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Pacifistas ainda sonham com Iniciativa de Genebra

Nos territórios palestinos, o tema do regresso também está expresso nos muros. Keystone Archive

O processo de paz no Oriente Médio está moribundo devido à instabilidade política em Israel e na Palestina.

Os universitários Bernard Sabella (palestino) Ilan Greisammer (israelense) acreditam que a eleição de Barack Obama à presidência dos EUA poderia relançar a Iniciativa de Genebra.

O contexto é particularmente volátil. De um lado, Ehoud Olmert, primeiro-ministro israelense prestes a renunciar. De outro, os palestinos estão divididos entre o Hamas – que controla a faixa de Gaza – e a Autoridade Palestina, na Cisjordânia.

Aos olhos dos pacifistas de ambos os lados, a exemplo de Bernard Sabella e Ilan Greilsammer, a Iniciativa de Genebra é, no plano teórico, a solução mais viável, talvez a única credível, para resolver o conflito palestino-israelense. Mesmo que a iniciativa esteja com cheiro de naftalina nos últimos tempos, poderá ressurgir a qualquer momento e impor-se como modelo de solução.

Boas intenções

Bernard Sabella vê na proposta “boas intenções e a prova de que os cenários políticos palestino e israelense não são monolíticos”. Por sua vez, Ilan Greilsammer considera a determinação da Suíça em contribuir para pacificar a região, ao manter dois escritórios da Iniciativa de Genebra, um em Ramallah e outro em Tel-Aviv.

Essa iniciativa, acrescenta Bernard Sabella, dá um impulso e provoca mudanças na boa direção … “Mas o verdadeiro problema é falta de uma adesão maciça das populações a esse projeto, especialmente nas questões mais sensíveis, como o problema dos refugiados e o estatuto de Jerusalém”.

“Nós, palestinos, insistimos no princípio do direito ao retorno dos refugiados”, sublinha Bernard Sabella. “Não podemos ignorar esse direito ao retorno. Os refugiados devem ter a possibilidade de escolher entre o exercício desse direito e receber compensações. No entanto, os israelenses refutam toda responsabilidade pelo êxodo de 726 mil palestinos em 1948. Eles não aceitam o retorno nem as compensações, e essa dupla recusa é um problema…”

Melhor seria uma indenização

No entanto, todas as enquetes indicam que os refugiados preferem uma indenização a voltar para suas terras ancestrais. “Está excluído”, opina Bernard Sabella, “chegar a um acordo de paz sem que os refugiados sejam indenizados e dêem seu aval a uma solução do conflito. Nem o presidente Mahmoud Abbas pode assinar um tratado israelo-palestino sem o consentimento das massas palestinas.”

Ilan Greilsammer, por seu lado, fala do passado. “A iniciativa de Genebra era antes de tudo uma tentativa de promover idéias junto aos israelenses e palestinos. Os que firmaram esse pacto de Genebra tinham a intenção de avançar em caminhos até então inexplorados.”

Os anos passaram e “algumas dessas idéias entraram na sociedade israelense. Acho que os israelenses estão convencidos de que haverá dois Estados, um judeu e outro palestino, um ao lado do outro. Ainda dez anos atrás, um tal projeto era considerado herético na sociedade israelense.”

Idéias avançam

Ilan Greilsammer aborda a questão de Jerusalém e dá a entender que aí também as mentalidades mudam. “Ouve-se cada vez mais que a cidade não poderá manter integralmente a soberania israelense. O vice-primeiro-ministro Haim Ramon afirmou recentemente que existem bairros árabes periféricos sem qualquer interesse para Israel. São idéias que os promotores da Iniciativa de Genebra lançaram e que não eram nada populares. Hoje, afirma ele, parece que elas entraram na opinião pública israelense.”

Quanto à questão de saber se a renúncia do primeiro-ministro Ehoud Olmert vai frear o processo de paz, Illan Greilsammer está convencido que ela terá pouco impacto.

“O sucessor de Ehoud Olmert, quem quer que seja, fará exatamente a mesma política porque os norte-americanos desejam uma solução do conflito israelo-palestino”, afirma.

Mas Ilan Greilsammer continua cético quanto às chances de se chegar a um acordo num futuro próximo, “porque o fosso entre as posições ainda parece insuperável”. Mais do que o problema dos refugiados, o controle dos lugares sagrados de Jerusalém, para ele, parece o obstáculo principal. “Será preciso a intervenção de uma potência como os Estados Unidos para aproximar os pontos de vista.”

O papel de Barack Obama

Será que a eventual eleição de Barack Obama poderia desengavetar a Iniciativa de Genebra e torná-la uma base de negociação?

Bernard Sabella pensa que sim. “O próximo presidente dos Estados Unidos deverá resolver primeiro o problema palestino. Acho que, se Barack Obama for eleito, ele será levado a reexaminar as propostas de paz da Iniciativa de Genebra. Mas, conhecedor da política norte-americana, eu também sei que será influenciado por diversos grupos de pressão.

Ilan Greilsammer tem quase a mesma opinião. “Uma solução do conflito permitiria desarmar a ameaça islâmica. Nenhum presidente norte-americano por ser insensível a esse aspecto das coisas, mesmo a administração Bush acabou por compreender isso.”

Entre o apartamento de Ilan Greilsammer e o escritório de Bernard Sabella, há, em termos de distância, menos de um quilômetro. No entanto, os dois acadêmicos, mesmo imbuídos de pacifismo, ainda parecem estar anos luz distantes um do outro…

swissinfo, Serge Ronen, Jérusalem

Bernard Sabella é professor de sociologia na Universidade de Bethléem e deputado no Parlamento palestino. Com mais de 60 anos, ele continua sendo um otimista. É uma personalidade conhecida e reconhecida. Faz parte da minoria cristã da Palestina e reside em Jerusalém-Leste.

Ilan Greilsammer é professor de ciências políticas na Universiade Bar Ilah (Tel-Aviv). Autor de vários livros considerados como referência, especialiste sua tese de doutorado sobre o partido comunista israelense. Ele é freqüentemente entrevista pela mídia de lingua francesa. Tem mais de 50 anos e mora em Jerusalém-Oeste.

A Suíça está envolvida ativamente há vários anos na tentativa de resolver o conflito israelo-palestino.

Berna contribui principalmente com a famosa Iniciativa de Genebra, um plano de paz alternativo apoiado pela Suíça e elaborado principalmente pelo ex-ministro
israelense Yossi Beilan e pelo palestino Yasser Abd Rabbo.

Este acordo prevê dividir a soberania de Jerusalém, que seria capital dos dois Estados, e o retorno às fronteiras de 1967. O texto fixa também as modalidades de retorno dos refugiados palestinos.

A Iniciativa de Genebra não avançou até agora, apesar do apoio de numerosas personalidades conhecidas no plano internacional, entre elas, o atual ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter e Nelson Mandela.

A Autoridade Palestina acolheu o texto com uma certa frieza, enquanto o Hamas o considera uma traição por não prever o direito total de regresso dos refugiados palestinos.

Por sua vez, o então primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, não aprovou o acordo considerando-o perigoso para o país.

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