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Palafitas europeias podem virar patrimônio mundial

Tesouro arqueológico no fundo do Lagos dos Quatro Cantões. Keystone

Sob a liderança da Suíça, seis países europeus vão pedir à Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) o tombamento de palafitas como patrimônio da humanidade.

Na Suíça, Alemanha, França, Itália, Áustria e Eslovênia existem cerca de mil sítios arqueológicos de palafitas – 152 foram escolhidos para a candidatura, entre eles, 82 em 15 estados suíços.

Os primeiros achados arqueológicos de palafitas ocorreram em 1854, em Obermeilen, à beira do Lago de Zurique. O arqueólogo Ferdinand Keller reconheceu a importância dessas construções como testemunhas de povoamentos pré-históricos.

Hoje estão catalogados na região dos Alpes, da França à Eslovênia, cerca de mil sítios arqueológicos de palafitas que foram construídas entre os anos 5000 e 800 antes de Cristo.

“Os assentamentos de palafitas estão entre os mais importantes sítios arqueológicos da Europa”, diz Christian Harb, diretor da Associação Palafitas. “Protegidos pela água, materiais orgânicos, como madeira, restos de comida, utensílios e roupas, permanecem intactos até hoje e permitem uma reconstrução precisa da história.”

Fim de um mito

Na Suíça, os povoados sobre palafitas datam de aproximadamente 4300 antes de Cristo. Algumas dessas construções estão escondidas no fundo de lagos, outras encontram-se no campo ou em centros urbanos.

A imagem das aldeias sobre plataformas lacustres sustentadas por pilotis de madeira fascina a opinião pública. Seus construtores foram quase que mitificados por cientistas, políticos e artistas.

Os palafiteiros transformaram-se em símbolo da Confederação Helvética à procura de sua identidade. Pensava-se que a cultura das palafitas confirmava o “caso especial Suíça” até o início da civilização moderna.

Nas últimas décadas, essa imagem foi corrigida com a ajuda de modernas técnicas e análises científicas: as palafitas não se encontravam na água e sim às margens de lagos e regiões úmidas. A escolha do local objetivava conquistar solo fértil para agricultura.

As palafitas serviam de proteção contra as variações do nível da água. Elas também davam aos povos nômades uma certa estabilidade, como diz Christian Harb.

O achado de Obermeilen não apenas é de inestimável valor científico, explica. Segundo Harb, ele representa uma revolução para a arqueologia na Europa porque, de certa forma, marca o início da pesquisa pré-histórica.

“Os arqueólogos não tiveram mais de se satisfazer com o mundo dos túmulos e os mortos e sim tinham em mãos objetos que forneciam informações sobre hábitos de vida, a agricultura e a pecuária dos construtores de palafitas.”

Assentamentos em perigo

Como acontece com outros bens culturais, também para as palafitas a crescente urbanização e a mudança climática representam uma ameaça.

“As atividades de construção, o tráfego de barcos, a urbanização e o recuo do nível dos lagos ameaçam os resquícios desses povoados milenares. Somente através de uma sensibilização da opinião pública pode ser evitado o pior”, diz Claude Frey, presidente da Associação Palafitas.

Essa sensibilização é uma das metas da candidatura para inclusão na lista de patrimônio mundial da Unesco, diz Anne Weibel, porta-voz da Secretaria Federal de Cultura.

“O rótulo da Unesco não só estimularia a proteção destes sítios arqueológicos. Ele também despertaria a atenção e sensibilizaria a população sobre a importância da preservação dessa herança coletiva.”

A candidatura das palafitas ao patrimônio mundial da humanidade deverá ser apresentada à Unesco em janeiro de 2010. A decisão está prevista para o verão europeu de 2011.

Em 2010, ainda será avaliada uma outra candidatura pela Unesco: a proposta coletiva de inclusão das obras do arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965) no patrimônio mundial. A Unesco adiou a decisão sobre o assunto em junho passado, quando integrou ao patrimônio mundial as cidades relojoeiras de La Chaux-de-Fonds e Le Locle, no cantão de Neuchâtel (oeste).

Esta candidatura foi apresentada conjuntamente pela Argentina, Alemanha, Bélgica, Japão e Suíça -, sob liderança da França. Ela abrange 22 edifícios que testemunham a criatividade e versatilidade de Le Corbusier.

Quatro dessas obras estão localizadas na Suíça: as mansões Jeanneret-Perret e Schwob, em La Chaux-de-Fonds, a ‘Casinha’, à beira do Lago de Genebra, e a casa Clarté, em Genebra.

Stefania Summermatter, swissinfo.ch

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