está envelhecendo com rapidez, o que faz crescer a demanda por mão de obra especializada para cuidar de idosos. Muitos deles preferem continuar em casa, mas enfermeiras particulares são caras.

O custo mensal para assistência de 24 horas ao dia fica entre 10 e 30 mil francos (US$10.950-32.800). A solução para muitas famílias é contratar estrangeiros, cujos salários são apenas uma fração dessa soma, mais casa e comida.

Apesar de não existirem dados exatos, o número de enfermeiros estrangeiros atuantes na Suíça deve aumentar a partir de 1° de maio. A partir da data, cidadãos de oito países da Europa do leste e membros da União Europeia poderão participar dos acordos de livre circulação de mão de obra, ou seja, dentre outros, ter acesso livre ao mercado de trabalho na Suíça.

“Os suíços não são pobres, mas não é qualquer um que pode se dar o luxo de manter uma enfermeira privada”, ressalta Bernhard Mascha, diretora da filial suíça da Seniorhilfe, uma agência eslovaca especializada na intermediação de enfermeiras eslovacas e húngaras para famílias na Suíça, Alemanha e Áustria.

Seniorhilfe engaja enfermeiras ou enfermeiros capazes de ajudar seus clientes em necessidades diárias como higiene ou caseiras como limpeza da casa, cozinha ou lavagem de roupas. O custo mensal é de três mil francos, dependendo da experiência da pessoa e do seu nível de alemão.

Uma família próxima à Interlaken (centro da Suíça) – ela pede para ser identificada apenas como “família G” – declara estar bastante satisfeita com os serviços fornecidos à mãe de 91 anos de idade e que sofre de demência. Um casal de enfermeiros se reveza nos cuidados com a idosa.

“Desde agosto nossa mãe está sob os melhores cuidados. A colaboração com as enfermeiras e a organização funciona perfeitamente. Nossa mãe recebe cuidados competentes e atenciosos por praticamente 24 horas por dia”, de acordo com a referência da família fornecida pela empresa.

Satisfazer as necessidades

“Há um mercado para esse tipo de serviço, pois senão eles não viriam para cá”, declara Andreas Keller, porta-voz da Spitex, à swissinfo.ch. Spitex é uma organização sem fins lucrativos que oferece serviços de enfermeiros e assistência caseira para idosos nos seus lares.

Keller revela que está se tornando cada vez mais comum para os funcionários da Spitex encontrar enfermeiros privados residentes nos locais durante suas visitas aos pacientes. As chamadas caseiras são custeadas pelo seguro de saúde, enquanto o serviço privado de enfermeiros não.

No cantão do Ticino (sul da Suíça), dois braços locais do Spitex avaliam atualmente como e se é possível colaborar com os enfermeiros privados. Uma dessas agências assumiu o papel de agência de emprego, intermediando enfermeiros privados para idosos e assegurando que todas as necessidades estão sendo atendidas corretamente. Ela prepara contrato de trabalho similares aos que são utilizados para empregados domésticos na Suíça. A taxa cobrada é de 1.750 francos e o salário anual é de 39.000 francos.

Língua e cultura

Apesar das vantagens, também é preciso fazer atenção no momento de contratar um enfermeiro privado. O primeiro quesito a levar em consideração são os conhecimentos de idiomas e de enfermagem.

“Pacientes com Alzheimer, por exemplo, necessitam 24 horas por dia de atenção. Para enfermeiros isso significa muito mais trabalho, até mesmo suíços que podem compreender exatamente o que essas pessoas estão falando. É preciso saber lidar com a língua e a cultura”, afirma Keller.

HausPflegeService, uma agência baseada no cantão de Zurique e que contrata primordialmente mão de obra na Alemanha. Assim como Keller, o diretor Hanspeter Stettler também considera muito importante o domínio da língua.

“A consciência cultural também é um fator. Nós temos uma semana introdutória e sessões contínuas de formação para ensinar nossos funcionários pequenas coisas como o fato de que o molho de salada é preparado de uma forma diferente na Suíça. As pequenas coisas são importantes para os idosos”, diz.

Concorrência indesejável

Questionado se se preocupa com a competição vinda da Europa do leste, Stettler nega. “Não realmente. Temos um conceito de acompanhantes com um bom nível profissional. Além disso, somos bastante conhecidos no mercado.”

Ao contrário de Stettler, a enfermeira autônoma Dagmar Michalina condena o afluxo de mão de obra barata. Essa residente na Basileia explica à swissinfo ter dois argumentos contrários à imigração.

“Em primeiro lugar, esses enfermeiros trabalham por uma ninharia, o que não está correto. Em segundo, penso que esses empregos devem estar destinados a pessoas que atualmente vivem e pagam impostos na Suíça.”

Michalina salienta que, como autônoma, não é muito fácil assegurar ter suficientemente trabalho durante o mês.

“Os enfermeiros do leste da Europa trabalham apenas por poucos meses ou um ano, com um salário fixo e estabilidade de emprego durante esse período. Eu ganho apenas por hora quando os clientes necessitam dos meus serviços”, afirma a enfermeira e completa. “E se um deles morrer hoje, então não tenho mais renda amanhã. Mas eu tenho uma família para sustentar aqui na Suíça, onde o custo de vida é tão elevado.”

Ganhar a vida

Renata é uma enfermeira polonesa. Ela trabalha na Basileia há dois anos. Na realidade ela é costureira, mas não conseguia encontrar um emprego na Polônia. Quando uma amiga contou-lhe sobre a possibilidade de trabalhar na Suíça, ela decidiu aproveitar a oportunidade.

De acordo com a legislação vigente, Renata só pode trabalhar por períodos de três meses. Mas agora ela gostaria de poder permanecer por mais tempo. Seu salário mensal é de 1.500 francos. Ela afirma que não é o que gostaria de receber, mas se considera uma felizarda.

“Trabalho para uma família especial. A mulher tem uma boa saúde, o que me permite sair à noite. E eu nunca preciso cozinhar. Porém conheço outros que não têm nunca horas de lazer e ganhar menos do que eu”, conta Renata.

Mais de 75% dos idosos em lares suíços têm problemas de saúde. Quase dois em cada cinco sofrem de demência.

67% dos idosos tinham dificuldades em realizar tarefas diárias como comer e se vestir.

Os números vêm de um estudo oficial publicado em 2010 sobre o estado de saúde e condições de vida das pessoas idosas que vivem em instituições.

Verificou-se que 77% tinham um problema de saúde de duração superior a seis meses. 39% sofrem de demência e 26% de depressão.

Outras questões da saúde: problemas cardíacos e pressão arterial, diabetes e reumatismo. A idade média dos entrevistados era 83 anos de idade.

O relatório também descobriu que residentes de lares para idosos tinham visitas regulares de amigos e familiares. Cerca de 55% haviam sido visitadas pelo menos uma vez por semana. 12% tinham visitas diárias. Apenas 2% não tiveram nenhum contato com o mundo exterior.

Fonte: Depto. Federal de Estatísticas

Adaptaçao: Alexander Thoele

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