Perspectivas suíças em 10 idiomas

Parlamento sai da capital e vai para os Grisões

Por três semanas os Parlamento se reúne por três semanas no cantão dos Grisões. Keystone

Enquanto a sede do Parlamento helvético é renovada em Berna, parlamentares e governo se reúnem no maior cantão do país.

De 18 de setembro a 6 de outubro, os holofotes da mídia estarão voltados para uma região onde ainda se fala um idioma derivado do latim, o reto-romano. Os Grisões mostram como a Suíça é multicultural.

Essa é a terceira vez nos últimos treze anos que a Berna faz um descanso temporário para deixar outra região cultural do país seja o centro das decisões do poder legislativo.

A questão é que Berna – onde se fala o alemão (ou melhor dizendo, o dialeto bernês de raízes germânicas) – é visto pelas outras três regiões culturais do país como um bastião da influência lingüística do alemão, o idioma mais expandido da Suíça em termos geográficos e numéricos: 63,7% da população helvética têm como primeiro idioma algum dos dialetos germânicos.

Para que a evidente força da Suíça alemã seja apaziguada, pelo menos de maneira simbólica, este governo de consenso quer defender o valor multicultural do país. Por isso ele não deixa de lado as outras regiões do país onde se falam os outros três idiomas nacionais: francês, italiano e reto-romano.

Em Genebra em 1993

Os deputados e senadores se mudaram para Genebra em 1993. Localizada no sudoeste do país e fronteiriça com a França, ela é a maior cidade da região francófona da Suíça, tendo também fama mundial por acolher um grande número de organizações internacionais como a sede européia da Organização das Nações Unidas (ONU).

No mundo da política, onde sempre se tentou buscar um equilíbrio cultural deste país, Genebra é um dos símbolos da Suíça de expressão francesa e muito importante pela sua contribuição à Confederação Helvética (a união dos cantões).

Apesar de o francês ser o idioma oficial de apenas 20,4% dos suíços, ela está em segunda posição dentre os quatro idiomas nacionais.

O francês é o veículo transmissor de uma cultura latina distante daquela dos suíços que vivem “do outro lado do Sarine”, o rio que faz fronteira entre essas “duas Suíças” no cantão de Friburgo e que sempre serviu para marcar as diferenças entre ambas as mentalidades.

Em Lugano em 2001

Em 2001, a cidade de Lugano – no cantão do Tessin, ao sul da Suíça e fronteiriço com a Itália – se converteu na sede parlamentar federal de 5 a 23 de março.

A região, bem conhecida por ser o estreito de passagem entre o sul europeu através do túnel do São Gotardo, é o coração da Suíça italófona e também um enclave, reflexo da diversidade cultural helvética.

Junto com o túnel de São Gotardo, aberto em 1882, a imponente cordilheira alpina que separa o Tessin de outros cantões suíço deixou de ser um obstáculo geográfico difícil de transpor.

Hoje em dia, esse importante eixo ferroviário e rodoviário (com um túnel de 16,9 quilômetros de comprimento e considerado, até pouco, como o mais largo do mundo) conecta o norte e o sul da Europa, deixando o Tessin no meio de duas culturas, a suíça e a lombarda (do norte da Itália).

Esta “terceira Suíça” também fala uma língua latina e representa 6,5% da população total helvética. O número também inclui os cerca de 20 mil italofónos que vivem no cantão dos Grisões.

Em 2006 troca de turno para Flims

O quarto idioma suíço é o reto-romano (também conhecido como romanche), falado unicamente no cantão dos Grisões. Ele está localizado ao sudeste suíço, faz fronteira ao norte com o pequeno principado de Liechtenstein e a Áustria, e no sul, com a Itália.

Porém uma característica distinta do reto-romano, em comparação com outros idiomas nacionais, é que ele existe praticamente apenas no cantão dos Grisões. Essa língua minoritária enfrenta a crescente influência do dialeto alemão falado por dois terços da população, além do italiano (10%). Não obstante, os três idiomas são oficiais nos Grisões.

No total, não mais do que 50 mil pessoas falam alguma das cinco variações regionais do reto-romano, disseminadas em diversos pontos do cantão. Frente aos temores que esse idioma derivado do latim pudesse desaparecer, foi criado o “reto-romano grisão”, uma língua estandardizada que não consegue agradar a todos.

E com o objetivo de não esquecer o reto-romano no mapa cultural da Suíça, os deputados e senadores federais decidiram realizar a sessão de outono de 2006 no povoado de Flims (‘Flem’, em reto-romano).

Essa comuna, cujo nome significa “fleuma”, pode ser considerada como a ante-sala do “sursilvan”, um dos cinco tipos de reto-romano e que representam a “Quarta Suíça”, que agora terá oportunidade de se mostrar e falar sobre suas preocupações aos políticos e ministros que a visitam.

Cabe mencionar que, além das “quatro Suíças”, se fala também de uma “quinta” que engloba mais de 600 mil suíços vivendo fora das fronteiras do país. Alguns dos seus representantes também costumam se encontram em algum ponto do país no seu congresso anual.

swissinfo, Patricia Islas Züttel

-Alemão (falado por 63,7% da população total)
-Francês (20,4%)
-Italiano (6,5%)
-Reto-romano (0,5%)

– Sursilvan
– Sutsilvan
– Surmiran
– Puter
– Vallader
– O ‘Rumantsch Grischun’ (reto-romano dos grisões) é o idioma padrão concebido para que a população de reto-romanos tivesse um idioma escrito comum e para preservar a quarta língua nacional suíça, que corre risco de desaparecer.
– A língua romanche, também chamada de reto-romanche, é uma das quatro línguas nacionais da Suíça, conjuntamente com o alemão, italiano e o francês. Trata-se de uma língua neolatina do ramo ocidental, que acredita-se descender do latim falado pelos romanos que ocuparam a área na antigüidade.
– O romanche não é uma língua única, mas um conjunto de dialetos pertencente ao ramo reto-românico das línguas romanas. Suas línguas parentes mais próximas são o ladino, falado na região do Trentino-Alto Ádige e o friulano, falado no Friuli-Venezia Giulia, no norte da Itália.

Habitantes em 2000: 187.058
(2,6% da população suíça)

Idiomas oficiais do cantão:
1.alemão: 127.755 pessoas (68.3%)
2.reto-romano: 27.038 pessoas (14.5%)
3.italiano: 19.106 pessoas (10.2%)

O reto-romano era falado em 1970 por 23,4% da população dos Grisões.
Em 1980: 21,9%
Em 1990: 17,1%
Em 2000: 14,5%

A sessão parlamentar na região lingüística reto-romana de Surselva no cantão dos Grisões foi decidida pelos deputados e senadores suíços em 2004.
O governo federal desembolsou um crédito de 1,7 milhões de francos para a realização da sessão fora do Palácio Federal (a sede do legislativo helvético e de alguns ministérios em Berna).
O Parkhotel Wladhaus, em Flims – reconhecido pelo guia GaultMillau como “Hotel do Ano 2004” acolhe os parlamentares e os sete ministros do governo federal entre 18 de setembro e 6 de outubro.
Além da pauta de votações, os parlamentares querem dedicar atenção especial aos problemas específicos do cantão dos Grisões, dentre elas a cultura e os dialetos do reto-romano.

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